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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


30.03.15

Pareço um sedimento


Quando acordam as abelhas


E as migalhas de gelo


Que não pareço


Sonham nas árvores do teu jardim


Sou o vagabundo transatlântico


Desgovernado


Como sempre fui


Desde que nasci


Quando abriram a janela do perfume


E lá estavam elas


Todas preenchidas


 


Empilhadas


As nuvens de um Domingo


Sem endereço


Ou… ou identidade


Sinto no teu olhar o luar de Janeiro


Porque nasci em Janeiro


Era Verão


O calor entranhava-se na minha mão


Ouvia o sorriso dos parvalhões


À minha volta


Tão pequenino


Tão…


 


(o caralho que vos foda, pensava eu)


Quem são estes gajos


E estas gajas…


Ninguém me respondeu


Ninguém


Hoje são apenas palavras


Mortas


Numa cidade


Morta


Como as ditas migalhas de gelo


Cambaleando num calendário enforcado numa parede


Havia riscos


 


Letras indecifráveis


Papéis velhos


Não amigáveis


A guerra


O silêncio das balas


Cruzando o berçário


Eu era um ranhoso


Rabugento


Sempre aos berros


E mal abri os olhos


Barcos


O meu primeiro sonho


 


Fugi


Mudei de nome


Hoje não sei onde nasci


E se essa terra ainda existe


Ou… ou é apenas uma imagem sem coração


O dia deitava-se sobre a pedra fria da morgue


Eu percebia que lá fora


Alguém


Me esperava


Para quê?


Se eu nunca quis ninguém…


Ao meu lado para me esperar


 


Eu só queria partir


E voar…


Pegar numa faca


E cortar todos os segredos


E todas as sombras


De um quintal


Com mangueiras


E um papagaio em papel


Desenhos


Desenhos no meu peito


Que hoje escorregam quando me levanto


E se transformam em lixo…


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Segunda-feira, 30 de Março de 2015


09.11.14

A morte em seu regressar


palmilhando aventuras


despedindo a dor e o sofrimento


a morte em seu regressar


das catacumbas da insónia


há nas tuas pálpebras de amêndoa


um poema embebido em lágrimas


há nos teus ossos a sinfonia da partida


a morte... a morte sem melodia


perdes-te na cidade


andas descalço até tombares no chão


como um soldado... como um canhão,


 


Não gritas


não inventas desculpas para a tua viagem


nada levas


tudo em ti pertence à poeira


e ao cansaço de viver


a morte em seu regressar


entre nocturnos pássaros


e desnudas nuvens de incenso


a morte... a morte da palavra


quando todo o papel arde na tua mão...


e tu... e tu sem nada dizeres


impávido... olhas-te no espelho... e constróis sorrisos de vidro!


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 9 de Novembro de 2014


27.07.13



foto de: A&M ART and Photos


 


Deixemos de ouvir os comboios das tardes de verão, os apitos uivos transformaram-se em palavras tontas, vagabundas ruas com sonoralidade abstracta, olhos azuis os da noite quando vinham as gaivotas às mãos das desnorteadas horas sem regresso com sabor a poesia, e sorrisos lábios poisados sobre a vadia areia das cavernas flores que a madrugada alimentava, e depois, vomitava como vapor da velha máquina ferrugenta fingindo engolir o negro carvão como seara de trigo se tratasse..., ouvíamos, não, apenas eu ouvia os ditongos, não, apenas eu percebia as velhas sílabas em danças de salão, ouvíamos música, não, eu ouvia música, eu


(rua dos segredos, número cinco, rés-do-chão, Lisboa)


Eu fartei-me dos comboios, das máquinas enferrujadas e dos silêncios das tuas velhas madeixas, digamos que... cansei-me de ti, das tuas horrendas letras travestidas em palavras, palavras, palavras, velhas, sempre velhas, comboios... barcaças, e migalhas sobre a mesa da cozinha,


Fumegava em soluços a cansada lareira,


(rua dos segredos, número cinco, rés-do-chão, Lisboa)


Digamos que não passas de um esqueleto de arame dobrado sobre a cidade, prendias-te a um edifício granítico, de um lado, e do outro, percebia-se pela marca do teu pulso que estavas suspensa a uma ratoeira invisível com janelas circulares, o teu corpo parecia um petroleiro fundeado dentro do Tejo junto à dentadura em Marfim de Almada, do outro lados, eu,


Eu percebia que nunca mais comboios, eu percebia que nunca mais ruas curvilíneas, de sentido único, sem banco em madeira, sem flores, sem jardins..., sem meninos e meninas a brincarem aos comboios eléctricos, eu percebia que nunca mais os soluços que fumegavam da cansada lareira em triste insónia, e que a paixão e o amor...


