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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


21.04.19

Roubo as palavras aos meus poemas.


Nem assim ficas contente,


Pareces o vento,


Na cama sorridente.


Roubo as palavras aos meus poemas,


Vejo-te em sofrimento


Como um gladíolo camuflado,


Vai haver uma revolução…


Todos as flores,


Serão todas as espingardas,


Que vão tomar conta da cidade.


Roubo as palavras aos meus poemas,


Roubo os versos,


Os livros,


E fujo de ti.


O cansaço levo-o,


E a enxada da tristeza, também,


Roubo todos os desenhos nas paredes envernizadas da minha casa,


Um casebre ambulante,


Numa qualquer cidade,


Disfarçada de aldeia,


Entranhada nas montanhas do sangue…


Abruptamente, sofro com a tua partida.


Roubo as palavras aos meus poemas,


Batem-me à porta,


O carteiro não será,


Hoje é Domingo


Páscoa,


Dia Santo…


Santo não o sou,


Se o fosse queria ser o santo das esquinas,


Onde habitam os meus amigos,


Parentes e familiares…


O fim de tarde,


O fim dos livros, nos fins de tarde;


O domingo fatídico…


Abstracto,


Como sempre foram os meus Domingos.


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


21/04/2019


16.03.14



foto de: A&M ART and Photos


 


Não sei quem és, como te vestes e o que pronuncias, não sei se és um pássaro em decomposição, uma árvore solitária que habita os jardins da cidade adormecida, tão pouco se és a madrugada, o Domingo quase a terminar, a noite a nascer, não, não sei o que és e quem tu és,


Como posso eu sorrir às tuas lágrimas? Percebes-me agora? O Domingo em término, a noite quase noite, a crescer e a erguer-se na tua boca de cristal, e quase não oiço as tuas palavras de porcelana, e quase, a janela da paixão a encerrar-se eternamente, para sempre e só..., hoje tu, amanhã eu, depois as pedras e os canteiros, as flores, os pinheiros de uma infância entre o mar e a montanha, sinto-me prensado, sinto-me um muro argamassado pela tristeza,


Quem sou?


Não sei, nunca soube, talvez... talvez no Domingo que vem, talvez amanhã, talvez no descanso das roldanas, uma corda em direcção ao sexto andar, subo as escadas, sinto-me cansado, os cigarros, a idade, a saudade, novamente os cigarros,


Oiço-os como testemunhas de uma fogueira em evaporação,


Cigarros vadios, como-os vivos, oiço-te e não sei


Quem sou?


Sim, e tu, quem és, o que fazes aqui, aqui dentro de mim?


Uma esplanada vazia, e regressa o dia da Poesia e eu sem poemas para ti... porque, porque não sei quem és, o que fazes dentro de mim, deixas-me cansado, ausente, embriagado, e sei que algures nessa cidade vives e choras, e recordas meia dúzia de cartas, poucas palavras,


E eu, eu sem poemas para ti,


Quem sou?


O vento, sim o vento, pensas que eu sou o vento? Sim, penso, imagino-te sentado na esplanada vazia, apenas uma mesa e quatro cadeiras, conversas com duas ou três sombras, bebes uma bebida invisível, pegas num livro, voltas a poisa-lo sobre a mesa, depois vais à gabardina e puxas de um pequeno caderno, acendes o cigarro, desorientadamente...


Quem sou?


O cigarro acende-se a ele próprio, ganha vida como as tuas palavras, sofre e chora, e acredita na tristeza como acredita que tu, sim tu


O vento!


Sim eu, percebo que me imagines como o vento quando se alicerça na minha pele, sim como o vento, quando rodopia em redor dos meus seios, e tu, e tu


Eu?


Oiço a voz, oiço-os a arder na escuridão de um final de Domingo, amanhã, amanhã talvez..., amanhã talvez “uma esplanada vazia, e regressa o dia da Poesia e eu sem poemas para ti... porque, porque não sei quem és, o que fazes dentro de mim, deixas-me cansado, ausente, embriagado, e sei que algures nessa cidade vives e choras, e recordas meia dúzia de cartas, poucas palavras”, e eu, e... eu,


Só, eu e uma corda em direcção ao sexto andar...


E eu, eu sem poemas para ti,


Quem sou?


