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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


28.03.15

Este beijo de pérola adormecida


Fingindo habitar numa ilha


Os lábios cessam nos murais do sofrimento


O silêncio agarra-se aos tentáculos do desejo


As imagens da escuridão


Desenhadas nas minhas mãos


O vulcão da insónia


Não regressando mais


Como uma folha


Caída do habitáculo tridimensional


A parede perfeita


Escrita entre o orgasmo inventado


 


E o poema perdido


Esquecido nos teus seios geométricos


Quando da ardósia


Um círculo de nada


Morre


E fala


As palavras amadurecidas


Sem nome


Sem medida


O derramado húmus da tristeza


Quando o sémen de prata


Invade a melancolia


 


Nasce o dia


Cresce nas tuas coxas de silício


A penumbra pintura do adeus


Enigmático


Dizem elas quando lêem na minha algibeira sem profissão


O significado do amor


Apaixonado


Não


A bala de sabão contra a minha camisola


A gripe


O profanar


Das flores de papel


 


Que o texto ilumina


Ele é louco


(Dizem elas quando lêem na minha algibeira sem profissão)


Tristes


Meu amor


As canções abraçado a ti


Os poemas escritos nos lençóis humedecidos


A chuva alimenta o teu cadáver


O teu corpo escondido no meu coração


Os teus uivos


As tuas raras mãos


Abraçando-me


 


Alimentando-me


Como Deus


Ao deitar


Meu amor


Sem palavras


Sem livros


Sabes que morro


Sabes que grito


A viagem


O não regressar aos teus ombros


Não amar-te


Quando te amo


 


O medo


Da fala


Dos cigarros.


A alma


Minha


Penhorada por um quarto de pensão


A queca química


Entre dois ponteiros do relógio do avô


Tão bom


Meu amor


Tão bom


Meu amor.


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 29 de Março de 2015

...


21.08.13




FRANCISCO LUÍS FONTINHA (Participa no II Volume de PALAVRAS DE CRISTAL)

ALIJÓ

Nasceu em Angola, Luanda, a 23 de Janeiro de 1966. Em 1971 vem para Portugal com os pais e fixam-se em Alijó, Vila Real, onde faz os estudos, primários, secundários, e mais tarde, já como desenhador, frequenta o curso de Engenharia Mecânica, em Bragança, que por dificuldades económicas, não concluiu.
Apaixonado por livros, gosta de ler, escrever, desenhar, e colecciona cachimbos. Escreve regularmente no seu blogue Cachimbo de Água (http://cachimbodeagua.blogs.sapo.ao/). Tem um texto de ficção escolhido pelo escritor José Luís Peixoto, publicado na rubrica Conte Connosco 2 – pág. 72/73, livro apenas digital. Ultimamente tem um poema publicado na pág. 465/466 na “Antologia de Poesia Contemporânea Vol. IV, Entre o Sono e o Sonho”, Chiado Editora, participou nas colectânea de poesia “Palavras de cristal I” e “Aqui há Poetas – Poesia sem gavetas parte II”.



11.04.12


15.07.11

O livro que dorme no silêncio da madrugada


Na mesa-de-cabeceira os óculos ensonados


Na cama a minha alma cansada


Dentro do livro textos embriagados,


 


O álcool das palavras abandonadas


A cabeça que estonteia


Das páginas amarrotadas


O meu corpo que se afunda na areia,


 


E vem o mar


Com a espuma do amanhecer…


Ajudem-me que não sei nadar


E não quero morrer.


12.07.11

Feldspato estrôncio,


Desempregado, e residente na rua cúbica de faces centradas, número trinta e oito, Lisboa, funde-se a setecentos e setenta e sete graus centígrados e ebuliu para a atmosfera a mil trezentos e oitenta e dois graus centígrados, perdido na obesidade da manhã, na algibeira os oitenta e sete vírgula sessenta e dois de peso atómico, Feldspato estrôncio, doutorado em casas de pasto e pós-doutoramento na noite prostituta de Cais de Sodré, e entre uma sandes e um cacilheiro, E para que fumas essas merdas?, a mãe de terço na mão a pedir proteção, E para que fumo estas merdas?, para emagrecer e esconder-me na sombra das garrafas de vodka, respondia-lhe ele, e eu subscrevo as palavras do senhor que falou antes de mim, para emagrecer e deixar de ser visto, levantar entre as botas semeadas na parada e poisar no tejo, não, não me enganei, o douro longe, muito longe, e poisar no tejo à espera do petroleiro cinzento e de asas cor-de-rosa, o meu nome gravado na quilha em letras bordadas com cerejas, e eu penso, e ele escreve, estamos os dois quilhados meu amigo, estrôncio para as amigas da noite, e para a restante população, O senhor professor doutor feldspato estrôncio está?, perguntava a menina das pizas, um momento que eu vou ver, sem hesitar a empregada de limpeza, e peço muita desculpa, mas o senhor professor doutor sentado na sanita a enviar telegramas para o governo, Como?, perguntava a mãe, é isso que acabou de ouvir, vou para angola, silabava o professor doutor, menos, menos, só estrôncio, silabava estrôncio para o esqueleto encardido da mãe, Que faço agora com a piza?, do primeiro andar para a rua a empregada de limpeza, Come-a!, o professor doutor feldspato estrôncio esquecido na sanita, Estás a falar a sério, meu filho, isso de ires para angola!, a minha mãe em lágrimas, A mãe não foi para angola?, e fui, O pai não foi para angola?, e foi, E eu, eu não fui construído em angola, e foste, lança-a pela janela, Não percebi Professor?, e ele tinha de explicar à empregada de limpeza como se lançava uma piza pela janela, olha minha filha, olha bem, sim professor estou olhar, abres silenciosamente a janela, E porquê?, corres o cortinado, Todo?, abres a caixa e retiras a piza com jeitinho, percebes, mais ou menos, Mais ou menos?, desculpe professor, não sei se é preciso luvas, Luvas para quê?, pegas na piza e em passos lentos aproximas-te da janela, E depois professor?, sei lá depois, olha para mim, sim professor, imagina a miúda que espetava pregos nas oliveiras a atirar pedras às cabras, e assim farei professor, assim farei, resmungava a empregada de limpeza, E para que fumavas aquelas merdas?, para emagrecer e esconder-me dentro de uma garrafa de vodka, entupir a sanita turca com os pedacinhos de vómito do jantar, muita pouca coisa, dois textos e três poemas, e se for capaz, diz estrôncio, e se for capaz de aterrar no beliche do rés-do-chão já me dou por feliz, isto é, sim estrôncio diz, isto é se não derrapar no corredor fino e comprido da calçada da ajuda, claro que não respondo-lhe eu, meia dúzia de metros e quatro ou cinco ratazanas, Só?, sim estrôncio, só.

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