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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


01.01.23

Ninguém cobre o mendigo

Nem a noite o protege

Das estrelas,

 

O pão que ele transporta na algibeira

São os meus cigarros

Porque de pão não vivo

Tão pouco vivo de pequenos luares

Que se estendem sobre o mar,

 

E do pão

Nasce o dia

O dia do mendigo que de pouco lhe serve

Quer lá saber o mendigo do dia

Ou o dia do mendigo,

 

E podíamos ser todos felizes

O mendigo feliz com a noite

O dia feliz com as lágrimas do mendigo

O luar muito mais feliz de que ambos

E o poema está feliz com o poeta,

 

Poeta que ainda não é mendigo

Poeta que é o coveiro das palavras

As boas

E as fumadas

Porque o poeta fuma palavras

E o mendigo fuma os cigarros do poeta

O poeta que descobre a noite

E quando se senta junto ao rio

Deixa-se ficar por ali…

Depois aparece o mendigo

Aprece a noite

E o cobertor

O cobertor que serve para o poeta cobrir o mendigo,

 

E quando batem à porta do meu postigo

Uma trave de sono cai

Cai sobre a cabeça do mendigo

O mendigo que fuma o pão

E bebe as palavras já fumadas pelo poeta,

 

E um beijo se despede da alvorada

Enquanto o mendigo e o poeta

Fumam todas as estrelas da noite;

E a noite sem estrelas

É como o dia sem palavras

Quando o fantasma da solidão

Abraça o mendigo

E acorrenta o poeta à melancolia do silêncio,

 

Porém

Ainda não o sei

Deixei de ver o mendigo

Deixei de ver o cobertor que servia para eu cobrir o mendigo…

E agora

O mendigo descoberto

Morre

Como morrem os poemas no leito em desejo.

 

 

 

 

Alijó, 01/01/2023

Francisco Luís Fontinha

...


10.03.19

As volúpias palavras descendo a calçada, junto ao rio, o mendigo assassina o último cigarro do dia, senta-se junto às escadas do prédio esquelético e com fome, uma brisa sobe até ele, e a vida parece-lhe contente com o aproximar da madrugada,


Todas as pedras à sua volta, choram,


Adormecem as acácias.


Choram com lágrimas de papel amarrotado que o merceeiro deitou no lixo, cobre-se, inventa o calor com lâmpadas de néon…


E dorme.


O néon embriagado pelo silêncio, os dias parecem-lhe horas tardias, doentes, com a mentira debaixo da língua,


E dorme,


As palavras dilaceradas, os livros incendiados pelo teu perfume, e tens no olhar a solidão das flores envenenadas,


E dorme, e dorme, o coração abandonado, por ti, por eles, pela melancolia do dia, e vê em todas as rochas, mesmo as mais pequenas, o sorriso do lobo.


Não estará o mendigo, louco?


E o poeta?


E se a loucura for a sanidade melódicas das palavras ditas?!


Dorme.


O sorriso do lobo, a alegria do mendigo por conversar com o lobo, pois, só este, e mais ninguém, consegue conversar com o mendigo…


É Domingo, dizem eles. Não o sei…


Não o sei, como desenhador de palavras, e, poucas, apenas sei que amanhã nos teus lábios vão acordar as amendoeiras em flores, todas, lindas, belas, elas,


E dorme.


Cansado da viagem.


 


 


Francisco Luís Fontinha


Alijó, 10/03/2019


22.05.16

caem sobre ti as estrelas da manhã


o sonífero desejo dos meus braços


encalhado no teu olhar


como a pérola adormecida da paixão


rompendo a montanha do Adeus…


subindo lentamente as escadas do mar


até ao sótão do coração…


a esfinge aventura do terno menino


sobrevoando os cadeados de prata


que aprisionam os barcos de madeira


caem sobre ti as estrelas da manhã


nas sofridas avenidas do prazer


que as cidades imaginadas


comem ao pequeno-almoço


sem o saber…


o mendigo das vestes negras


tropeçando na tristeza


senta-se no almoço sem riqueza…


e reza…


e chora…


porque caem sobre ti as estrelas da manhã.


 


Francisco Luís Fontinha


domingo, 22 de Maio de 2016


29.08.14

Não sei amar,


oiço o ruído da saudade que se acorrenta às frestas da alma,


há uma janela com acesso ao deserto,


não dou importância às pessoas com sorriso de vidro,


ou... ou que habitam as florestas com asas de aço,


têm mãos de palha, há nos seus dedos forcas em espera...


não sei amar,


e oiço do cansaço adormecido o acordar da tempestade,


uma rua dentro da algibeira,


uma moeda que nem dá para almoçar...


quanto mais... jantar,


e o mendigo que me acena e convida para dançar,


 


O menino dança?


 


Vai-te “foder” mendigo que eu não sei dançar,


um cigarro suicida-se nos meus lábios,


e no meu peito deita-se um pedestal encarnado,


não sei amar,


não sei escrever,


não sei fazer anda...


o cigarro grita pelo mendigo,


o mendigo toca-me no braço,


o meu braço começa a flutuar sobre as sílabas embriagadas,


e um poema vaidoso senta-se junto ao rio...


dou-me conta que lá fora é noite,


e não quero sair do útero da noite...


 


O menino dança?


 


Vai-te “foder” mendigo que eu não sei amar...


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sexta-feira, 29 de Agosto de 2014


25.08.13



foto de: A&M ART and Photos


 


hoje és um mendigo igual a mim


uma pérfida folha de papel não correspondida


hoje és um cadáver envergonhado deitado na minha sombra


uma triste e cansada sombra debaixo dos lábios do púbis incenso


hoje és um sexo amargurado


triste como as sílabas empapadas dos livros de nada dizer


como as noites a arder


dentro de ti o comestível prazer


 


hoje finges que não te pertenço


que sou um muro em xisto


balançando sobre a encosta


atiro-me e encontro o rio


hoje és um mendigo igual a mim


fugindo da claridade


e dos beijos zangados em cinzentos fios de sémen...


e dizes-me que sou um palhaço


 


um voador corpo com asas em papel


hoje desperdicei os abraços sobre a lua em fúria


que deus deixou na mão da madrugada


hoje não sou nada


como ontem


como amanhã


hoje és...


apenas uma defeituosa maré de linho com coloridos olhos em verniz...


 


 


(não revisto)


@Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 25 de Agosto de 2013


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