 


(ficção)


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 16 de Março de 2014



30.09.13



foto de: A&M ART and Photos


 


voávamos sobre as espigas cremadas do centeio


e era Domingo


e... sentíamos nas asas o perfume da madrugada


voávamos conforme tínhamos combinado na véspera da tempestade de areia


sentíamos no rosto as lâminas de xisto impregnado na pele doirada dos nossos corpos de açúcar


e da água víamos-nos desaparecer no cesto de papeis junto à escrivaninha embriagada


bebíamos licor de amêndoa como se dentro dos pequenos cálices de cristal


houve uma árvore com braços de prata


uma árvore recheada de pássaros


barcos


e montículos de areia


com sabor a insónia


 


amávamos as raízes escondidas nos túneis nocturnos das lâmpadas em flor


e era Domingo


e


e... voávamos nas encostas íngremes do silêncio


da boca rasgada do amanhecer ouvíamos os gemidos enlouquecidos dos mabecos adormecidos


e corríamos em direcção ao mar


e dormíamos sobre um cobertor de poesia


papeis voavam sobre o teu rosto de sílaba apaixonada


e das teclas de escrever que poisavam na tua fina mão de cerâmica


os sons metódicos de um máquina engasgada nas janelas de orvalho


descíamos as escadas do inferno...


e sabíamos que nunca mais ouviríamos as perdizes cinzentas nos corredores do desejo


 


(não revisto)


@Francisco Luís Fontinha – Alijó


Segunda-feira, 30 de Setembro de 2013



04.08.13



foto de: A&M ART and Photos


 


Dia de voar sobre as árvores..., estava escrito no teu braço esquerdo, li, fiquei indiferente, regressei e percebi que sim, que era Domingo, e que aos Domingos voávamos sobre as árvores,


E que dos teus olhos Margarida brincavam as pálpebras encarnadas do desejo, cerrei os meus olhos, e vi, começaste a levitar em pedacinhos milímetros de cada vez, e quando percebi, pouco importava já, tinhas-te diluído com a neblina acabada de nascer,


Dia de voar?


E vi, e aos poucos entraste nos meus olhos, despias-te, e vagueavas como uma andorinha de íris em íris..., até que acordei, abri os olhos, e tu, não estavas, e tu, não existias em mim..., dobravas-te sobre a neblina, o sombreado teu corpo mergulha no espelho do calendário suspenso na parede da cozinha, cheiravas a naftalina, a roupa despida numa tarde de Domingo, dia, de voar,


voar?


Sim, minha querida, sim, voar sobre a planície dos arbustos domésticos, voar sobre as árvores, porque


Hoje é Domingo,


Porque uma criança em birra não come a sopa, porque um palhaço no circo, triste, deixa de fazer rir, porque...


Hoje


Domingo,


Porque vejo nos teus olhos o desejo de seres desejada, porque invento histórias quando as nuvens descem sobre nós, eu, e tu, e lá fora a mesma criança que muito há pouco fez uma enorme birra devido a não querer,


Não quero, não gosto de sopa,


Tu, tu esqueceste-te de mim, tu cerraste os lábios e proibiste-me os beijos, tu, tu cerraste os olhos e proibiste-me os olhares Primaveris de quando passeavas nos jardins do Palácio, Belém fervilhava, fervilha, como tu, quando te despes, como tu, quando te desembaraças de todas as tuas roupas e me dás as mãos e


Domingo,


Dia de voar sobre as árvores..., estava escrito no teu braço esquerdo, li, fiquei indiferente, regressei e percebi que sim, que era Domingo, e que aos Domingos voávamos sobre as árvores, e que hoje vamos começar a voar sobre as árvores, sem roupa, apenas tu, apenas eu, e um dia, não Domingo, um outro dia


Vais, sim, acredito, um outro dia vais tocar para mim, só para mim,


Um outro dia, os sons melódicos do teu piano e as gotículas de suor da tua pele poética, não Domingo, não, um outro dia, tu, tu vais tocar só para mim, e eu, e eu poisarei a minha cabeça sobre o teu ombro, inventarei uma tempestade para ficares dentro da sala, eu, tu e o teu piano, Domingo, não


Domingo não,


Talvez um dia, talvez uma bela manhã, talvez numa feliz noite de inverno, livros, o piano, tu e a lareira..., mas


Domingo?


Mas...,


E vi, e aos poucos entraste nos meus olhos, despias-te, e vagueavas como uma andorinha de íris em íris..., até que acordei, abri os olhos, e tu, tu não estavas, e tu, não existias em mim..., dobravas-te sobre a neblina, enrolavas-te como uma rosa bravia, ias à janela e ficavas a olhar as notas musicais dos teus dedos a despedirem-se do Domingo...


