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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


24.01.23

Desejo-te e abraço-me aos teus doces lábios de mel, no teu peito, procuro a manhã que o silêncio da noite deixou ficar nas amarras do destino, foges-me durante o sono, em pequenos pesadelos que as estrelas beijam, nesta pobre cidade, com o rio nas suas mãos, onde circula livremente a paixão.

Escrevo,

Cartas sem destinatário na ânsia que dos teus doces lábios de mel acordem as palavras envenenadas, nas palavras em desejo, quando o mar te abraça e ao meu ouvido regressa o sussurro ciciar dos gemidos em luar.

Um grito, dentro de mim.

Olho-te e confundo-te com a lua; há nesta pirâmide em desejo as primeiras lágrimas da madrugada, lágrimas que aos poucos se vestem de sol, e a alegria grita no meu destino.

Desejo-te e abraço-me,

Canções que me cantavas e eu trocava o sono por pensamentos, canções de menino, quando uma criança poisa nas abelhas em flor, e tudo isto, numa simples carta, sem destino, remetente, cidade ou País,

Tanto faz,

Um dia voarei na lâminas cinzentas das sanzalas sombreadas pelo fogo do desejo, gemes, oiço-te na penumbra noite dos musseques há muito assassinados por um papagaio em papel, amarras entre ossos e pedaços de silêncio, quando a carta que escrevo, sem destinatário, sem remetente, se abre ao acordar da noite.

A noite deixou de me pertencer.

A noite pertence às lágrimas de uma criança; tão triste, quando nos olhos de uma criança brincam lágrimas em papel flor.

Tão triste, quando no rosto de uma criança habitam lágrimas de fome, quando na peste das palavras, de quase todas as palavras, uma criança tem no rosto as tristes manhãs de Inverno.

As viagens intermináveis do espelho sonolento que a paixão constrói nos olhos do mar, e dos teus doces lábios de mel, sinto o frio areal que os teus cabelos semeiam, semeiam em mim o desejo de voar,

Neste fogo de suspiros que se encostam aos umbrais da ferrugem tarde, vejo o meu barco em cartolina, em pequenos círculos de sono, quando a noite nos leva, sobem até às nuvens coloridas de um coração,

Um pequeno crepúsculo, que se esconde nos teus olhos.

E os teus doces lábios de mel deixaram de pertencer à noite; agora, são os meus doces lábios de mel.

Trago na mão o sol, trago na mão a espada com que vou cortar a tristeza e a solidão, até que um dia, um dia…

Dos teus doces lábios de mel,

Uma criança,

Desenhe na terra o sorriso da lua.

Pensava eu, enquanto dormia abraçado aos teus doces lábios de mel.

 

 

 

Alijó, 24/01/2024

Francisco Luís Fontinha

(ficção)


20.10.22

Caem de ti

As sílabas do silêncio,

Árvore enamorada,

Caem de ti

As pequenas lágrimas

Sobre esta calçada,

Caem de ti

As minhas tristes palavras…

 

Palavras de nada.

Caem de ti

Os cabelos cinzentos do destino,

Caem de ti

Os pássaros enforcados,

Nas mãos daquele menino.

Caem de ti

Todos os corações amargurados.

 

 

 

Alijó, 20/10/2022

Francisco Luís Fontinha


29.08.21

O que faz esta janela encerrada na minha mão?

Pergunta-se ele, pensando que alguém o ouve. Sempre que puxa de um livro, a poesia nasce,

Dorme,

Morre,

Nas palavras que escreve.

É tarde, meu amor, ouvem-se os apitos gemidos do teu corpo e, dentro dos gonzos da solidão, oiço os pássaros rio acima.

O corpo sofrido, amar-te antes que adormeça o dia, morra a noite

E,

Se escreva na tua mão o esplendor da inocência adormecida. Pensando melhor, amanhã, deixarei de semear as palavras da saudade,

Nunca.

Esquecerei aquele rio embriagado,

Cansado,

Triste de mim.

Há na tua sombra, o retracto da menina envenenada pelo desejo, num qualquer quarto de hotel, de terra em terra, de circo em circo, de mar em mar,

Amar-te; depois das doze horas,

O lençol espreguiça-se contra nós e, sentimos o peso das carícias que só os poetas sentem e, percebem. O palhaço rico, o palhaço pobre e o defunto, todos aos gritos de encontro à enxada da vaidade. Esqueço-me de acordar, levanto e vou de encontro ao cortinado ainda sonâmbulo e, aos nocturnos esqueletos, a luz que apaga a imagem que durante a noite,

Ela,

À noite o que é da noite.

