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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


14.01.23

No silêncio da noite

Abraço-me às cinzas do teu olhar

Derradeiro desejo que toca a tua pele incandescente

Que no lençol do prazer

Deixa ficar as palavras murmuradas,

 

Na lareira

Os meus ossos desistem da madrugada

E a terra arável das minhas mãos

Evapora-se nos teus seios,

 

Como são transparentes as tuas mãos que me tocam

Num infinito gesto de protecção

Como são belos os teus olhos que me excitam

E desenham em mim as estrelas sem nome

E me oferecem os gemidos nocturnos da paixão,

 

Do silêncio da tua pele

Pedacinhos de mar escondem-se nas tuas coxas de insónia

E da lareira onde os meus ossos desistem da madrugada

Vem a mim o teu orgasmo disfarçado de sono,

E a manhã acorda numa fotografia

E traz a prisão das Pirâmides

E os dedos que te excitam nas noites envergonhadas…

 

 

 

 

Alijó, 14/01/2023

Francisco Luís Fontinha


13.01.23

Uma certa noite, Deus percebeu que não tinha mais nada para fazer, meteu as mãos na algibeira e pensou,

Que faço agora?

Pensou, pensou, pensou…

E de tanto pensar, resolveu criar o homem (Adão).

Não contente com a sua criação, começou a caminhar em pequenos círculos às voltas de uma fogueira e pensou…

Isto não me agrada nada, mesmo nada.

Até que teve a brilhante ideia de criar a mulher (Eva), e depois a vagina.

Adão olha a mulher, olha a vagina, ficou um pouco acabrunhado e em cortinados de timidez porque era a primeira vez que via algo de tão belo, e pergunta a Deus,

Meu Deus, elas são tão belas.

Deus olho-o e responde-lhe

Sim, sim, elas são muito belas, mas agora tens de trabalhar, vês aquela pedra, ao lado da nespereira que mesmo à pouco criei?

Sim, meu Deus, vejo.

Vais até lá, sentas-te sobre a pedra e com a maquineta das fotocópias vais ficar a noite toda a fotocopiar a mulher (Eva) e a vagina.

Adão dirigiu-se até ao pedregulho, sentou-se, puxou de um cigarro, ligou à corrente eléctrica a maquineta das fotocópias e vai nisso,

Toca a fotocopiar vaginas.

Concluindo ao romper da manhã que todas as vaginas eram iguais, e que a única diferença estava nas vaginas cerebrais, estas sim, diferentes de corpo para corpo, subiu o talude e deitou-se junto a Eva.

(é sempre bom relembrar que o autor deste texto adora a mulher, a vagina, mas entre as duas vaginas, às vezes, a vagina cerebral é aquela que nos dá mais prazer)

E Deus fez o homem e a mulher com o intuito de estes procriarem e que a espécie humana continuasse por muitos milhões de anos, mas Deus esqueceu-se de explicar ao nosso querido Adão e à nossa querida Eva o que era o prazer, e assim, ambos, aos poucos, enquanto a noite se masturbava nos lábios da lua, foram descobrindo o significado do prazer.

Adão, olha para as mãos, e com elas começa a acariciar todo o corpo de Eva, e esta em pedacinhos de gemido, de olhos cerrados, contorcia-se parecendo um arbusto quando o vento incide e em pequenos círculos, este, inicia uma dança geométrica e infinita como

se houvesse uma pauta, pauta essa onde constavam todas as notas do prazer.

Depois cobriu-a de beijos, beijando cada pedacinho do corpo de Eva.

Adão sentia-se nas nuvens,

Deus já dormia, acordou com todos aqueles gemidos, sentou-se na cama e tapou os ouvidos com as mãos,

Adão sorria-lhe, Eva desenhava um pequeno sorriso; o resultado da resolução da equação do prazer; o primeiro orgasmo.

(quer o autor salientar que sendo a mulher e a vagina a maior criação de Deus, porque todo o resto que criou é merda, o autor considera que a vagina cerebral é sem dúvida a maior criação de Deus)

Quem nunca sentiu prazer enquanto lê um texto, um poema ou enquanto olha para uma qualquer obra de arte?

A esse prazer todo, Deus todo-Poderoso, criador do céu e da terra, chamou-lhe de orgasmo cultural.

Pela manhã, Deus acorda, levanta-se da cama e quando sai para a rua e acende um cigarro, vê o Adão e a Eva, deitados no chão, abraçados, acorda-os e pergunta-lhes,

Então, meus filhos?

Eva olha-o e responde-lhe,

Maravilhoso, meu Deus. Maravilhoso.

 

(não acreditando o autor em Deus, e respeitando o autor todos os credos e fés, e respeitando muito o autor a mulher e tudo  oque ela representa, pede o autor desculpa a todos aqueles que possam sentir-se ofendidos; não é o intuito deste texto de ficção ofender nada nem ninguém)

 

 

 

 

 

Alijó, 13/01/2023

Francisco Luís Fontinha

(ficção)


25.12.22

Um dia

Qualquer dia

Ninguém vai saber

O que é um orgasmo,

Quando dois corpos

Se fundem nas lágrimas de uma estrela

E uma pequena sombra do luar

Entra no peito

(centro de massa)

E um silêncio de prazer

Explode nas nuvens do desejo.

 

O orgasmo

Quando os dedos tocam docemente nas páginas de um livro

Quando a mão acaricia a capa de um livro

E dentro do corpo daquele que toca e acaricia

Uma tempestade de estrelas acorda

E um lençol de sémen é lançado contra a madrugada.

 

O orgasmo de quando o poeta termina o poema

E quando o escritor termina o texto

E todas as personagens do texto

Movem-se com ovelhas no prado

E do prado,

O orgasmo do poema

O desejo do poema

O beijo

O orgasmo do beijo

Sobre uma cama de amêndoas doces.

