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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


09.08.20

Sou eu. Sou eu, o silêncio suspenso nos teus lábios de acrílico suspiro, a madrugada pincelada na tela inventada pela noite, regressam as sombras dos automóveis cansados, quando todas as ruelas da cidade, desenhadas pelo luar, são apenas sombras, manhãs desesperadas, corpos embalsamados, esqueletos de papel semeados nos campos marítimos do desejo,

Amo-te.

Sou eu, a claridade das tuas mãos quando acariciam o meu rosto de xisto, deitado sob a clarabóia do amanhecer,

Um barco, meu amor,

Um barco deitado sob a clarabóia do amanhecer, os suspensórios tristes que pegam nas calças calcinadas pelo vento da manhã, meu amor, um barco de espuma, um lençol de vómito descendo a calçada em direcção ao rio, lá longe,

Amas-me?

Um pequeno alfaiate desenhando sílabas na areia do Inferno, automóveis cansados que se apião nos apitos nocturnos da insónia, valha-me meus, menina,

Sim, meu amor,

A menina é tão bela, como o silêncio de todas as esplanadas, no Verão, antes de abrirem as cancelas da solidão, pego no teu olhar, imagino um carrossel de sémen brincado no sótão do homem de negro, dos olhos, a venda espelhada dos fins de tarde, nem mais, uma criança grita pelo papel vegetal que alimenta a mão do artista,

Então os desenhos?

Estão quase, repentinamente escreve ele no muro da imaginação, olho-te e, escrevo-te, entre parêntesis e pontos de interrogação,

O texto, meu amor,

O texto constrói-se na tarde, invento meninos de chumbo perfilados na avenida, todos de máscara, como os espantalhos de Carvalhais, amanhã

Amas-me?

Amanhã todos os santos são estátuas de sofrimento, altares de espuma esperando o regresso do comboio, o sem-abrigo procura sombras na imensidão da cidade, e tu, meu amor

Amanhã,

Abrem-se as cancelas do desejo, existe em ti o infinito amanhecer, descalço, como medo de amr, corre, corre em direcção ao mar, porque

Amanhã?

Sim, porque amanhã a noite será uma jangada de vidro no silêncio dos rochedos enamorados pelo abraço.

Sempre em ti, este cansaço de amar.

Romântico amanhecer.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 09/08/2020


16.09.18

É noite, meu amor!


Sinto os teus braços entrelaçados no meu peito,


Um rochedo de saudade fundeado em mim,


Onde o peso da tristeza voa sobre o meu quarto abandonado pelas flores,


Sofrimento, a dor da fórmula matemática sem resolução,


Como a morte,


Ao final da tarde,


Os insectos poisados no teu corpo espelhado pelo nascer do sol…


É noite, meu amor!


Todos os dias são dias de insónia,


Tortura,


Desespero sombrio das cavernas habitadas por húmidas ardósias de espuma,


Desço o rio,


Mergulho nos teus lábios de poema adormecido,


O louco,


Adormecido,


É noite, meu amor!


 


 


Francisco Luís Fontinha


Alijó, 16/09/2018


06.10.17

O vento emagrece os ossos pincelados na Ressonância Magnética, a chuva miudinha alicerça-se-lhe no cabelo prateado do Outono, aos poucos caem as folhas no pavimento térreo das lágrimas invisíveis, aconchega-se contra o espelho suspenso há anos no quarto, e vê a fotografia de um condenado à morte, sofre, chora… e brinca com as pétalas das drageias que lhe envenenam o corpo, os ossos partem-se como veleiros à deriva no Oceano sem nome, sempre só, ele deita-se na cama desengomada e dorme ao sabor da tempestade encarnada, vomita as palavras nocturnas que lhe correm nas veias, e para assassinar o tempo vai até à casa de banho fumar um cigarro,
Escreve “merda” na vida, desenha sombras nas sombras da vida, e tenho medo da partida, o só, o desajeitado das palavras encostado a uma esplanada esperando o engate do final da tarde, lamenta-se,
Lamento-me, não sei o que fazer enquanto os ossos de ontem enfraquecem os ossos de hoje, respira fugazmente, pega nas lâminas da manhã e esconde-se no rio…, lamento-me nos dias em que sou possuído pelo medo, lamento-me quando abro um livro e ela,
Hoje não consigo respirar, as palavras voam como voa o meu cabelo quando os pássaros mergulham na minha mão e adormecem, não consigo, queria dormir, quero dormir, quero brincar no quintal e fazer-te um papagaio em papel, daqueles que eu te fazia,
Lembras-te?
Ficavam sempre pendurados nas mangueiras, entre o Sol e a alegria da juventude, e o vento?
O vento emagrece os ossos pincelados na Ressonância Magnética, e os teus braços abraçam-me na solidão vagabunda do planalto, olho a montanha, olho-me no teu espelho,
E tão velha…, e tão sonâmbula das noites sem dormir.



Francisco Luís Fontinha
06/10/2017


02.01.15



(desenho de Francisco Luís Fontinha)


 


 


Sílabas desencantadas com as minhas tristes palavras,


vírgulas... suicidadas


na árvore azul da parede de gesso,


do outro lado... o espelho do teu olhar,


... o meu rosto parece um verme faminto,


... o meu corpo sobrevoa as sombras do poema...


sem título,


sem dedicatória...


sou uma nódoa envelhecida,


que desce as profundezas do desejo,


sou um esqueleto sem estória...


um pedaço de papel em brasa,


sílabas,


desencantadas,


tristes palavras,


que o tempo alimenta e o luar desenha (no espelho do teu olhar)


as canções emagrecidas,


as cordas voláteis dos homens sem cidade para vomitar...


sem título,


sem dedicatória... nem arma para disparar.


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sexta-feira, 2 de Dezembro de 2015



31.05.14

O abstracto,


quando o sorriso se transforma em chuva,


o abstracto silêncio das tuas palavras,


desfasadas,


misturadas nas pálpebras de um fio de luz,


 


O abstracto meu corpo, laminado pelas garras do amor,


o sítio negro do teu peito,


o cofre das tuas flores de papel,


o abstracto mar que corre no teu abdómen,


como neblina sobre o rio da saudade,


 


O abstracto...


o dia morre,


o relógio nocturno das tuas coxas..., abstractas, mergulham em mim como a âncora de madeira cansada,


e tudo parece adormecer em nós...


a cidade, a rua onde existe um quiosque de algodão e arde,


 


O abstracto facalhão que traveste a solidão em paixão,


a ressaca do esqueleto em módicas trinta e seis prestações,


o abstracto corpo sem alicerces,


dançando na copa da árvore das tuas tristes lágrimas...


e um barco entra em ti,


 


Vives no abstracto espelho,


suspenso nas gaivotas cinzentas das searas envenenadas,


uma fotografia diz-me que tu deixaste de ser menina,


hoje és uma pedra, abstracta e sem nome,


que desce a montanha do meu olhar...


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sábado, 31 de Maio de 2014

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