24.08.21
Quando a saudade habita na montanha do mar,
E o amar,
Desce pela escadaria do vento,
Esconde-se numa mão invisível,
Cresce,
Se liberta e,
Morre na maré da insónia.
Se eu pegar nesse cabelo,
Se eu abraçar a sua boca,
O poema se escreve,
Dança,
E se deita na calçada.
Serão todas as palavras que te escrevo
Pedacinhos do poema
Em formato de beijo?
Pergunto-me enquanto olho o vento
Embrulhado nos seus entrelaçados degraus,
Alvenaria de incenso,
Betão que dorme na tua mão;
Oiço.
Habito em ti
Como se fosse uma criança desenhada no sono da escuridão,
Um panfleto de sono
Suspenso nas paredes da madrugada.
Chamo pelo silêncio,
Pego docemente na esferográfica da alegria e,
Escrevo.
Escrevo-te
Todas as palavras da laranja.
Sei que lá fora uma página obscura
De um livro obeso
Se suicida na tarde junto ao mar;
Amar.
Canso-me das ruelas desta cidade
Prateada,
Pincelada de cigarros e,
Marmelada.
O orvalho;
Palavras, sílabas, páginas doentes…
Deste livro sem nome.
Amanhã,
(Quando a saudade habitar na montanha do mar,
E o amar,
Descer pela escadaria do vento,
Esconder-se-á numa mão invisível,
Crescerá,
Se libertará e,
Morrerá na maré da insónia).
Todos somos esqueletos de vento
Na sombra do silêncio.
vi.
vivi.
Ontem, era uma pedra.
Hoje,
Algures,
Sou um pedaço de rosa,
Deitada sobre a mesa-de-cabeceira da insónia.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 24/08/2021