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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


02.12.17

O silêncio de espuma que embrulha o teu jardim, o banho imaginário nas traseiras da casa onde habita o teu jardim, o teu corpo é um esqueleto de veludo, fossilizado nos fantasmas da noite, regressa o mar, traz na algibeira as flores da madrugada, simples, magoadas, como as sentinelas da morte,


O ausentado menino dos socalcos de xisto, que brinca nas margens do rio envenenado pelas enxadas da insónia, tenho medo, tenho medo dos alicerces da dor quando do teu corpo apenas consigo observar estrelas e fumo…


Ao amanhecer,


A trovoada que abraça a parede granítica do sonho, o miúdo complexo em círculos no quintal infestado de Mangueiras e Mangas, e quando ele percebe, tem um papagaio em papel brincando entre os finos dedos, não chove, deixou de chover nesta terra, deixei de ouvir o cheiro da terra queimada, e o poço é cada vez mais fundo, observo-o, alimento-o, e sinto o peso das plumas nocturnas dos bares de Lisboa,


Ao amanhecer, os vidros das janelas rangem de frio, a lareira morta na esperança de acordar de madrugada, e o silêncio de espuma que embrulha o teu jardim, o banho imaginário nas traseiras da casa onde habita o teu jardim, cobertos por um finíssimo cobertor de geada.


 


 


 


Francisco Luís Fontinha


Alijó, 2 de Dezembro de 2017


08.06.16

Ninguém morre sem primeiro experimentar o veneno da saudade,


O cintilante cansaço dos dias


Nas veias do condenado transeunte,


A cidade…


Ausente,


Meticulosamente só como os poetas da madrugada…


Sem nada na mão


Sem palavras escritas ou cantadas…


A caneta da solidão


Cravada no peito,


A espada do silêncio


Voando sobre as aldeias insignificantes


Do poema,


Como eu


Esperando o regresso do deserto


Sobre esta cama em chamas.


 


Francisco Luís Fontinha


quarta-feira, 8 de Junho de 2016


04.05.16

Finalmente o sossego chegou.


Liberta-se a tarde dos braços do dia,


Quase noite, oiço no interior do meu corpo o outro eu,


Cansado com a vida,


Não vê TV…


E só ouve poesia.


Debruça-se no parapeito da janela sem vista para o mar,


Fuma uns quantos cigarros de enrolar, e saboreia a Lua que se avizinha,


Não tem medo do escuro, não tem medo da chuva,


Mas tem medo da vizinha.


Algures do outro lado da rua


Uma flor desenhada no chão lê “LE CLÉZIO” … “A febre”,


E eu, sem razão aparente, sinto o calor no meu corpo,


Talvez contaminado pela “febre”, talvez porque a flor desenhada no chão


É a flor mais bela que nos últimos anos vi no meu jardim,


O outro eu, entretido com os cigarros de enrolar…


É doido,


Ouve poesia,


Despensa a TV…


E nem se apercebe que terminara o dia,


Levanto-me, estonteante, sinto um círculo de mobiliário do Século passado,


E livros,


Tento abraçá-lo, ele foge de mim como se eu fosse uma nuvem poeirenta,


Com fome,


E com a tempestade no ventre,


Fervilho, a flor desenhada no chão fecha o livro, sorri e desaparece como desaparecem as andorinhas depois da Primavera,


Finalmente está a chover,


E a “febre” começa a baixar,


Já consigo andar,


E sorrir


Para a flor desenhada no chão.


Gosto de Jazz, também gosto de poesia, se possível lida pela voz melódica da paixão,


E sentir na pele o salgado mar


Das cidades portuárias,


Embriagados versos


Ou marinheiros sem Pátria,


Tanto faz,


Quer ele queira quer não… vou abraçar o outro eu,


E seja o que Deus quiser,


Abraço-o,


Beijo-o,


E percebo que somos dois palhaços envidraçados,


Um fuma cigarros à janela,


E eu, o outro eu, encantado com a flor desenhada no chão.


Somos uns coitados,


Um esqueleto com duas faixas de rodagem,


Dois parvos,


Dois parvos.


 


Francisco Luís Fontinha


quarta-feira, 4 de Maio de 2016


25.07.15

Sinto em cada porta uma lágrima,


O grito dos cadáveres em cartolina cinzenta…


Embrulhados nas estrelas,


É tão pequeno o Universo,


É tão insignificante a vida,


E todas as palavras que escrevi,


Em vão…


Odeio esta cidade em ruínas,


E todos os barcos acorrentados a este edifício,


Sinto em cada porta uma árvore em direcção à morte,


Sinto em cada porta numerada...


Um marinheiros sentado à janela,


A luz ténue da esperança cessa em cada mão,


A noite não regressará mais a este corredor,


E a madrugada…


Um palhaço em vidro,


Um circo desesperado,


No medo,


No infinito coração das pétalas adormecidas,


Vagueio,


Deambulo como um soldado envergonhado,


Sem espingarda…


E há sempre em mim uma triste Calçada.


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


IPO – Porto, 25 de Julho de 2015

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