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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


26.10.22

À tua janela

Das minhas palavras ensonadas,

Na tua boca estes transversais silêncios,

Luzes, estrelas, beijos de luar

Que poisam nos lábios dos pequenos círculos do sono,

 

À tua janela

A geometria da paixão que das tuas mãos

Invade os quadriculados olhares,

E no peito, trazes as noites junto ao mar…

Sem que de dentro de nós

 

Acordem as palavras incógnitas

Que semeávamos no rio,

Haja alegria quando as noites

Têm janelas com braços,

E pequenas fotografias de medo,

 

À tua janela

Uma estátua de sal olhava-me,

E antes da minha entrada nos teus braços

Eu sabia que tinhas uma lâmina de geada

Que se alicerçava no meu rosto,

 

Pego neste relógio de pulso, e cansado

De me avisar que a noite vem em viagem,

Que as flores dos teus cabelos

Dormem nos lençóis da insónia…

Como dormiam todos os pássaros junto à tua janela.

 

 

 

Alijó, 26/10/2022

Francisco Luís Fontinha


23.12.15

O desejado silêncio


Deitado no obscuro beijo


No centro do círculo da solidão,


A cidade ainda dorme,


Provavelmente acordará sem perceber que o amor está acorrentado aos rochedos da montanha do “adeus”,


Não importa,


Deixá-lo estar até que a noite caia


E se erga a escuridão ao pescoço da morte,


Batem à porta,


Certamente não é o carteiro…


Porque durante a noite não recebo cartas tuas,


Será o desejado silêncio


Deitado no obscuro beijo


No centro do círculo da solidão?


O cubo junto ao mar,


O raio da circunferência quase a desfalecer…


E a maldita cidade


Dorme,


Abstrai-se do meu corpo


Como todas as figuras geométricas clandestinas do meu caderno quadriculado,


A janela encerrada desde a tua partida,


Os livros em finíssimas fatias de melancolia esperando o teu regresso,


E os papéis escritos…


No cesto triangular onde guardo os poemas perdidos,


E ninguém, e ninguém disponível para assassinar a tristeza


Que habita esta casa…


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


quarta-feira, 23 de Dezembro de 2015


05.09.15

desenho_05_09_2015.jpg


(desenho de Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)


 


Mastigava as palavras nocturnas do sono,


Enquanto do outro lado da rua,


Alguém,


Alguém gemia,


Uma rosa nua?


Uma pétala de rosa tua?


Alguém,


Enquanto eu dormia,


Alimentava-se dos meus sonhos entre círculos e triângulos rectângulos,


Acariciava os catetos,


Beijava a hipotenusa,


E enquanto eu dormia,


Alguém,


Alguém vestido de musa…


Nua a rosa,


Pétala a tua,


Mastigava as palavras nocturnas do sono,


Desenhava na ardósia negra do sentido proibido


Os teus seios mendigando o meu peito,


Nunca,


Nunca tive jeito,


Vontade…


E alguém,


Sem eu saber,


Entranhava-se nos meus tristes ossos,


Alguém,


Alguém gemia,


Do outro lado da rua,


E eu,


E eu sentia,


A lua,


O mar agachado nas tuas coxas silenciadas pela amargura,


Tanto tempo perdido,


Em pequeníssimas folhas de papel quadriculado,


Chorava e gemia,


Do outro lado da rua…


O poeta suicidado,


Uma rosa nua?


Uma pétala de rosa tua?


