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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


05.01.23

Todo o Universo

Frio

Muito frio e escuro,

 

Deste meu Universo

Que me perco nas avenidas que o luar incendeia

Que me esconde

Quando quero chorar

E me penteia,

 

E tenho vergonha,

 

E tenho medo,

 

E só me apetecia voar…

 

Neste Universo

O Universo que ninguém compreende

Nem entende

Porque esta matéria escura

Fria

Muito fria

E infinita como o infinito amanhecer das tuas mãos

Lhe chamam de Universo

Quando a podiam chamar de solidão,

 

Ou de caixão

Ou de livro de anedotas

Este Universo

Com verso

Sem verso

Com a mão

Cortando-lhe a mão

Enquanto a Terra andas às voltas

Às voltas com o bosão…

Com o bosão de Higgs.

 

 

 

 

Alijó, 05/01/2023

Francisco Luís Fontinha


27.02.22

Silêncio no teu olhar

Menina das flores desenhadas,

Saudades do mar

E das palavras abraçadas.

 

Menina do meu luar,

Descendo a calçada,

Menina dos beijos de beijar,

Enquanto dorme a madrugada.

 

Silêncio no teu olhar

No poema adormecido,

Silêncio de amar,

 

Amar o verso encantado.

Menina do poema perdido,

Perdido no meu corpo envenenado.

 

 

Alijó, 27/02/2022

Francisco Luís Fontinha


16.01.22

Manuseia-se na cidade

Em busca das palavras perdidas,

Ouve a voz da saudade

Nas palavras esquecidas.

 

Caminha até ao mar

Vestido de petroleiro,

Perde-se na cidade amar

Nas mãos de um marinheiro.

 

Nas mãos de uma flor desencantada

Passeia-se destemido,

Corre, corre, corre até à esplanada,

 

Corre fingindo que está vivo.

Mas ele é apenas um cadáver perdido,

Perdido sem motivo.

 

 

Do silêncio, às vezes fingido, regressavam as palavras de amar, outras vezes, pensando que estava perdido, tinha na mão a luz camuflada da paixão.

Um dia, ao final da tarde, resolveu emparedar todas as janelas que davam para o mar, mesmo aquela em que ele tinha a oportunidade de fugir; mas para que queria ele fugir, se todos os dias acordava, se todos os dias vivia, vivia fingindo que acreditava, acreditando no que fazia.

Corria fingindo que estava vivo; ninguém acreditava se ele não o dissesse, pois transportava nas mãos o desejo de voar, sabendo que apenas o poderia fazer quando regressasse a noite.

Manuseava-se na cidade em busca de equações de sono e correias e engrenagens, no fundo, procurava as rodas dentadas da vida.

Acreditava, talvez já não acredite, que a vida é uma enorme roda dentada, e que os seus dentes são a saudade; a saudade de tudo e, de nada.

- Corre até ao mar!

Para quê, perguntava ele; se o mar fica tão longe e, a saudade de nada, dorme na solidão da madrugada. Ouviam-se os gemidos da feiticeira, entre rezas e sermões, desenhava nas estrelas buracos negros e, com alguns iões, sabia que amanhã choveria, pois, os iões estavam excitados e, pobre deles, porque ninguém fazia prever que estes acabariam sós, dentro de quatro paredes.

E eis que ouviu a voz da saudade. E eis que a saudade lhe segredou que regressaria todas as noites, antes de ele adormecer; mas será que ele queria mesmo ouvir a voz da saudade?

- Diz-me tu, rapazinho…

Digo que: “uma correia é um elemento mecânico flexível para transmissão de potência”. E como sempre, nada está perdido. Tudo se apanha quando o homem acorda dentro de quatro lençóis de sono, ao cair a tarde.

Rapazinho era ele, quando o sentaram numa velha esplanada e o mar o levou para um Domingo, num mês de Janeiro, precisamente às sete e trinta da manhã; até hoje, alimenta-se de pequenas aparas, algumas brocas e defeituosos parafusos.

A vida poderia ser um parafuso, alguém se dá ao trabalho de o enroscar até ao apero final: a morte.

E a morte é apenas uma equação que quando igualada a zero, obtêm-se o único resultado possível; a saudade.

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 16/01/2022


15.01.22

Esse corpo embalsamado

Que deslisa na minha mão

É verso cantado

É verso canção.

 

Esse corpo em mim deitado

Flor do campo em construção

É o verso cansado

Cansado de minha mão.

 

Cansado do meu verso cantado

Que sobe a montanha da poesia

Cansado na cama deitado,

 

Deitado e em revolução.

É esse corpo embalsamado que eu sentia

Quando resolvo esta equação.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 15/01/2022


10.01.22

Somos instantes

Palavras esquecidas na lápide da vida,

Somos poema,

Somos canção,

Somos instantes

Até no acto da despedida,

 

Somos destino,

Somos equação,

Somos palavras esquecidas

No uivo do foguetão,

Somos instantes,

Somos palavras perdidas.

 

Somos instantes,

Maré em revolução,

Somos palavra,

Somos equação,

Somos instantes,

Instantes da nação.

 

Somos verso.

Somos instantes na equação da vida.

Somos escada, alvorada,

Somos instantes

Na boca da madrugada;

Somos instantes do pequeno nada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 10/01/2022

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