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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


16.05.23

Conversamos então,

Meu amigo,

Conversamos sobre esta vida,

Desta vida,

Meu amigo,

Conversamos sobre os pássaros da minha infância,

Dos barcos da minha infância,

Conversamos então,

Meu amigo,

Conservamos sobre o mar,

O mar da minha infância…

 

Ai meu amigo…

Conservamos então,

Conservamos sobre as flores que se apaixonam por poetas,

Conservamos então,

Meu amigo,

Conversamos sobre os poetas que se apaixonam pelas palavras…

E as palavras que se apaixonam pela amante do poeta,

Mas sabes, meu amigo…

Conversamos então,

Conservamos sobre a amante do poeta que está apaixonada…

Apaixonada pela mão do poeta,

Da mão de onde nascem as palavras,

Do poeta, meu amigo,

Do poeta.

 

Deste teu poeta, meu amigo…

Conversamos então, meu amigo,

Conversamos sobre o meu pai,

Meu amigo,

Conversamos então…

Conversamos sobre o meu pai,

E não há muito a conversar…

Mudou de residência…

Conversamos então, meu amigo,

Conversamos então sobre a tua mãe…

Conversamos então,

E quanto a ela,

Também mudou de residência,

E sabes, meu amigo,

Concluo que ambos mudaram de residência,

E devem estar muito felizes…

 

Eu, meu amigo,

Já quase não vou ao cemitério…

Cansei-me,

E sabes, meu amigo,

Comecei a vender umas merdas que pinto…

Qualquer dia vendo poemas,

Sim, pá,

Poemas,

Não sabes o que são poemas?

Vendo-os a retalho e a cinco suaves prestações,

Fixas,

Sem juros…

Porque meu amigo,

Tu conheces-me…

Não sou desses,

Depois,

Depois das poucas vezes que passo por ti…

Dou-te as boas-horas…

E um dia vamos inventar uma máquina de escrever poemas…

Percebes?

Uma pequena caixinha,

A menina apaixonada insere a moeda na ranhura…

Dá à manivela…

E poemas, muitos poemas…

 

E os poemas, meu amigo,

Os poemas às vezes atiram-nos (aos poetas) para a fogueira…

Sabes, meu amigo,

Em puto, era o gajo mais ranhoso de Luanda,

Mais chato,

Mais…

Mimado?

(Eu sei te lá)

Não o sei…

Mas era amado,

 

Quando era puto,

Obrigava o meu pai… a ir comigo olhar os barcos…

Entrava no cacilheiro em Cais do Sodré,

Despedia-se a tarde de mim…

E acordava em Cacilhas no Quartel errado,

O que se há-de fazer, meu amigo…

Eu e o meu pai sentávamo-nos no chão,

E eu,

Que alegria, meu amigo,

Que alegria estar duas ou três horas a olhar para os barcos…

Tão grandes e tão altos, pai…

 

E sabes, meu amigo,

Quando me trouxeram…

Tive medo,

Chorei muito…

Quando a cidade desparecia de mim…

E tudo se transformou numa só imagem; uma sombra e um punhado de lágrimas…

Mas… não sei, meu amigo,

Não o sei,

Mas tenho saudades das nossas conversas…

E dos desenhos tridimensionais que descrevias no silêncio.

 

 

 

 

 

Alijó, 16/05/2023

Francisco Luís Fontinha


10.05.23

Nos teus olhos,

Meu amor,

Dançam todas as estrelas do Universo,

Nas tuas mãos,

Nas tuas mãos, meu amor,

Nas tuas mãos brincam todas as crianças do planeta Terra…

E nos teus lábios…

Nos teus lábios navegam os mais lindos barcos do Oceano.

 

Cada palavra, um beijo,

Encantada maçã do Éden,

Pequeno silêncio,

E mesmo assim, meu amor,

E mesmo assim as árvores tombam com a solidão,

 

Nos teus olhos,

Meu amor,

Dançam todas as estrelas do Universo,

Dos teus olhos,

Meu amor,

Recebo todas as palavras que te escrevo…

E com elas,

Construo poemas,

Poemas, meu amor…

 

 

 

Alijó, 10/05/2023

Francisco Luís Fontinha


09.05.23

O que resta de mim,

Um amontoado de ossos,

Sem nome,

Pedaços de nada,

O que resta de mim,

Depois de tantas tempestades,

Silêncios…

E mares;

Alguns, navegados.

 

O que resta de mim,

Depois que o silêncio se travestiu de mendigo,

Quando neste pequeno papel,

Escrevo-te aquilo que poderia ser uma carta de despedida…

 

Mas não me despeço

E vou andar por aí…

O que resta deste corpo em constante baloiço,

O que resta de mim,

Depois de o vento levar o meu cabelo,

As mãos com que afago o teu cabelo,

E os meus lábios…

Com que desenho nos teus lábios,

O beijo.

 

O que resta deste miúdo,

Que transportava uns simples calções

E umas sandálias em couro…

 

O que resta de mim,

O que resta de mim…

Um amontoado de ossos,

Sem nome,

Pedaços de nada,

E algumas palavras…

 

O que resta de mim

E da minha terra,

Onde o sangue jorra por entre o capim,

O que resta de mim

E da minha terra,

Quando a chuva cai…

E aquele cheiro inconfundível se ergue até ao céu,

 

O que resta de mim,

Poema do meu peito,

Palavra que respiro…

E em cada final de dia,

Vomito a solidão das noites aprisionado,

O que resta deste louco poeta,

O que resta de mim,

Deste pobre pintor…

O que resta de mim,

Quando Deus…

Não quer que reste nada.

 

 

 

Alijó, 09/05/2023

Francisco Luís Fontinha


06.05.23

A vida legendada

Em cada dia de vida

Depois de um dia, o derradeiro dia de nada

Na vida sofrida

Desta vida vivida,

A vida sem mais nada

Depois de partir a outra vida

Quando esta vida morre na fogueira

Na fogueira da vida

Enquanto esta vida está de partida,

E desta vida legendada

Recebo as palavras da vida

Da vida vivida

Na vida sofrida

Esta vida, quando a vida em mim se suicida.

 

 

 

Alijó, 06/05/2023

Francisco Luís Fontinha


04.05.23

Semeio esta estrela de cor silêncio

Em teus lábios de prazer luar,

Semeio esta estrela que ainda não tive coragem de apelidar,

E não sei se ela vai sobreviver,

Ao vento,

À chuva,

Ao desejo…

Ou ao teu doce olhar.

 

Semeio esta estrela brilhante,

Sem nome…

Nos teus lábios de prazer luar,

E esta estrela me guia

Quando subo a montanha…

Semeio esta estrela de cor silêncio

Na tela da vida,

Quando da vida…

 

Apenas recebo os beijos do mar.

Semeio esta estrela desejada

Nos teus lábios em feitiço,

Quando esta estrela semeada…

É poema, é madrugada,

Semeio esta estrela de cor silêncio

Em teus lábios de prazer luar,

Em prazer teus lábios da noite apaixonada.

 

 

 

Bragança, 04/05/2023

Francisco Luís Fontinha

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