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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


22.01.14



foto de: A&M ART and Photos


 


As suas siglas perfumadas subindo as escadas do desejo


abraçando as singelas sílabas abandonadas que espreitam a madrugada entre o cortinado e a alvorada


sinto o bater das pérolas negras que caminham corredor abaixo... e na paragem do eléctrico


junto à porta que dá acesso à biblioteca


os teus seios mergulhados na argila manhã de triste neblina


criança ainda


perfumada


a sigla de ti acompanha as outras siglas deles até que acorde o Pôr-do-Sol


que venha a noite e traga muitos amigos


feiticeiros e feiticeiras


janelas e abrigos


bandeiras... portas e luares sem Janeiro...


 


As suas siglas perfumadas subindo... coitadas as derreadas canções de Abril


(Ora aí está... que acorde então a madrugada, que se abram todas as janelas, e que o dia finja ser um belo domingo, sol, muito sol... e ao longe... ao longe a praia, os coqueiros...)


os silêncios de mim entranhados nas tuas mãos


sentia-te saltitar sobre as finas areias da Baía...


os barcos nossos lançavam-se nos teus seios... e sabia-te sentada sobre as mangueiras do amanhecer...


 


O fogo permanece na tua alma inconstante


o fogo alicerça-se nos teus olhos de sincelo... e sem o saberes uma flor quadriculada dança nas pálpebras húmidas da paixão


dormes sem mim porque o infinito acontece todas as noites depois dos dispersos horários se debruçarem no varandim com telhados de prata


a tua pele fervilha e arde


e o fogo em ti é como as palavras em mim


nada de especial


o papel simples e informal...


sem gravata


sem... sem as apaixonadas mulheres nas borboletas de veludo que a luz ilumina


quero gritar não consigo


consigo gatinhar sobre a geada Aurora e não o quero


quero... e não percebo porque morrem todas as siglas perfumadas subindo as escadas do desejo.


 


 


@Francisco Luís Fontinha – Alijó


Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2014



02.09.13



foto de: A&M ART and Photos


 


a quem pertencerá este corpo que habita nas escadas do meu sótão?


não vestido


voando como abelhas e poisando nas pétalas de madeira


debaixo do corrimão...


 


oiço-o ofegante adormecido nas noites de solidão


oiço-o em corrida apresada descendo a calçada


abrindo janelas


abrindo... olhares cintilantes com sabor a estrelas do mar


 


oiço os apitos marinheiros


embriagados por ti


e em ti


quando inventas seios de prata e coxas de chocolate


 


oiço-o mergulhar nas minhas asas


são os teus sorrisos vagabundos como silêncios prisioneiros das aranhas clandestinas


mórbidas


mortas pela ranhura de uma lâmina de barbear


 


(a quem pertencerá este corpo que habita nas escadas do meu sótão?


não vestido


voando como abelhas e poisando nas pétalas de madeira


debaixo do corrimão...)


 


e oiço-o suspenso nas árvores do jardim da Estrela


e oiço-o que me chama e precisa das minhas mãos para subir as escadas da insónia


pertencerás tu aos grandes pilares de areia?


o comboio cintila e morre nos teus olhos cintilantes envenenados pela luz falsa


reescrita nos muros das palavras deambulantes que as gaivotas trazem da ilha...


oiço-o


e oiço-o sobre a cama esperando pelos meus lábios de sabão


como as pequenas caravelas de esferovite perdidas no tanque dos quatro caminhos


 


a quem pertencerá? um corpo voando nas marés de vidro


um corpo um apenas e simples corpo


o teu corpo que ninguém consegue explicar a quem pertencerá...


terá nome idade sexo religião? um corpo putrefacto como as flores de Sábado à noite...


 


 


(não revisto)


@Francisco Luís Fontinha – Alijó


Segunda-feira, 2 de Setembro de 2013



11.05.13



foto: A&M ART and Photos


 


Subo até desistir de caminhar sobre cobertores


e finos espelhos de aço


subo teu corpo meu poiso ancorado


sabendo que em cima da cúpula cúbica uma raiz quadrada morre e cai...


e subo e desço e sento-me sobre as linhas rectas do desejo,


 


Procuro e busco beijos tridimensionais


beijos em lábios triangulares


como um sótão solitário debaixo do céu


um bocadinho acima da saudade cidade


entre esparsas lágrimas e panos margaridas,


 


Subo


e desces por mim até chegares ao terminal número cinco


faixa três primeiro andar esquerdo na rua dos pilares de areia...


e desço sobre ti


como descem as madrugadas nas pálpebras cinzentas das tuas mãos,


 


Sou um imbecil programado


iletrado e desalinhado como os parafusos das dobradiças do teu púbis montanha de peixe


e conversávamos sobre poemas de leite


e conversávamos...


as minguas cavidades sombrias das frestas do delírio que a noite desenhava em nossos corpos de maré revoltada,


 


E línguas de xisto derramavam sobre os teus seios em socalco


subtis palavras em pedaços de terra adormecida na esplanada do abraço


e a deleitada manhã ensanguentada pelos carris de uma paixão invisível


e talvez impossível de desenhar


evapora-se dentro da tua doce boca com sabor a naftalina...


 


(não revisto)


@Francisco Luís Fontinha



26.03.13



Foto: A&M ART and Photos


 


Há um amontoado de espelhos e cobertores


que me levam até ti


há um corrimão onde poisamos as nossas mãos


e juntos


procuramos o sol,


 


Há um sótão


onde supostamente habita esse procurado sol


tem uma janela com pequeníssimos vidros de cetim


e uma fotografia para o mar


onde partem e regressam os barcos de brincar,


 


Leio os livros espalhados nesse sótão


onde às vezes adormecemos vaiados pelo cansaço da noite


mergulhados em palavras


e imagens


e sonhos suicidados dentro das tempestades do inferno,


 



silêncios dentro do sótão


fragmentos de porcelana abraçados a pedaços de cola


há uma jangada com velas de linho


que dentro do sótão pedem clemência ao vento traiçoeiro,


 


Há beijos disfarçados de solidão


e bocas em desejo


nos lábios da insónia...


há em mim coitados pássaros loucos


pássaros que só o nosso sótão consegue alimentar.


 


(não revisto)


@Francisco Luís Fontinha



15.11.11

Subo as escadas


E desço as escadas


A minha vida são duzentos e cinquenta degraus


Um corrimão


E subo


E desço


As escadas


E subo até ao céu


 


Cansado


De subir até às nuvens


E à noite


E à noite regressar ao rés-do-chão


 


Abrir a porta


Fechar a porta


Corredor e corredor


Desvio-me dos petroleiros


 


Abrir a porta


Fechar a porta…


Abro os bracinhos


E zás… aterrar sobre os lençóis da noite


 


Duzentos e cinquenta degraus


Uma vida de merda


A subir escadas até ao céu…


E deus sempre ocupado ou ausente


 


E oiço a voz de deus


SÓ PARA A SEMANA!


E desço os degraus


Os malditos duzentos e cinquenta degraus…


 


E espero


E espero que o calendário pendurado na cozinha…


Que o calendário caminhe apressadamente uma semana


E que finalmente deus me receba

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