Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


31.07.23

Lateja a mingua luz da montanha

Abraça-se a mim o vento em nortada

Esta casa em aflição

Que arde

Grita

Lateja a míngua luz do teu olhar

Socalco que se esconde no doiro rio

 

Lateja a míngua luz da montanha

Às árvores de cartolina colorida

O rio em saudade

Que arde

Grita

No centro da cidade

 

Lateja a míngua luz em silêncio

No silêncio que te beija

Deste rio que corre nas tuas veias

Entre lágrimas de chuva

E de estrelas sem brilho

Que também elas latejam

Na cidade luz

Da míngua montanha

Que dorme em desespero

 

Lateja a míngua luz nos teus lábios

Que sofrem

Que procuram a liberdade

Da luz que lateja da minha nortada

Nesta triste e pobre cidade

Que traz o vento

E leva de ti o sofrimento

E a saudade.

 

 

 

31/07/2023

Alijó

Francisco


06.05.23

Perdidos, aqui,

Perdidos na imensidão da poesia,

Dos corpos suspensos, nos corpos em palavras de arder…

Perdidos de ti,

No novo dia,

Quando este dia… parece sofrer,

 

Quando este dia em caravela do silêncio,

Rompe a madrugada,

Quando deste dia, sem o dia…

Se faz à estrada,

 

Perdidos, aqui,

Nas mãos da minha amada,

E da querida manhã, recebo em despedida…

Na voz de gritar,

A triste madrugada,

Da triste partida…

 

Perdidos, aqui,

Coração dos milagres,

Perdidos em ti…

Perdidos na montanha envenenada,

Tão pedidos,

Tão distantes,

As mãos da minha amada…

Quando ela se esconde… se esconde dentro das estrelas brilhantes.

 

 

 

Alijó, 06/05/2023

Francisco Luís Fontinha


05.05.23

Levo as minhas palavras

Em rebanho,

Subo a montanha, subo-a até ao cume,

Abro os meus braços de invisível silêncio…

E voo-o até longe,

Pego naquele livro que não se cansa de me olhar,

Aquele mesmo livro,

Olha… aquele…

O das palavras de dormir,

E lá dentro brincam as mãos com que acaricio o teu rosto de mar,

 

Sou filho do silêncio,

Meu amor,

Preciso tanto do silêncio,

Como preciso dos teus lábios…

Como preciso da tua boca,

E se não estivéssemos em Maio,

Sim, meu amor, Maio…

Mês de Maria, Maio de mulher, Maio de mãe…

 

Se não estivéssemos em Maio,

Eu estava louco,

Louco por ti,

Louco por todas as flores…

Louco dentro destas palavras em loucura,

E, no entanto,

Meu amor,

Não estou louco…

 

Nunca estive louco.

Abraço-te enquanto a noite se despede de mim…

E uma lágrima de sono

Anda de cama em cama,

E beijo-te calorosamente na ausência da tua mão,

Sofri tanto, meu amor,

Sofri tanto com as ruas de Setembro,

Quando ainda acreditava nas acácias do meu pai…

As acácias do meu pai morreram,

Mais tarde, morreu o meu pai,

E eu, continuei a acreditar nas acácias do meu pai,

Mas depois, ficou tudo tão triste…

 

Procuro a tua mão perdida no lençol da paixão,

Ó madrugada de sonhar…

Procuro-a, e não me canso de a procurar,

Quando sei que a noite começa a embriagar-se nos teus lábios,

(tenho medo de que a noite roube os teus lábios, meu amor!)

Tenho tanto medo.

Todos os dias, escrevo-te,

Escrevo-te dentro desta ausência que o meu corpo sente…

Escrevo-te enquanto percebo que há uma lágrima de mar

Na tua mão que procuro;

E mesmo assim…

Tenho medo de que me roubem os teus lábios meu amor!

 

Tenho tanto medo…

E não me canso de a procurar.

Procuro-a entre os destroços das minhas palavras,

E sobre esta secretária, a minha ausência travestida de insónia…

(Levo as minhas palavras

Em rebanho,

Subo a montanha, subo-a até ao cume,

Abro os meus braços de invisível silêncio…

E voo-o até longe)

E quando chegar ao longe…

A tua mão procurada poisará no meu peito.

