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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


15.01.23

Do lápis negro

Carvão da ínfima linha do horizonte

Manhã que se suicida nas umbreiras do mar

Pedaço de rio

Quando na saudade

Um pequeno livro

Dentro do teu livro

Às palavras que grito

Quando o sono de inveja

Poisa no teu corpo.

 

Somo duas

Éramos três flores com espinhos

Quando a alma diz ao Diabo

Que do dia nada de bom

Porque só a noite te envenena

Na noite que te lamenta.

 

Verga-te

Deita-te dentro do sono

Quando uma laranja

Fica esquecida na tua mesinha-de-cabeceira.

 

O despertador acorda-te

Tu ergues-te

Tu vives

Enquanto dentro de ti

Em mim

Que sou eu

Morre.

 

Um docinho.

 

Poiso a cabeça

Sobre o teu peito

Teu seio direito

Beijo-o

Beijo-o porque está pertinho da janela

Da janela com vista para o Oceano

Abro-a

Beijo-o

Pego no pôr-do-sol

Ato-o a todos os barcos

Beijo-o

Puxo-os e acomodo-os no meu quarto

Volto ao teu seio direito

Beijo-o

Puxo-os

Eles dormem

Elas dormem

Morrem

Fumam

Deitam-se nas tuas coxas de incenso

E também eles

E também elas

Morrem.

 

Com o lápis escrevo

Apagas com a borracha

O que escrevo

Dos meus beijos

Às minhas mãos.

 

Grito.

Sinto-o dentro deste silêncio

Quando dentro das sanzalas

Uma criança

Pede pão

E um não

Pão

Quando o tempo

Se mata aos teus olhos

Dentro dos olhos

O querido Deus da ausência.

 

Fecho a janela

Deito a cabeça

Beijo o teu seio esquerdo

Deixo em poiso o teu seio direito…

E vou adormecer todos estes barcos.

 

 

 

 

 

Alijó, 15/01/2023

Francisco Luís Fontinha


06.04.19

Vou assassinar todos os meus livros,


Dar-me como culpado,


E durante a noite, enquanto as estrelas dormem, ser incinerado.


Vou assassinar o teu corpo, apenas o teu corpo,


E fugir para a Lua,


Vou beijar os teus lábios,


Antes de assassinar todos os meus livros,


Dar-me como culpado,


E deitar-me nas tuas cinzas,


Eu, cremado,


Como os meus livros,


Como o meu corpo…


Incinerado.


Vou queimar os teus seios,


Antes de escrever neles, amo-te,


Vou assassinar todos os meus livros,


Quando começar a madrugada.


Quando eu morrer,


E, os meus livros,


E, o teu corpo,


Vou,


Talvez,


Ser feliz.


Como os meus livros,


Como o teu corpo,


Como o meu corpo.


Vou assassinar todos os meus livros,


Dar-me como culpado,


E durante a noite, enquanto as estrelas dormem, ser incinerado…


Como a vida é complexa…


 


Como o teu corpo, suspenso no teu olhar.


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


06/04/2019


05.09.15

desenho_05_09_2015.jpg


(desenho de Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)


 


Mastigava as palavras nocturnas do sono,


Enquanto do outro lado da rua,


Alguém,


Alguém gemia,


Uma rosa nua?


Uma pétala de rosa tua?


Alguém,


Enquanto eu dormia,


Alimentava-se dos meus sonhos entre círculos e triângulos rectângulos,


Acariciava os catetos,


Beijava a hipotenusa,


E enquanto eu dormia,


Alguém,


Alguém vestido de musa…


Nua a rosa,


Pétala a tua,


Mastigava as palavras nocturnas do sono,


Desenhava na ardósia negra do sentido proibido


Os teus seios mendigando o meu peito,


Nunca,


Nunca tive jeito,


Vontade…


E alguém,


Sem eu saber,


Entranhava-se nos meus tristes ossos,


Alguém,


Alguém gemia,


Do outro lado da rua,


E eu,


E eu sentia,


A lua,


O mar agachado nas tuas coxas silenciadas pela amargura,


Tanto tempo perdido,


Em pequeníssimas folhas de papel quadriculado,


Chorava e gemia,


Do outro lado da rua…


O poeta suicidado,


Uma rosa nua?


Uma pétala de rosa tua?


Alguém,


Enquanto eu dormia,


Roubava-me a tela da agonia…


Acorrentava-me às paredes pinceladas de bolor…


Colocava sobre as minhas pálpebras um cubo de gelo,


No meu cabelo,


Uma rosa,


Tua,


Uma tua rosa nua,


Sem sentido,


Os livros que li,


As palavras que escrevo e escrevi,


Não,


Não eram para ti,


Porque alguém,


Não sei quem,


Injectava-me nas veias finas lâminas de saudade,


Cerrava os olhos, fingia estar vivo quando os barcos da alvorada subiam as escadas da sufocada pensão,


E eu,


E alguém…


Gritava,


Chorava,


Sem saber a razão,


Do poeta suicidado


Subir e descer as escadas da pensão,


Quando a pensão estava deserta,


Morta,


Sem janelas,


Sem cortinados nas janelas…


E todas as portas,


Também elas,


Todas,


Todas mortas,


E alguém,


Não sei quem,


Inventava fotografias para eu folhear…


Enquanto a pensão,


Enquanto a pensão se afundava no meio da rua,


Mesmo em frente ao meu cadáver descarnado pelo tempo,


Havia vento,


Havia lágrimas nos lábios do vento,


E alguém,


Sem saber porquê…


Ou razão…


Deixava o meu nome nas ruinas de uma pensão.


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sábado, 5 de Setembro de 2015


29.08.15

desenho_30_08_2015.jpg


(desenho Francisco Luís Fontinha – Agosto/2015)


 


Deixou de habitar este corpo a paixão diabólica da alma sem destino,


Deixaram de escrever as palavras do vento estas mãos esfarrapadas,


Longínquas do olhar da madrugada,


O medo alicerça-se ao peito, as facas do silêncio grunham como as serpentes envenenadas pela noite,


O tédio quando esqueço a solidão e construo círculos de luz nos teus seios…


O teu corpo desabitado, encurralado nas cordas de nylon dos Oceanos mendigados,


E não consigo perceber o amor das flores desenhadas nos teus lábios perfumados,


Como nunca percebi o desejo em mim do estranho luar…


E este mar, meu amor,


Crucificado nas espingardas do coração abandonado,


Semeado nas searas do cansaço…


É triste, meu amor…


Deixar de habitar este corpo a paixão diabólica da alma sem destino,


É triste, meu amor…


Cair sobre mim o tecto do sofrimento junto ao Tejo,


E os Cacilheiros na minha boca… sufocando-me com o relógio enforcado nas pontes do Cacimbo fugindo do pôr-do-sol…


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sábado, 29 de Agosto de 2015


 


16.03.15

A melodia nocturna da aventura


os esteios do silêncio abraçados ao cansaço


desespero


e espero


que acorde o dia


sem amargura


sem... sem cortinados de penumbra


baloiçando no pescoço da saudade


os cigarros entre as estrelas


os dedos mergulhados nos teus seios


acesos


em espuma


palavras


números


portas


e ruas


despidas


nuas


e sinto do outro lado do rio


os guindastes da solidão


voando como gaivotas


livres


como os barcos


sem marinheiros


sem...


acesos


os ossos em papel


das migalhas invisíveis do voo


o infinito


destino


das mãos


quando alguém desiste do luar


e sem... acesos


os ossos


o infinito destino


das mãos no leito do sono...


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Segunda-feira, 16 de Março de 2015

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