Alguém,


Enquanto eu dormia,


Roubava-me a tela da agonia…


Acorrentava-me às paredes pinceladas de bolor…


Colocava sobre as minhas pálpebras um cubo de gelo,


No meu cabelo,


Uma rosa,


Tua,


Uma tua rosa nua,


Sem sentido,


Os livros que li,


As palavras que escrevo e escrevi,


Não,


Não eram para ti,


Porque alguém,


Não sei quem,


Injectava-me nas veias finas lâminas de saudade,


Cerrava os olhos, fingia estar vivo quando os barcos da alvorada subiam as escadas da sufocada pensão,


E eu,


E alguém…


Gritava,


Chorava,


Sem saber a razão,


Do poeta suicidado


Subir e descer as escadas da pensão,


Quando a pensão estava deserta,


Morta,


Sem janelas,


Sem cortinados nas janelas…


E todas as portas,


Também elas,


Todas,


Todas mortas,


E alguém,


Não sei quem,


Inventava fotografias para eu folhear…


Enquanto a pensão,


Enquanto a pensão se afundava no meio da rua,


Mesmo em frente ao meu cadáver descarnado pelo tempo,


Havia vento,


Havia lágrimas nos lábios do vento,


E alguém,


Sem saber porquê…


Ou razão…


Deixava o meu nome nas ruinas de uma pensão.


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sábado, 5 de Setembro de 2015


29.03.15

Os colchões de areia do Mussulo


A hipotenusa brincando no quadrado


E num pulo


O mar


Esboçado nas trincheiras da melancolia


A dor


Adquiríamos as ventosas do desejo


Debaixo dos abraços cinzentos


Nos telhados de vento


O tempo indisponível


Tente mais tarde


Ouvia-a depois da luz se extinguir


Nos rochedos negros do púbis


Havia música nas janelas que o luar desenhou


Nas tuas coxas


Deus brincava nos teus pincelados lábios


Pedia-lhe


Não me respondia


A fala


A palavra prometida


Assustava-me


E fugia


Libertava-me do incenso


E das canetas de prata


Alimentava-me dos brinquedos em plástico


Entre as sombras das mangueiras


Os homens


As mulheres


Ao portão…


Abraçava-me


Beijava-me


E no entanto


Era apenas uma fotografia


Sem pátria


Que gemia


E não sentia


E havia


Nos seus ombros


Um triciclo envenenado pela fogueira da paixão


Eu


Eu tremia


Sem saber que o barco me levava


Nunca mais me trazia


A esta terra sem capim


Nem árvores de veludo


O teu corpo imaginava-se nos tristes arvoredos do sonho


Antes de adormecer


Eu… eu escrevia


Olhávamos as almas


E os becos escondidos na cidade


O Tejo entre azulejos


E livros


O caderno junto aos teus seios


Tão pequenos


Como as estrelas


Como os cinzeiros


Semeados na minha secretária


Papéis orvalhados nos condomínios de luxo


As portas do inferno


Comendo os teus geométricos olhos


Vai caminhando na voz enrouquecida das abelhas


E dos veleiros nocturnos da solidão


Hoje recordo-te nos colchões de areia do Mussulo


Como recordo as avenidas embriagadas


Pelo silêncio obscuro


Sempre tive medo dos teus cabelos


Abraçava-me


Beijava-me


E era apenas uma fotografia


Tão triste


Tão triste que durante o dia


Ardia…


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 29 de Março de 2015


13.03.15

No trajecto da insónia


um ponto embrulhado nas coordenadas do silêncio


percebe-se pelo movimento lento


que a parábola incendeia o pequeno quadrado


lá dentro o medo


viver ele


enquanto desenho na ardósia tarde


o significado das imagens nocturnas do prazer


o corpo é um pesadelo sem porto onde aportar


viver ele


no mar


e cansa-se do rasurado veneno que o vento semeou


 


a carta regressa


endereço insuficiente


ausente


talvez morto


talvez contente...


no mar


o luar pincelado de andorinhas marés


e ele


sempre ele


viver ele


e cansa-se


não o devia fazer


 


fugir


sem...


sem deixar um bilhete sobre a secretária


ou


ou apenas um traço no espelho embaciado da casa de banho


eu percebia


ausentou-se


foi-se


nunca mais voltará aos livros...


nunca mais acordarão as vozes das sílabas embriagadas


nos sonhos


da alvorada.


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sexta-feira, 13 de Março de 2015

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