 

O orgasmo de quando uma criança pergunta à mãe

Mãe como cantavam os pássaros

Quando ligavas o interruptor da manhã

E uma melodia poética entrava pela janela

E tu afagavas-me o cabelo,

 

O orgasmo de quando um menino pergunta ao pai

Pai como brincavam as acácias da tua infância

E me levavas a ver os barcos

E dos meus olhos um infinito orgasmo de pequenos gemidos

Eram lançados ao mar.

 

E do mar

Regressavam a mim as finas lâminas que só o prazer consegue fazer acreditar

E uma janela vaginal voa sobre as esplanadas da inocência

O sol poisava sobre os corpos fundidos em aço prazer

E às vezes o laminado silêncio da noite

Pareciam pássaros envenenados

Como abelhas perdidas no mel.

 

O orgasmo quando uma mulher abre a janela

E olha o mar

Como se fosse o seu primeiro beijo.

 

O orgasmo quando o luar brinca sobre a noite

Comendo palavras contidas num pequeno cartuxo de medo

E sem aviso nem agrado;

O grito da tua boca

Quando o gemido inventa o prazer.

 

 

 

 

 

Alijó, 25/12/2022

Francisco Luís Fontinha


28.05.14

Hei-de encontrar-te


nas masmorras cinzentas do sonho


esquecer-me das noites em solidão


e voar sobre os cadáveres desgovernados das tuas mãos de pano


hei-te encontrar-te


no círculo mais secreto do teu corpo


disfarçada de nuvem


ou... ou vestida de neblina


hei-de encontrar-te


no rio da insónia com cabelos de nenúfar


na cama clandestina da madrugada


ou no sofá com lençóis de pergaminho desejo,


 


Sentir que há vida na tua boca


perceber que há flores nos teus seios doirados


sentir a água louca


descendo as tuas coxas que alicerçam soldados


sentir o beijo efeminado com perfume de menina


saltar as giestas cansadas da montanha assassina...


 


Hei-de... hei-de encontrar-te


nas masmorras cinzentas do sonho


galgar as sombras escadas dos edifícios amarelos


ou


ou esperar... esperar que tenhas vida


que sejas a manhã em construção


a estrela do amanhecer


hei-de encontrar-te


no vão do medo


como se fosses a mulher planeta da constelação do amor


encontrar-te


hei-de... hei-de encontrar-te no silêncio do teu orgasmo.


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Quarta-feira, 28 de Maio de 2014


19.08.13



foto de: A&M ART and Photos


 


Eu deixo a conversa fluir... como a água da chuva a cair sobre o teu nu corpo, saboreando as partículas de desejo que descem das nuvens..., ouvem-se as bolhas de sabão a cair nas tuas costas, ouvem-se as sílabas mergulhadas nos teus lábios coloridos, e aos poucos desces pelas minhas mãos como sandálias envenenadas por uma calçada íngreme, e ao fundo, o rio, o Tejo, ele que te espera, e te acaricia entre as medusas de olhos castanhos, sinto-te dentro de mim, e sei, sei que amanhã não estarás na minha cama...


Vamos juntos... enrolados como duas serpentes envenenadas pelo sémen do amanhecer... e lá fora uma maçã acaba de tombar sobre os teus seios, afago-os e mordo-os com os meus finos dedos, e sabes que penetrarei em ti como se fosses um livro de poemas dentro da algibeira do espelho encarnado que acorda antes de acordar o teu orgasmo, é tarde, o relógio da sala cansou-se de ouvir-nos em latidos estranhos que atravessam as paredes de gesso e ripa, o tecto olha-nos, e inveja-te, porque permanecerás eternamente nas suas mãos, como um candeeiro suspenso e que ilumina a noite derretida em pura seda como lençóis sobre o teu corpo de areia, é tarde, lá fora dormem os homens e as mulheres, nós, nós permanecemos eternamente acordados, e procuramos entre os estilhaços dos líquidos sobejantes e adormecidos sobre a cama a saudade, e os beijos,


É tarde, para ti, quase que dormes, olho-te como se fosse o tecto, e vista de cima, tu, pareces um jardim com flores em papel... que voam quando tocas no meu peito, e fincas os lábios ficando entre eles... uma pétala de orvalho,


Estás loucos, oiço-te,


Louco porque a poesia derrete-se como a manteiga sobre os teus seios, louco porque mergulhas na chuva diluída em pequenas lâminas de fogo, tu, tu ardes como um livro depois de lido, folheado, manuseado cuidadosamente, e o papel da tua pele cola-se-me como uma borboleta desesperada depois da tempestade, oiço-te


Estás louco,


Louco porque inventaram o amor, louco porque inventaram o desejo e os jardins junto ao Tejo, e louco, louco porque oiço os uivos teus beijos de encontro à prateleira onde moram os livros de António Lobo Antunes, e louco


Estás louco,


E loucos, loucos barcos em gaivotas saciando o cio nas noites que atravessam o Tejo, e do outro lado, os edifícios em esqueletos vadios, que correm e comem,


Meninos, meninas,


Debaixo da tenda do circo que aportou por aquelas bandas, o vento dá-lhes força nas velas e começam em corridas vagarosas como palhaços velhos, e de bengala, e sorrisos nos seus rostos


Meninos, meninas,


Procurando a fome nos vultos zumbis da avenida adormecida, debaixo da tenda do circo, e todos os sonhos realizáveis... O encontro – A chuva e o nu corpo dela.


 


(não revisto - Ficção)


@Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 18 de Agosto de 2013 / Segunda-feira, 19 de Agosto de 2013


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