As sílabas estonteantes, os gritos deste palhaço à muito embebido no éter málico das tempestades de Agosto,

Sinto-o,

Diz-me ela.

Tem quatro relógios, nenhum deles escreve as horas, faltam-lhes a fome que antes tinham e sentiam e, que hoje quase nada podem comer. Segundo a lâmpada do escritório deverão ser qualquer coisa como depois das vinte e três,

Horas,

Minutos,

Segundos de vida.

(Se escreva na tua mão o esplendor da inocência adormecida. Pensando melhor, amanhã, deixarei de semear as palavras da saudade,

Nunca.

Esquecerei aquele rio embriagado,

Cansado,

Triste de mim).

Os barcos, meu senhor, são para venda?

Para comer não serão eles, responde-lhe,

E muito bem, quem neste reino se alimenta de barcos?

O velho, o macaco e a tia.

O velho pensava que fodia,

O macaco,

Da tia,

Abram-se os alicerces da memória, escrevam-se as escrituras da terra adormecida, levantem-se os esqueletos da prefeitura,

E

Não!

Ninguém sobrevirá a este tremendo castigo; escrever

Depois da morte

E, viver.

Vive-se de quê?

Da sorte.

Envenenado pelo silêncio, ou

Sempre que quero

Foge.

Amanhã,

Hoje,

As cinco pedras do destino.

 

--------------

À noite o que é da noite.

As sílabas estonteantes, os gritos deste palhaço à muito embebido no éter málico das tempestades de Agosto,

Sinto-o,

 

Neste Agosto perdido.

Neste Agosto sofrido.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 29/08/2021


11.03.20

O tempo silencia os teus lábios de cereja adormecida,


Quando a nuvem da manhã,


Poisa docemente no teu sorriso;


Há palavras na tua boca,


Que absorvo com saudade,


E, nada me diz, que amanhã será uma manhã enfurecida pela tempestade.


Subo à sombra do teu olhar,


E, meu amor,


O cansaço da solidão deixou de acordar todas as manhãs.


Fumamos cigarros à janela,


Dentro de nós um volante de desejo,


Virado para a clarabóia entre muitas janelas,


Portas de entrada,


Escadas de acesso ao céu,


E, no entanto, o fumo alimenta-nos a saudade,


Porque lá longe,


Um barco de sofrimento, ruma em direcção ao mar.


É tarde,


A noite desce,


O holofote do silêncio, quase imparável, minúsculo, visto lá de cima,


Ruas, caminhos sem transeuntes, mendigos apressados,


Vagueando na memória.


STOP. O encarnado semáforo, cansado dos automóveis em fúria,


Correm apressadamente para Leste,


Nós, caminhamos para Oeste,


E, nunca percebemos as palavras que as gaivotas pronunciam,


Em voz baixa,


Com os filhos ao colo,


Sabes, meu amor?


Não.


Amanhã há palavras com mel para o almoço,


Dieta para o jantar,


E beijos ao pequeno-almoço;


Gostas?


Das nuvens da manhã?


Ou… dos pilares de areia que assombram a clarabóia?


Nunca percebi o silêncio quando passeia de mão dada com a ternura,


De uma tarde junto ao rio,


Ele, folheia um livro,


Ela, tira retractos aos pássaros,


E, porque te amo,


Também vagueio,


Junto ao rio,


Sem perceber o meu nome,


Que a noite me apelidou,


Depois do jantar,


Numa esplanada de gelo.


O ácido come-me, a mim, às palavras, como a Primavera,


Num pequeno quarto de hote,


Entre vidros,


Livros,


Palavras,


E, desenhos.


(aos depois)


Nada.


Brutal.


Os comprimidos ao pequeno-almoço.


Fim.


Amanhã, novo dia, nova morada, beijos,


Cansaços,


Abraços,


E, portas de entrada.


O amor é luz.


O amor são flores, árvores e, pássaros.


E pássaros disfarçados de beijos.


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


11/03/2020


20.12.15

Neste porto onde me encontro fundeado pareço um pergaminho desgovernado,


As palavras fugindo para o Cais dos Afogados


Como se houvesse um silêncio em cada palavra escrita,


Deixei de pertencer ao meu corpo,


Deixei de ter corpo,


Para alimentar o desassossego da solidão,


Neste porto


Um infeliz marinheiro sem Pátria,


Em busca da sua embarcação…


Fundeada nos meus braços,


Carrego nos ombros a morte,


O infeliz destino de ser menino,


 


Carrego nos ombros a forca


Dos telhados de vidro…


E o triste destino.


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


domingo, 20 de Dezembro de 2015

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