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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


29.11.22

O Tejo

 

Se Deus estivesse no meio de nós, nunca tínhamos feito amor naquele silêncio que abraçava a noite, junto ao Tejo.

Enquanto trocávamos carícias na ardósia da insónia, sentia as tuas mãos em pequenas brincadeiras no meu peito, mordias-me a orelha esquerda, como se eu fosse um pequeno poema em construção sobre a maré que cobria os nossos sexos; e a paixão incendiou-nos, que do teu corpo em gotículas de prazer, eu, eu ouvia o mar.

 

O circo

 

Tínhamos quinze anos e querias que eu fugisse contigo e transformar-me em trapezista. Como seria feliz hoje se fosse trapezista, em vez disso, preferi ser poeta; o enforcado.

 

Os barcos

 

Imagino-os deitados sobre mim na cama dos sonhos, pegam na minha mão e levam-me em grandes caminhadas pela cidade, junto ao mar.

Hoje, sou o comandante de todos estes barcos em cartão, todos estes barcos que habitam dentro do meu peito, e às vezes, durante a noite, oiço os apitos de todos os luares de Luanda.

Como é bom, ter a vossa mão, meus queridos!

 

 

 

 

Alijó, 29/11/2022

Francisco Luís Fontinha


26.04.19

Sou filho da noite.


Sempre adorei a noite, onde vivem as palavras e os amores proibidos,


Ou impossíveis,


Ou amores inanimados.


 


Quando criança, brincava com aviões em papel,


Papagaios em papel,


Barcos de esferovite,


Com motor.


 


Sempre me lembro desalinhado com os momentos passados,


Tristes, alguns,


Alegres, outros,


E adorava, adoro, o circo.


 


Hoje, temos cá o circo,


Sempre foi o meu sonho fugir com um circo,


Viver de noite,


Andar de terra em terra.


 


Apaixonado pelas árvores.


Pelos palhaços,


Trapezistas


E outros malabaristas.


 


Os últimos já existem na política,


Temos malabaristas a mais,


Todos formavam uma grande companhia de circo…


O circo da merda.


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


26/04/2019

...


22.03.19

O sorriso. O silêncio que habita o sorriso, camuflado na montanha da solidão, o abismo da tristeza embainhada no clitóris da paixão, quatro paredes em suspenso, o sofá com o desenho do meu corpo, ele, dorme,


Hoje é um dia triste, diz ele em frente ao espelho do sofrimento, da horta regressam os pássaros moribundos, capazes de fazer amizades em qualquer situação,


Não.


Não o encontro, abro as janelas, abro todas as portas e todos os telhados da minha pobre casa, mas ele não está, dorme


Hoje há tripas.


Dorme como o silêncio que habita o sorriso, e as estátuas parecem o meu corpo antes de acordar, mórbido, cansado de sonhar, triste, também ele,


Hoje,


Não.


Pego num livro, folheio-o e encontro finalmente a amizade, três palhaços, uma pequena tenda de circo e uma contorcionista escreve poesia nos lábios dos espectadores impávidos, ciumentos, capazes de gritos histéricos ao cair a noite,


Hoje?


Hoje, não, meu amor…


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


22/03/2019


09.04.17

Vagabundos,


Sonâmbulos


Cromos


E outros cromados,


Assim avança a vida do poeta…


Sobre a janela da solidão,


Desamados,


Triângulos de prata no papel amachucado


Correndo pela paixão na juventude das pirâmides sonolentas,


Vagabundos,


Sonâmbulos


Cromos


E outros cromados,


Enigmáticos circos de terra em terra,


Palhaços,


Candidatos a palhaços…


Num empobrecido poste de iluminação,


A forca miserável do inventor


Entre círculos e cubos de sombra…


A inquietude neblina que assombra a mão


Do palhaço candidato a palhaço,


As bocas de esperma descendo a calçada


Até se sentar junto ao rio,


Ouvem-se os socalcos do amanhecer


Quando as enxadas do prazer batem no xisto esfarrapado,


O circo não tem fim,


O fogo adormece as almas dos condenados,


E sobre o papel amachucado…


A casa dos espirros,


Os vampiros telhados das cidades em chamas…


Tudo arde no teu olhar


Como arderam as minhas palavras nas náuseas do sono…


Ergo-me,


Faço-me vagabundo como eles…


E vivo apaixonadamente no cubículo da idade.


 


 


 


Francisco Luís Fontinha


Alijó, 9 de Abril de 2017


04.03.15

Esboço os teus olhos na carlinga nocturna do prazer


finjo caminhar sobre as pedras íngremes do silêncio


em vulcão


as palavras desalmadas do caderno negro


as imagens da melancolia


no espelho secreto dos teus seios


fujo


e sem regresso...


imagino os rochedos da insónia


mergulhando na constelação do adeus


o plágio mágico de uma fotografia


e a simplicidade dos sentidos embainhados nas florestas em solidão


canso-me


e fujo


dos lábios em desejo


como as formigas procurando alimento


nas esplanadas da dor


esboço os teus olhos


o esquisso em desassossego dentro da caixa de madeira


janelas


portas


o segredo


quando os dardos envenenados atingem mortalmente o peito do artista


o circo ofegante


em murmúrios e pequenos gestos pincelados de sangue


os aplausos falsos


e os falsos sorrisos


na aldeia


entre ventos e tempestades de areia


sinto em mim o mar


e todas as marés do amor


o poeta adormece junto ao rio


escreve na espuma tingida de saudade


e canso-me


das palavras


e dos olhares em beijos de luar...


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Quarta-feira, 4 de Março de 2015

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