Não, Domingo, não, não Domingo,


E sorrias no prazer dos pássaros, antes, muito antes do teu corpo silenciar-se na nocturna insónia em pequenos desejos masturbais...


Desejar-te desejo, como às palavras ainda não escritas, soltas e vagabundas...


Domingo?


Não, não Domingo.


 


(não revisto – ficção)


@Francisco Luís Fontinha – Alijó



26.05.13



foto: A&M ART and Photos


 


Estás tão triste querida melancolia tarde de Domingo


o vento levanta-se dos teus anseios cabelos


como o mar se acorrenta nos teus abraços


dos belos castanhos beijos


e os medos vaiados pelos poemas teus olhos


que alimentam a tua boca em desejo,


 


Tão tristes as paredes ruínas que encobrem as tuas melodiosas canções de amar


sabendo tu que o amor é um Sábado disperso e cansado


comendo amêndoas recheadas com chocolate e pequenos versos


e grandes nadas


tão triste querida palavra que não sou capaz de pronunciar...


porque hoje é Domingo,


 


Porque hoje é melancolia adormecida


luz em pequenas lâminas de silêncio


sobejantes janelas sem os cortinados do dia...


uma ardósia encolhe-se-te no centro dos teus seios


e todas as palavras de amor


choram como crianças arrependidas...


 


(não revisto)


@Francisco Luís Fontinha



15.04.12

Consultei as estrelas e os fios de luz ausentes na manhã de domingo, no pulso emagrece um velhíssimo relógio cansado das horas, dos minutos e dos segundos,


lá fora chove, lá fora as acácias em flor perguntando-me,




  • Porquê hoje,




porque hoje é domingo Respondi-lhes secretamente dentro das árvores alinhadas no jardim perdido no oceano, os ramos desertos, as folhas parecendo lençóis pertencentes à noite dos mendigos passeando avenida abaixo em direcção ao infinito, eu mendigo invisível abraçado a um pedacinho de silêncio que sobejou do meu último cigarro, um livro desespera e esconde-se debaixo da janela sem vidros e sem cortinados, olho-me, olho-me e pareço uma montanha que desce as escadas do amanhecer, escondo-me na sombra do rio, e o rio sou eu,




  • Porquê hoje se amanhã é mais um dia perdido nas sandálias do vento, porquê hoje quando amanhã será outro dia, outro relógio de pulso na minha mão, hoje não,




hoje consultei as estrelas e os fios de luz ausentes na manhã de domingo, hoje caminharei para o dia de ontem até evaporar-me como os grãos de pólen nos lábios das abelhas, olho-me, olho um esqueleto perdido nos dias, olho um esqueleto perguntando às acácias Porquê hoje, e ninguém, e ninguém saberá responder-lhes, nem, nem o dia de amanhã, nem tão pouco o dia de hoje, domingo, lá fora chove, lá fora chove e um homem de sobretudo e cachimbo na boca procura desesperadamente o número de polícia inscrito no olhar, batem à porta, e ninguém, e ninguém para a abrir, uma janela sem vidros e sem cortinados,




  • Solta-se da fachada em ruínas que o meu corpo transporta, os alicerces cambaleiam nas pedras desalinhadas da calçada, uma rua chora a partida do homem do sobretudo e cachimbo na boca, e solta-se da cidade um coração sem dono, um coração construído em titânio que procura sem encontrar um número de polícia inscrito no olhar,




e o desejo de ser domingo acorda em mim,




  • Porquê hoje,




(e tanta porcaria que aprendi, desde trabalhar com um computador sem disco rígido, porque ainda não existiam, passando pelo MS-Dos, dois drivers de cinco polegadas e meia em cartão, uma com o sistema operativo e a outra para guardar textos e pouco mais, e os poemas escritos no WordStar perdidos algures no esgoto da noite, C:\dir *.*, c:\del *.Amor e todos os ficheiros com a extensão amor para a lixeira, Lixeira?, qual lixeira..., para o inferno, C:\format a:, C:\move *.* a:\Noite)


e pergunto-me porquê hoje domingo, e digito tree e vejo no espelho todos os arquivos do meu corpo, alguns protegidos C:\Attrib +R francisco.exe, outros, outros desprotegidos e escondidos na algibeira juntamente com os cigarros, juntamente com os vidros e os cortinados da janela...




  • E caí na asneira de desenhar uma árvore, e ouvi da psicóloga,




Está apaixonado,


e nunca mais desenhei árvores.


 


 


(texto de ficção não revisto)

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