Eu


Digamos que não passas de um esqueleto de arame dobrado sobre a cidade, uma esfarrapada bandeira que o mastro de um veleiro transporta, gaivotas, elas, também esquecidas dos apitos uivos, elas também, as madames, vestidas com folhas de jornal, e passeando-se nos carris envenenados da cidade canibal, e sabíamos que na rua dos segredos, número cinco, rés-do-chão, Lisboa, havia tambores em desvairados transparentes rufos, eu não te merecia, só, eu, apenas eu, não eu, apenas eu,


Eu?


Só porque o quero...


Deixemos de ouvir os comboios das tardes de verão, os apitos uivos transformaram-se em palavras tontas, vagabundas ruas com sonoralidade abstracta, olhos azuis os da noite quando vinham as gaivotas às mãos das desnorteadas horas sem regresso com sabor a poesia, a fome em palavras atravessava-me e apanhava-me sempre quando eu


Eu?


Quando eu sentado numa esplanada, ouvia os apitos uivos das máquinas ferrugentas, os barcos ao aço carbono, como trepadeiras subindo pelas escadas do sótão até chegarem ao céu, uivavas, gemias, parecias a locomotiva vaidosa que brincava entre o trigo e o sorriso, eu, lindo, queixava-me que a tua sombra era uma estátua de pedra, uma rocha colorida com olhos de manteiga, eu...


Eu? E que a paixão e o amor...


Só porque o quero...


… levemente distante das chuvas fumegantes das esplanadas com cadeiras plastificadas, os livros, ardiam na lareira que há pouco te falei


Lembras-te?


Eu?


Deixei de os amar,


Deixemos de perceber porque nasciam sorrisos quando deviam crescer lágrimas, e que a lareira só existia porque ainda não tinha regressado de ontem a Primavera de hoje, e o vento trazia-nos as poucas migalhas que sobejaram das sangrentas viagens ao inferno dos peixes; os teus peixes e as tuas algas.


 


(não revisto)


@Francisco Luís Fontinha – Alijó



03.06.13



foto: A&M ART and Photos


 


Os desencontros dos navegantes sorrisos


da sua boca o desassossego em preguiça


os meus teus lábios voando sobre as calçadas do silêncio


entre medos


degredos


teus luxos segredos


quando um cortinado se esbanja à janela da solidão


e a tempestade avança contra nós e nos tomba no chão,


 


Os espelhos dos teus seios como coloridas manhãs de Primavera


havíamos plantado árvores de brincar


tínhamos bancos de sentar


como inventada madeira


saltitando nervos dos horóscopos aquários


eu vagabundo


eu imundo... sorrindo cansaços marasmáticos em saliva amanhecer


e oiço a tua sóbria voz no meu peito de xisto,


 


Tinhas na boca a minha boca em papel cremado


sentia a tua língua em poesia escrevendo versos no meu pescoço...


pegava-te na mão dilacerada e esperava pelas tuas doçuras coxas


inventávamos areia sobre os lençóis de linho


e desciam as estrelas sobre os nossos corpos em delírio


coisas em coisas como tinta numa tela encarcerada dentro da prisão dos húmidos desejos


e havíamos esgotado todos os livros e marés de ninguém


e tínhamos um cubículo de fome só nosso... como flores esquecidas na jarra sobre a mesa-de-cabeceira....


 


(não revisto)


@Francisco Luís Fontinha



13.10.12

O mar a enrolar sorrisos


nas mortalhas dos lábios adormecidos


cansados,


 


às vezes


esquecidos,


 


e nos silêncios perdidos


caminha a noite sem destino


porque nas mãos de um menino


vive e cresce a madrugada,


 


cansadas


às vezes,


 


as equações diferenciais


suspensas no desejo das matrizes compostas


que o dia constrói


e a tarde alimenta,


 


o mar


e os cigarros em migalhas


antes de fumados,


 


o mar a enrolar sorrisos


nas mortalhas dos lábios adormecidos


cansados,


 


cansados


às vezes,


às vezes cansadas,


 


as vozes dormentes da Primavera.


 


(poema não revisto)

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