Guardo o teu nome
No granito sonolento da noite,
E, sabes? Oiço os pássaros
Que brincam nos teus lábios.
Caminho velozmente na solidão do entardecer
Como se fosse uma flecha
Ou uma espingarda preguiçosa.
As palavras que a espingarda preguiçosa
Dispara, são murmúrios,
Vozes em papel
Que descansam nas planícies do poema.
Apetecia-me suicidar o poema.
Matar todas as palavras escritas no poema,
Como fazem os ditadores aos seus opositores.
Guardo o teu nome
Na algibeira da insónia,
Lugar onde habitam as minhas memórias
E todas as minhas fotografias;
Tal como o cansaço, a solidão
É o alimento das flores sem nome.
A paixão,
O amor que dorme nas janelas transparente e,
Onde vivem os cérebros inadaptados do meu jardim.
Um pequeno passeio,
Uma lâmpada dispersa,
Na sepultura do adeus.
Tal como ontem,
Sessenta anos passara sobre a revolta,
O cansaço das armas
Nas palavras dos homens.
A covardia de não acordar,
Deitar-me sem sono,
Fingir que durmo numa sombra imaginária,
Onde brincou o meu pai.
E, uma cabana de sono
Sabe que nas minhas palavras,
Há um livro que se revolta
E pergunta; para quê?
O telegrama regressou,
Trazia na mão uma côdea de sangue,
Alguns pertences e,
Uma malga de nada; ninguém come nesta casa
Até a aldeia se libertar do cansaço dos pobres.
Oiço tiros de canhão,
Granadas importadas,
Lança-chamas improvisados e,
Esta maldita guerra não termina nunca.
A refeição chegou na marmita,
Um pedaço de pão é lançado aos crocodilos
Como se de pedras se tratasse.
O Rossio é lindo, mãe!
Cai a neblina sobre a cidade,
Das palmeiras veem-se as gaivotas em cio
Que disputam o campeonato nos musseques perdidos,
As pedras, achados de cerâmica,
Pássaros e abelhas,
Almotolias que transportam o salgado azeite da escuridão diurna,
Que apenas o soba sabia para que servia.
Hoje, depois de acordar,
Todos os sonhos são tristes palavras
Nos braços do mar.
Sabeis vós quanto custa um grama de sono?
- Meu rapaz; aqui é proibido ter sono.
E, adormeceu eternamente até se cansar de gritar.
Francisco Luís Fontinha, 04/02/2021