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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


25.05.23

20230525_184423.jpg

Queimarei, um dia, os meus poemas,

Queimarei, um dia, todos os meus desenhos

E todas as minhas fotografias.

Queimarei, um dia, este corpo que me transporta…

Deste corpo onde habitam as flores em papel

E números de porta,

Números de polícia,

Queimarei, um dia, todos estes livros…

E todos estes livros

E todos estes livros…

Estes livros,

As palavras que escrevo,

Os desenhos que faço…

O céu…

Se a minha vida foi um inferno,

 

Queimarei, um dia, o meu dia,

Acenderei, um dia, a minha noite,

Noite em dia,

Do dia sem noite…

Quando a noite

Rouba ao dia…

O dia da despedida.

 

Queimarei, um dia, as asas que me deram,

O fato espacial com que visto a noite,

Antes de acordar…

E foder o dia,

De dia…

Até um dia…

Até que um dia,

Terei …

O mar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

25/05/2023


19.05.23

Voávamos e não sabíamos que voávamos,

Voávamos sobre uma cidade em lágrimas,

Sobre uma cidade que se escondia depois do pôr-do-sol…

Voávamos entre paredes,

Voávamos,

Voávamos entre janelas,

Voávamos nos olhos um do outro…

E esperávamos que regressassem as andorinhas em flor,

 

Voávamos de pensão em pensão,

De escadaria em escadaria,

Voávamos e não sabíamos que voávamos…

Voávamos de barco em barco e de mar em mar,

Voávamos nos lábios da saudade,

Voávamos nas mãos do luar…

Voávamos sobre uma cidade esquelética,

Uma cidade muito feia,

Uma cidade de engano,

E voávamos também nós…

Enganados,

 

Voávamos na primeira lágrima da manhã,

Voávamos no último sorriso da tarde,

E voávamos sem saber que voávamos,

E voávamos sem saber que as nossas asas…

Aos poucos,

Poucos…

Morriam depois de um poema declamado,

 

Voávamos na ausência do sono,

Voávamos nas palavras que eu te escrevia,

Voávamos enquanto alguém corria a cidade à nossa procura…

E nunca nos encontrava,

Voávamos, voávamos bem lato,

Voávamos sobre a copa das árvores,

Onde dormiam os pássaros que nos ensinaram a voar,

 

Voávamos durante o dia,

Voávamos durante a noite…

Voávamos à procura das estrelas que alguém lançou ao mar,

Voávamos,

Voávamos…

Voávamos enquanto o desejo nos consumia…

E continuávamos a voar,

E voávamos,

Voávamos entre janelas,

Voávamos nos olhos um do outro…

E esperávamos que regressassem as andorinhas em flor.

 

 

 

 

Alijó, 19/05/2023

Francisco Luís Fontinha


19.05.23

Todas as cores, meu amor,

Todas as cores são as tuas cores,

Todas as cores, das tuas cores,

Das cores que semeias nos meus olhos,

Sem cor,

Da cor,

Todas as cores, meu amor,

Todas as cores que pincelas em mim…

São as tuas cores,

São as cores do meu jardim.

 

Todas as cores, meu amor,

Todas as cores da paixão,

Quando das cores do desejo…

Recebo a madrugada,

Quando das tuas cores,

Nas cores, meu amor,

Todas as cores, das tuas cores…

Recebo esta pobre enxada

Que aos poucos se esconde na minha mão…

E fico sem as tuas cores,

E fico sem a janela do teu coração,

 

De todas as cores, as tuas cores,

Prefiro a cor beijo,

Todas as cores, meu amor,

Em todas as cores,

Das tuas cores…

As cores…

As tuas cores,

As minhas cores,

De todas as cores, meu amor…

Das cores que semeias nos meus olhos,

Sem cor,

Da cor,

Todas as cores, meu amor,

Todas as cores que pincelas em mim…

 

 

 

Alijó, 19/05/2023

Francisco Luís Fontinha


13.05.23

Nasce o dia,

E em todos os dias,

Há um dia,

Do outro dia,

Do dia que nasce…

Ao dia que morre,

Morre em poesia.

 

E em cada dia,

Um pequeno dia,

Um dia

Que se abraça a outro dia,

Que nascerá dia,

E que morrerá dia…

Do dia que foi dia.

 

E todos temos um dia,

Um novo dia…

Nasce o dia,

Morre o dia,

E quem diria…

Que em todos os dias,

Há um dia…

 

E do filho do dia,

Nasce um novo dia,

O seu dia,

O dia que abraça a noite,

Enquanto não há noite que mate o dia,

Porque um dia sem dia…

Não é dia.

 

 

 

Alijó, 13/05/2023

Francisco Luís Fontinha


09.05.23

O que resta de mim,

Um amontoado de ossos,

Sem nome,

Pedaços de nada,

O que resta de mim,

Depois de tantas tempestades,

Silêncios…

E mares;

Alguns, navegados.

 

O que resta de mim,

Depois que o silêncio se travestiu de mendigo,

Quando neste pequeno papel,

Escrevo-te aquilo que poderia ser uma carta de despedida…

 

Mas não me despeço

E vou andar por aí…

O que resta deste corpo em constante baloiço,

O que resta de mim,

Depois de o vento levar o meu cabelo,

As mãos com que afago o teu cabelo,

E os meus lábios…

Com que desenho nos teus lábios,

O beijo.

 

O que resta deste miúdo,

Que transportava uns simples calções

E umas sandálias em couro…

 

O que resta de mim,

O que resta de mim…

Um amontoado de ossos,

Sem nome,

Pedaços de nada,

E algumas palavras…

 

O que resta de mim

E da minha terra,

Onde o sangue jorra por entre o capim,

O que resta de mim

E da minha terra,

Quando a chuva cai…

E aquele cheiro inconfundível se ergue até ao céu,

 

O que resta de mim,

Poema do meu peito,

Palavra que respiro…

E em cada final de dia,

Vomito a solidão das noites aprisionado,

O que resta deste louco poeta,

O que resta de mim,

Deste pobre pintor…

O que resta de mim,

Quando Deus…

Não quer que reste nada.

 

 

 

Alijó, 09/05/2023

Francisco Luís Fontinha

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