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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


28.09.23

Despimo-nos em frente ao espelho da saudade

Erguemos as mãos às flores daquele jardim

Que transpira de alegria

Despimo-nos em frente ao mar

E não tenhamos medo da neblina

Que nos visita pela manhã

 

Despimo-nos em frente ao espelho da saudade

Tarde árdua em pequenas marés de engodo

Que morre pela boca

Que grita e se revolta

Despimo-nos então…

Contra a noite que não volta

 

 

28/09/2023


15.09.23

Olho-te.

Poiso a minha mão no teu corpo

Como se fosse o dia a chamar a noite,

Lhe desse um beijo…

E partisse para o outro lado do rio.

 

Olho-te

Dentro deste infinito labirinto de saudade,

Dentro deste círculo de tristeza,

Olho-te sabendo que não me ouves,

E que estás longe,

E que voas…

Sobre o pinhal de Carvalhais.

 

Olho-te.

Poiso a minha mão no teu olhar,

Ao de leve,

Como se eu fosse um pedacinho de luz,

Olho-te

E perco-me na tua sombra estonteante,

Debaixo dos teus gemidos

Que se erguiam na madrugada…

E não terminavam nunca.

 

Olho-te

E sei que me olhas,

E sei que vês e sentes o meu rosto…

Impregnado nesta tela sem nome,

Dentro deste pincelado desejo…

De voltar a ver-te,

Tocar-te,

Sem que percebesses que te via,

Sem que percebesses que te tocava…

E olhava-te,

 

No eterno pigmento lunar

Das mandíbulas entre quatro parêntesis rectos,

Uma equação

E um punhado de nada,

 

(Olho-te.

Poiso a minha mão no teu corpo

Como se fosse o dia a chamar a noite,

Lhe desse um beijo…

E partisse para o outro lado do rio)

 

Olho-te

Fingindo que estou parente a mais bela lâmina de medo,

Quando percebo que lá fora, distante de mim,

Voas como um corvo esfomeado,

À procura do meu último poema.

 

 

 

Luís

15/09/2023


23.07.23

Olho o teu retracto

E olha…

Quem diria

Estás com muito bom aspecto

E até pare que os anos não passaram por ti.

 

Olho o teu retracto.

Escondo no teu retracto, o meu retracto

Um qualquer

Pode ser no Mussulo

Pode ser aqui

Ou ali.

 

Olho o teu retracto

E olha…

Quem diria

Parece que os anos se esquecem de ti

E se lembram de mim.

 

Olho o teu retracto

E confesso-te

Que começo a odiar o teu retracto

E todos os meus retractos.

 

Olho o teu retracto

E não vejo nada

Nem um sorriso disfarçado

Tão pouco

Os segredos da madrugada.

 

Olho o teu retracto

E vejo o meu rosto abraçado a um baloiço

E enquanto me transmites a força necessária para eu voar…

Eu olho o teu retracto

E no teu retracto

Escuto os silêncios do mar.

 

 

 

23/07/2023

Luís


19.07.23

Somos o quê, pai,

Morremos de quê, pai,

Somos o que nos vestem,

E do pouco que sobra, o quê, pai,

Quando um machimbombo de esperança brincava no teu olhar,

E de quê,

Somos o quê, pai,

Somos a Lentidão de Kundera?

Ou a piquena dos chocolates…

Do poema A Tabacaria do senhor Álvaro de Campos,

E de quê, pai,

Os chocolates.

 

No entanto,

Eu,

Tu,

Ele,

Ela,

Nós…

Todos mentíamos,

Tu mentias-me,

Eu mentia-te,

Ela desconfiava,

Menos uma mentira,

 

E o quê, pai,

O que somos, pai,

Somos o pão,

Somos o poema,

Somos a poesia,

E, no entanto,

Eu mentia-te…

E tu tinhas a perfeita consciência que estavas a ser aldrabado,

O teu filho, malabarista, artista e poeta…

Inventava estórias no teu sorriso,

Falso sorriso,

E depois,

E de quê, pai,

E esqueci-me do perfume das tuas acácias…

 

Somos o quê, pai,

Somos átomos que pensam,

Átomos que amam,

Que morrem…

E nascem,

E de quê, pai, o que somos, pai,

Depois, durante a noite, desenhava o teu cabelo, com o meu olhar…

E era lindo…!

Eu ficava esquecido numa cadeira fantasma,

Mais cansado do que tu, pois tu estavas com uma grande pedrada de morfina, e feliz,

Tu falavas-me de pássaros,

Eu, inventava pássaros,

Perguntavas-me se era dia,

Noite…

Depois arrependias-te…

Deixa lá, tanto faz… não tenho pressa,

 

Nem eu, o quê, tinha pressa,

De quê, pai, o quê…

Que somos.

 

 

19/07/2023


08.07.23

20230708_212216.jpg

Comeram-no

Comeram-no numa noite de Verão

Junto ao apeadeiro da saudade,

Comeram-no…

Sem que ele tivesse dado conta de tal facto…

Nem um ai, deu,

Finou-se,

Acreditando que o uivar dos Lobos…

É sinal de chuva,

De carne fresca,

E mesmo assim, comeram-no,

Enquanto ele pensava…

Enquanto ele acreditava que pensava…

Como permitiria ter sido comido…,

Por um lobo em cio,

Enquanto dos ossos,

Acordavam as palavras peregrinas…

Que de joelhos…

Desenhava círculos de luz…

Com uma janelinha para o rio.

 

Comeram-no

Da carne ao cio,

Quando um dia,

Em tom de brincadeira…

Atou uma corda ao pescoço…

E lançou-se da Torre Eiffel,

 

E ninguém deu por nada,

Os anos passaram,

E já ninguém se lembrava…

Nem do lobo,

Nem do corpo que o lobo comeu,

 

E mesmo assim,

Comeram-no,

Comeram-no saciando a fome vaginal

Na construção de um poema vagabundo,

Um pouco triste, até,

E aquele homem que foi comido,

Comido pelo lobo mau…

É hoje um grande homem,

Ne negócios,

E artes circenses…

 

Estou tão feliz, hoje,

Se tivesse aqui a Dona Arminda, juro,

Juro que fumávamos um charro…

E conversávamos,

Tantas saudades de conversar…

Sei lá, mãe,

Sei lá…

De que podíamos nós conversar…

Olha, como está o tempo por aí…?

Aqui está calor, mãe,

Aqui também, meu querido.

 

Comeram-no,

Talvez numa noite de vendas a retalho,

Um subia a escada,

O outro, o outro acreditava…

E mesmo assim comeram-no

Numa praia junto ao mar,

Numa praia sem nome.

 

 

 

08/07/2023

Francisco

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