 

 

 

Alijó, 05/05/2023

Francisco Luís Fontinha


19.01.23

Dos braços desta ribeira

Recebo a voz do silêncio,

Nos braços desta ribeira

Vêm a mim as semeadas palavras

Que na voz do silêncio

Acordam as madrugadas,

 

Dos braços desta ribeira,

Ribeira que corre nas minhas veias,

 

Dos braços desta ribeira

Que em círculos brinca na minha mão,

Vou procurar a manhã que acorda,

Na manhã que mergulha na montanha…

Nos braços desta ribeira,

Ribeira das noites em luar,

Regressam a mim os sonhos,

Os sonhos de sonhar.

 

 

 

 

Alijó, 19/01/2023

Francisco Luís Fontinha


21.12.22

Íamos à montanha

Em busca das serpentes

E desenhávamos um rio invisível

Nas pedras adormecidas,

 

Depois

Descíamos à aldeia

E nunca encontramos o sono

Nas mãos de uma árvore,

 

Mas víamos as lágrimas

Que sobejavam das lareiras da insónia

E deste pequeno incêndio de tristeza

Acordavam as estrelas da madrugada,

 

E ficávamos sem a madrugada

Como ficamos sem a lua

Quando este mar salgado

Se suicidou no areal da saudade.

 

 

Alijó, 21/12/2022

Francisco Luís Fontinha


19.12.22

Não inventes o mar dos monstros marinhos

Não deites fora a espátula que dá forma à tela

E que faz com que os pássaros brinquem sozinhos

Não. Não deites fora o vento que faz trabalhar os moinhos

Enquanto na tua mão brinca um barco à vela.

 

Não penses que o mar é só teu

E que da ondulação

Um cachimbo de prata

Se alicerça na tua boca.

 

Não. Não penses que ganhastes o céu

Porque nem à terra pertences. Não deites fora as gaivotas do silêncio

Que povoam os cabelos amargurados da madrugada.

Não

Não deites fora a magreza dos pinheiros mansos

Quando da montanha vem a escuridão.

 

Quando a montanha é o teu coração.

Não. Não inventes o sono nas planícies

Enquanto o sono é apenas um voo

Uma constelação de silêncios

Que morre nos lábios das estrelas.

 

Não. Não digas que a manhã está nublada

Só porque a manhã está nublada,

 

Ou porque morreu uma gaivota,

 

Morrem todos os dias milhões de gaivotas

Morrem por dia

Milhões de crianças

Mulheres

E versos

E aterra sempre a girar.

 

Suicidam-se por dia

Não sei quantos homens e mulheres

E que ambos acreditam que o suicídio é a solução…

E o suicídio não é a solução

Para homens

Para mulheres

Quanto mais para uma gaivota.

 

Não inventes o mar

Nas mãos daquele que não gosta do mar.

 

E não culpes Deus porque o dia está nublado,

Porque Deus não entende de meteorologia

Nem de matemática

Nem de nada;

Deus é apenas um colar de pérolas

Que transportas ao peito

E quando uma gaivota está em silêncio…

Deus… está a cagar-se para a gaivota

E para ti

E para mim

E para a terra

E para todas as gaivotas em silêncio

E para os versos das gaivotas em silêncio.

 

Não inventes o mar

Nas mãos daquele que não gosta do mar

Não desejes que o mar

Entre pela tua janela

Quando tão pouco tu tens uma janela…

 

E que esta gaivota não seja estúpida.

 

 

 

 

 

Alijó, 19/12/2022

Francisco Luís Fontinha


05.12.22

Primeiro levaram todas as crianças da montanha

Depois levaram todas as árvores e todos os pássaros

Num final de tarde

Levaram as pedras e todos os animais

Caiu a noite

E levaram a lua e todas as estrelas

 

E roubaram a noite

 

E aqui estou

Perdido nesta montanha de insónia.

 

 

 

 

 

Alijó, 05/12/2022

Francisco Luís Fontinha

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em destaque no SAPO Blogs
pub