Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


28.07.14

Um rio esquizofrénico que não me deixa viajar,


sou acorrentado ao tédio cansaço do cais invisível,


não durmo, não vivo... vivendo nos lábios do desamor,


uma estrada congestionada abraça o teu corpo de linho,


e pareces um cortinado com odor a morte suspenso na solidão,


sem sorte,


grito, fujo... às palavras começadas por... não sei, talvez... talvez por A,


vendo o meu nome em troca de livros, vendo poemas em toca de beijos,


vendo-me... vendo-me em troca de nada,


nada,


que hoje a noite vai ser uma trampa,


um rio, um rio esquizofrénico que não me deixa viajar...


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Segunda-feira, 28 de Julho de 2014


17.11.13



foto de: A&M ART and Photos


 


Inventei o cansaço


o tédio


e a dor


inventei os palhaços em aço


o remédio


e o amor


fui amado


desamado


e dissecado por um doutor


inventei as amendoeiras em flor


os guindastes em movimento


e o vento


 


(fui filho


sou filho


e continuarei a ser... filho)


 


inventei o cansaço


o tédio


e a dor


tive palavras reescritas em muros em xisto


sou pai dos profetas falhados


inventei o livro da noite com holofotes embriagados


fui drogado


fui homem deambulando nos silêncios das montanhas amoreiras


fui desempregado


cristão


e baptizado


inventei-me homem e sou um livro sem coração


 


inventei-me sabendo que tu me inventavas


inventei a palavras que tu me odiavas


inventei o cansaço


o abraço


e os lábios com sabor a mel


tive pássaros com asas em papel


inventei-me dentro de uma nuvem imaginando que me abraçavas


tive tudo


tive tudo e não tenho nada


fui infeliz


feliz


cadeira de esplanada


 


(fui filho


sou filho


e continuarei a ser... filho)


 


 


(não revisto)


@Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 17 de Novembro de 2013



27.07.13



foto de: A&M ART and Photos


 


Deixemos de ouvir os comboios das tardes de verão, os apitos uivos transformaram-se em palavras tontas, vagabundas ruas com sonoralidade abstracta, olhos azuis os da noite quando vinham as gaivotas às mãos das desnorteadas horas sem regresso com sabor a poesia, e sorrisos lábios poisados sobre a vadia areia das cavernas flores que a madrugada alimentava, e depois, vomitava como vapor da velha máquina ferrugenta fingindo engolir o negro carvão como seara de trigo se tratasse..., ouvíamos, não, apenas eu ouvia os ditongos, não, apenas eu percebia as velhas sílabas em danças de salão, ouvíamos música, não, eu ouvia música, eu


(rua dos segredos, número cinco, rés-do-chão, Lisboa)


Eu fartei-me dos comboios, das máquinas enferrujadas e dos silêncios das tuas velhas madeixas, digamos que... cansei-me de ti, das tuas horrendas letras travestidas em palavras, palavras, palavras, velhas, sempre velhas, comboios... barcaças, e migalhas sobre a mesa da cozinha,


Fumegava em soluços a cansada lareira,


(rua dos segredos, número cinco, rés-do-chão, Lisboa)


Digamos que não passas de um esqueleto de arame dobrado sobre a cidade, prendias-te a um edifício granítico, de um lado, e do outro, percebia-se pela marca do teu pulso que estavas suspensa a uma ratoeira invisível com janelas circulares, o teu corpo parecia um petroleiro fundeado dentro do Tejo junto à dentadura em Marfim de Almada, do outro lados, eu,


Eu percebia que nunca mais comboios, eu percebia que nunca mais ruas curvilíneas, de sentido único, sem banco em madeira, sem flores, sem jardins..., sem meninos e meninas a brincarem aos comboios eléctricos, eu percebia que nunca mais os soluços que fumegavam da cansada lareira em triste insónia, e que a paixão e o amor...


Eu


Digamos que não passas de um esqueleto de arame dobrado sobre a cidade, uma esfarrapada bandeira que o mastro de um veleiro transporta, gaivotas, elas, também esquecidas dos apitos uivos, elas também, as madames, vestidas com folhas de jornal, e passeando-se nos carris envenenados da cidade canibal, e sabíamos que na rua dos segredos, número cinco, rés-do-chão, Lisboa, havia tambores em desvairados transparentes rufos, eu não te merecia, só, eu, apenas eu, não eu, apenas eu,


Eu?


Só porque o quero...


Deixemos de ouvir os comboios das tardes de verão, os apitos uivos transformaram-se em palavras tontas, vagabundas ruas com sonoralidade abstracta, olhos azuis os da noite quando vinham as gaivotas às mãos das desnorteadas horas sem regresso com sabor a poesia, a fome em palavras atravessava-me e apanhava-me sempre quando eu


Eu?


Quando eu sentado numa esplanada, ouvia os apitos uivos das máquinas ferrugentas, os barcos ao aço carbono, como trepadeiras subindo pelas escadas do sótão até chegarem ao céu, uivavas, gemias, parecias a locomotiva vaidosa que brincava entre o trigo e o sorriso, eu, lindo, queixava-me que a tua sombra era uma estátua de pedra, uma rocha colorida com olhos de manteiga, eu...


Eu? E que a paixão e o amor...


Só porque o quero...


… levemente distante das chuvas fumegantes das esplanadas com cadeiras plastificadas, os livros, ardiam na lareira que há pouco te falei


Lembras-te?


Eu?


Deixei de os amar,


Deixemos de perceber porque nasciam sorrisos quando deviam crescer lágrimas, e que a lareira só existia porque ainda não tinha regressado de ontem a Primavera de hoje, e o vento trazia-nos as poucas migalhas que sobejaram das sangrentas viagens ao inferno dos peixes; os teus peixes e as tuas algas.


 


(não revisto)


@Francisco Luís Fontinha – Alijó



19.01.13

Para si sou apenas uma invisível árvore de papel


sentada numa pedra triangular


para si sou apenas uma sombra


uma alma penada


uma voz a agonizar


para si sou um barquinho à deriva no mar


com sílabas de espuma


e pálpebras de prata


não sabendo que do amor


vem a claridade das plumas cintilações dos seus abraços clandestinos


para si eu desfaleço como as palavras de ontem


quando o vento entrou no seu peito de acácias e levou o que me pertencia,


 


Para si sou apenas um corpo em agonia


uma flor cansada


que a madrugada cuspiu contra as amaldiçoadas manhãs de inferno


porque você está ausente


ou


porque


para si sou um pedinte um fantasma um palhaço de circo


embrulhado nas palavras ricas


escritas


pelos palhaços empobrecidos


desamados


todos os dias começados por coxas recheadas em versos complexos,


 


A cidade que é a sua cidade


dos seus lábios de onde eu oiço os gemidos de gelo


que a noite semeia nas clarabóias palavras que o mar afoga


para si eu não sei o que possa ser


não sou uma árvore porque você detesta as árvores


não sou um pássaro porque você odeia os coitados dos pássaros


pergunto-lhe – O que sou eu para si senhora minha amada?


Talvez um relógio a pilhas


nos braços de uma extinta voz que a sua cidade escondeu


Talvez um buraco nego em soluços depois de comer um hipercubo


pergunto-lhe - O que sou eu para si senhora minha amada?


(fios


fios de música entrelaçados nas janelas do abismo)


indesejadamente eu pertencendo à sua lista do desprezo monótono das suas noites a preto e branco.


 


(não revisto)


@Francisco Luís Fontinha


Alijó

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2012
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub