Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


30.10.23

No lado negro da lua

Onde todas as noites me vou esconder

Onde escondo este poema

E ele amua,

No lado negro da lua

Onde passo as noites a escrever…

Na companhia desta lareira em chama,

Na companhia do meu sofrer.

 

No lado negro da lua

Onde me vou sentar

Neste pedaço de pedra cinzenta,

De onde vejo o mar…

E um sorriso pela manhã que me alimenta…

No lado negro da lua…

Onde tenho todo o meu sonhar.

 

 

30/10/2023


14.01.23

No silêncio da noite

Abraço-me às cinzas do teu olhar

Derradeiro desejo que toca a tua pele incandescente

Que no lençol do prazer

Deixa ficar as palavras murmuradas,

 

Na lareira

Os meus ossos desistem da madrugada

E a terra arável das minhas mãos

Evapora-se nos teus seios,

 

Como são transparentes as tuas mãos que me tocam

Num infinito gesto de protecção

Como são belos os teus olhos que me excitam

E desenham em mim as estrelas sem nome

E me oferecem os gemidos nocturnos da paixão,

 

Do silêncio da tua pele

Pedacinhos de mar escondem-se nas tuas coxas de insónia

E da lareira onde os meus ossos desistem da madrugada

Vem a mim o teu orgasmo disfarçado de sono,

E a manhã acorda numa fotografia

E traz a prisão das Pirâmides

E os dedos que te excitam nas noites envergonhadas…

 

 

 

 

Alijó, 14/01/2023

Francisco Luís Fontinha


01.01.23

Da prisão

À da alma quando a vendes ao diabo

Na prisão de ventre

Da prisão dos braços

E das palavras que brincam nos teus braços,

 

A prisão sem pão

À prisão com pão

Tudo é prisão

Tudo

Tudo é uma prisão

Da prisão ao salário

Do salário às nuvens

A prisão do mar

Na prisão de um barco

Um barco preso no mar

Do mar sem salário,

 

A prisão da chuva

E do vento que transporta a chuva

Depois temos a prisão da lua

Do luar

E do corpo que dorme no luar,

 

À prisão do corpo

Quando este corpo semeia no teu peito

Uma prisão de silêncio

Numa prisão de desejo

E se o desejas

Prende-te ao desejo

Acorrenta-te às sombras que a noite deixa nos seios dela,

 

A prisão vaginal das manhãs sem poesia

À prisão do poema

Quando o poema

Dorme na tua cama

Dorme em cada dia,

 

E se a tua cama for um livro

Um livro com um só poema

Um poema

Uma mão

Quando te masturbas na madrugada,

 

Tudo

Tudo é uma prisão

Ou uma não prisão

De nada

Ou com tudo

Que a prisão aprisiona o teu pensamento,

 

A prisão de uma lareira

Quando um pássaro vadio canta à tua janela

E o pássaro sem pão

Pede-te que o libertes

Libertes da prisão

Na prisão deste mar,

 

A prisão dos teus mortos

Em uma prisão de fotografias

Na prisão de um álbum

À prisão numa pequena caixa de sapatos

Na prisão de uma lápide

Quando a lápide é uma prisão

De quatro pedras graníticas

Sem sol

Sem nada;

Uma prisão enganada.

 

 

 

 

 

Alijó, 01/01/2023

Francisco Luís Fontinha


07.12.22

Vou abrir todas as cancelas da noite

As visíveis e as invisíveis

Acendo o luar

E ligo a telefonia

Vou à janela

Abro-a

Puxo de um cigarro

Acendo-o

Estendo o braço

Abro a mão e pego o primeiro pingo de chuva

Fecho a mão

Encosto-a ao peito

Depois

Beijo o primeiro pingo de chuva

E chamo o mar

 

Enquanto o mar não vem a mim

Sento-me e espero

E o mar começa a entrar no meu corpo como um rio selvagem

 

Abraço-o cuidadosamente para não o magoar

E segredo-lhe baixinho ao ouvido

 

- Vem a mim

 

Depois vieram os barcos

E todos os peixes

E os barcos trouxeram as nuvens

E os peixes trouxeram a alegria

E as nuvens trouxeram as estrelas

 

Ao fundo da rua

Um transeunte

Olha-me

Eu olho-o

Eu ignoro-o

Depois

Ele ignora-me

 

Entre nós

Nem palavras

Nem das palavras

 

Apenas as sombras das palavras

 

Vem a mim

Traz as lanternas que alimentam o sono

E ensina-me a desenhar círculos de luz

Nas janelas da alvorada

E imagina quantos silêncios de pedra

Tem esta alvorada

Abre os olhos e planta as flores no meu peito

 

Depois

Traz as enxadas com que vamos capinar

Todo o capim das planícies

Onde às vezes

Deitas a cabeça e soletras o meu nome

 

Pego nos círculos de luz que me ensinaste a desenhar

E coloco-os nas vidraças da janela

Escrevo o teu nome

E o teu nome

Cresce na lareira

Enquanto o primeiro pingo de chuva começa a voar

E condenado que está

Fica prisioneiro do teu olhar.

 

 

 

 

 

 

Alijó, 07/12/2022

Francisco Luís Fontinha


28.11.22

Poiso nos teus lábios a lareira da paixão,

 

Pequena flor

Em meu triste olhar,

 

E este barco cansado

Perdido neste grandioso mar,

Este barco apaixonado

No silenciado luar,

 

Este barco ancorado

Aos teus seios de amanhecer,

Sou este barco fundeado

Nos versos de escrever,

 

Pequena flor

Em meu triste olhar,

 

Que o vento lança ao meu coração,

 

Este barco que não se cansa de navegar,

Enquanto invento no teu cabelo estrelas de muitas cores,

Este barco de amar,

Amar todas as flores,

 

Pequena flor

Em meu triste olhar,

 

Do meu olhar

Tua dor,

 

Nos teus lábios a lareira da paixão.

 

 

 

Alijó, 28/11/2022

Francisco Luís Fontinha

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2012
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub