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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


31.03.15

As línguas abraçadas no céu-da-boca


A chuva argamassada contra o silêncio nocturno


Em redor de dois corpos invisíveis


O prazer nas palavras


Saltitam enquanto folheamos um livro sofrido


Em lágrimas


Da morte inanimada


O Sol embrulhado dentro de quatro paredes


O tecto desce


Desce…


E tomba no pavimento lamacento de um dos corpos


O fim da tarde evapora-se


Nos lábios de um cigarro


Negro


Noite


Sombrio


Como os pássaros da minha aldeia


Subo aos teus cabelos


E sento-me nas avenidas envernizadas da madrugada


A cidade cresce


Os automóveis enfurecidos


Em raiva


Como os cães selvagens


Montanha abaixo


A ribeira espera-os


Como visitantes insignificantes


O sexo suspenso nos cortinados do desejo


Os gemidos


E as sílabas da saudade


Há no teu corpo


Vapor de água


E cristais de prata


A imagem das tuas coxas em finas lâminas de desassossego


O mar


O mar dentro de ti


Construindo marés de esferovite


E alguns sorrisos apaixonados pelo sono


Perdi-me neste tempo infinito


Quando ainda existiam equações de areia


No quadriculado olhar


Hoje


Sou uma caneta avariada


Que deixou de escrever palavras


Que…


Que tem uma lápide sobre a secretária


E uma fotografia


Húmidas vogais


Agarradas às escadas da paixão


Sem saberem que a morte


Não é a morte


Que o medo


Não é… o medo


Voar


Sofrer enquanto caminho sobre um arame


(sempre quis ser trapezista)


Artista de circo


Palhaço


Andante…


Sem nome


Quando acordo e sinto que estou vivo


A praia parece a eira de Carvalhais


Graníticas espigas de cio


Nas frestas do sonho


Oiço o sino da Igreja


Quase a desfalecer


Tensão alta


(dizem)


E nos teus cabelos


As luas de Saturno


Envergonhadas


E Titã…


Entre beijos e poeira…


  


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Terça-feira, 31 de Março de 2015


27.01.14



foto de: A&M ART and Photos


 


Saturno nas tuas trémulas mãos de sede,


o infinito que habita nos teus olhos despede-se da maldição madrugada,


há um livro em desgraça,


uma fogueira inventada que consome a tua fúria no centro da praça,


há uma calçada com braços e mais nada,


e... e Saturno que teima em viver dentro de ti,


assim,


como vivem as plantas nos charcos das sanzalas de prata...


como tu desenhando cigarros de lata nos vidros da janela azul,


Saturno sempre nos teus lábios,


comendo Primaveras,


aos Sábados... em tristes sábios,


 


Saturno saturado da cidade,


da chuva,


do vento que teima em desabitar os teus cabelos das nuvens cinzentas...


Saturno é como as árvores que cobrem as tuas pálpebras de solidão,


e sempre que uma gaivota grita o teu nome em vão...


Saturno não se cala,


se revolta,


se revolta como os homens de uma canção,


Saturno nas tuas trémulas mãos de sede,


correndo cinzeiros,


escrevendo palavras no corredor da morte...


Saturno... Saturno sem sorte... sorte que nunca teve porque de feiticeiro nasceu o texto com beijos de avião...


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Segunda-feira, 27 de Janeiro de 2014


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