29.01.23
Um pedaço de mim,
É o vento que vagueia sobre o mar,
Outro pedacinho,
Muito mais pequeno de que o pedaço que vagueia sobre o mar,
Que também me pertence,
Dorme nos lábios do luar,
Numa das mãos, na minha mão esquerda,
Brinca uma criança mimada…
Na minha outra mão,
Cresce uma flor,
Em papel crepe,
E se eu pedir à madrugada
As palavras semeadas,
A madrugada não me dará nada,
Pelo contrário,
A madrugada dar-me-á as palavras envenenadas,
Que da minha mão esquerda,
A criança mimada,
Lança ao meu olhar,
Um pedaço de mim,
É xisto que dança nos socalcos do Douro adormecido,
Um pedaço,
Um pedaço de mim…
Que eu transportava sobre o meu corpo dorido,
Agora, em todos os meus pedacinhos,
Há um rio rectilíneo,
Sem curvas,
Sem medo…
O medo do destino,
De ser o eterno menino.
Alijó, 29/01/2023
Francisco Luís Fontinha