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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


07.08.23

20230807_191520.jpg

Esta prisão de esferas

De esperas

De encontros

E desencontros

Esta prisão de feras

Acorrentadas ao gradeamento

Da solidão

Esta prisão

De meras

Nuvens de espuma,

 

Na bruma

Cidade que o Diabo abençoou

Desta pobre cidade

Sem cabeça para pensar

Sem pensar enquanto a cabeça

Anda

Gira à volta do sol,

 

O dó

O pequeno dó

Da dor

Em dor

Ele

Completamente

Doente

E ausente,

 

Doí-lhe o dente

Que já não sente

A paixão

Que era ardente

E ardeu

Na fogueira

Junto ao rio “um dia será”

E antes de adormecer

Toma drageias em forma de cigarros,

 

Dorme docemente

O menino

Nos braços de sua amada,

Dorme

Docemente dorme docemente

O clitóris do desejo

Quando de um beijo

O menino e sua ausente

Amada que sente,

A porta

Abre-se

A janela encerra-se para sempre

Um gaiato vende mortalhas e afins…

E o cacilheiro que eu tinha de apanhar

Engasgou-se

Cento e doze em acção

E morreu

Enfarte

Enfarte de coração,

 

Estaria apaixonado

Pergunto eu

Pois segundo o meu professor de TH

O coração é a bomba mais perfeita que existe…

… e não foi construída pelo homem,

 

Dá que pensar, professor.

 

Então

O que é a paixão?

Se o coração é uma bomba,

Será a paixão um fluido?

E o amor?

Uma válvula

Qualquer coisa como um pequeno vedante

Uma porca

Um parafuso

Um fio eléctrico

E o raio do homem sem fuso

E sei lá eu… o meu nome,

 

O eléctrico

Avança

Rio acima

Agacha-se quando passa debaixo da ponte

Olha-a

(que linda estrutura)

Como se contemplasse o último sorriso do paraíso

E sem juízo

É agora maquinista da CP,

 

Um apito

Acorda do teu peito

Uma voz rouca com uma placa de identificação na lapela…

Grita-me

Olho-a

E odeio-a

Depois

Sempre aquele maldito rio

Que umas vezes o apelido de paixão

E outras

Muitas outras

De ranhoso

Incrédulo às mãos de Deus

Criador do parafuso

E da porca

E da broca

Que fura

A porta

E da outra porta,

 

Perco-me nesta prisão de esferas

De esperas

De espermas

De encontros

E desencontros

Esta prisão de feras

Acorrentadas ao gradeamento

Da solidão

Esta prisão

De meras

Nuvens de espuma,

 

Umas

Com cor e coração

E outras

Sem cor

Com comichão

 

Ergue-se

O morto desta cidade de enganos

Deste paraíso invisível

Onde se escondem as segundas-feiras da semana anterior,

E uma equipa de engenheiros…

Projecta as terças-feiras das próximas semanas,

 

Partindo do principio

Eles

Que a Terra não deixa de rodar

Que pare repentinamente

Travões ABS

Caso contrário

Adeus terças-feiras das próximas semanas,

 

Esta prisão de esferas

De esperas

De encontros

Espermas

E desencontros

Esta prisão de feras

 

E se eu pudesse escolher…

(se me pedissem para eu escolher “algo em que eu me pudesse transformar”, certamente, sem dúvida, queria ser um electrão)

 

Sou então

Um electrão

Prisioneiro de esferas

De encontros

E desencontros

Esta prisão de feras

Eu

O electrão

Com velocidade de aproximadamente trezentos mil quilómetros por segundo

Contra a parede

Fodeu-se o poeta,

O artista,

E todo o resto da cidade dos enganos,

 

Deita-se,

Dorme,

Deixa de saber quem é.

 

À meia-noite

Levanta-se

Grita

De pé;

(esta prisão de feras

Acorrentadas ao gradeamento

Da solidão

Esta prisão

De meras

Nuvens de espuma).

 

 

 

07/08/2023

Francisco


04.07.23

20230704_214521.jpg

Enquanto o mar

Enquanto o mar souber o meu nome

Enquanto o mar tiver fome

Enquanto o mar for o mar…

E não apenas um nome,

 

Enquanto o mar

Enquanto o mar for um poema

Que voa e se abraça a uma cama…

Enquanto o mar escrever no luar…

Não existirá lama,

 

Enquanto o mar

Enquanto o mar pertencer à minha mão…

O mar será apenas meu e pertencerá ao meu coração,

Enquanto o mar…

Quando o mar… morrer, deixará de haver paixão.

 

 

 

04/07/2023

Francisco


28.01.23

Às vezes, era o vento que nos tombava,

Outras vezes,

Era a chuva que iluminava os nossos olhares,

Às vezes, sentíamos uma voz que nos chamava,

E de tantas vezes, as outras vezes,

Éramos tempestade na revolta dos mares,

 

Às vezes, escrevíamos na terra enlameada,

Às vezes, sonhávamos com o luar,

E das tantas vezes que esquecemos a madrugada…

Havia sempre um pequeno lugar,

 

Um pequeno lugar sem nome,

Um lugar que às vezes, das vezes,

Nos dava tanta fome,

 

E não era a fome do pão, meu Deus…

 

Porque às vezes, não tínhamos no peito um coração,

Uma bomba perfeita,

Quase sempre tínhamos na mão,

Na nossa pequena mão…

Uma lágrima desfeita.

 

 

 

 

Alijó, 28/01/2023

Francisco Luís Fontinha


14.12.22

As palavras dos teus olhos

São as palavras dos meus lábios

São as palavras da minha mão…

 

Os meus olhos

São os desenhos dos teus olhos

São as palavras da tua mão

São palavras

São música no coração,

 

As palavras dos teus olhos

São as palavras semeadas

Nesta alegre e frágil folha de papel,

 

As palavras dos teus olhos…

São a janela de todas as madrugadas

São só palavras

Palavras,

 

Palavras e mais nada.

 

 

Alijó, 14/12/2022

Francisco Luís Fontinha


30.11.22

Pego na tua mão,

Pequena,

Meu doce de mel,

 

Escrevo no teu olhar,

Poemas ao vento,

E desenho nos teus lábios de luar

As palavras do meu pensamento,

 

Escrevo cartas ao mar,

Lanço beijos aos barcos de papel,

Escrevo cartas de amar,

Amar um pedacinho de mel,

 

Pego na tua mão,

Pequena…

Pequena do meu coração,

 

Coração que me envenena.

 

 

Alijó, 30/11/2022

Francisco Luís Fontinha

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