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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


17.12.15

Encontramo-nos no infinito,


Só os dois,


Como as velhas espigas de milho em Carvalhais,


Sentávamo-nos na eira


E ouvia as tuas estórias…


Dizias-me que um dia o rio acordaria no meu leito,


Até hoje, ainda não vi esse rio,


Talvez te tenhas enganado,


Talvez esse rio já tenha adormecido no meu leito…


E eu, e eu sem dar por ele,


Acreditas?


Acreditas nas gaivotas em papel?


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


quinta-feira, 17 de Dezembro de 2015


04.12.15

(dedicado a Carvalhais – S. Pedro do Sul)


 


Diz-me que és


Noite amaldiçoada que me acorrenta à solidão


Prefiro a morte


Do que ausentar-me de ti


Não quero


E nunca quis…


Perder-te para a ilusão


Diz-me o que és


Sombra peregrina das manhãs de nevoeiro


Montanha desgovernada


Descendo a Calçada


Diz-me


Loiça de porcelana entre cigarros e algumas frestas de insónia


Nas pálpebras o imensurável coração de prata


O rio


A ribeira


A eira


O silêncio do sino da aldeia


Perdido nas espigas coloridas do milho


As abelhas poisadas nos teus ombros


A malvada da cidade


Em combustão


Sem idade


Identidade


Ou saudade


Feliz aquele que não tem saudades


Feliz aquele que não sabe o que é a saudade


A ausência


O medo de perder-te


De perder o teu perfume embriagado pelas begónias em papel


Saio de casa


Regresso sem ninguém


Vou a ela


E ela não vem


A noite das sentinelas de cartão


O texto saltitando na cabeça de um prego enferrujado


Suicídio


Suicidou-se com um beijo teu


Enrolou-o ao pescoço


Desceu alguns centímetros…


Foi-se


O poema


A manhã e a noite


Diz-me que és…


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


sexta-feira, 4 de Dezembro de 2015


23.03.14



foto de: A&M ART and Photos


 


A noite não regressa, a noite é uma prostituta convicta, fã da escuridão,


eu, eu pertenço à noite, os teus lábios são filhos da noite, e as estrelas convencem-te que existe vida nas pedras, que existe vida nas árvores e gaivotas, que existe vida nos velhos cacilheiros...


atiro-me ao rio e procuro as tuas mãos que pertenceram ao meu rosto,


vivo, respiro pigmentos coloridos de saudade, e... e como fã da noite, sofro como sofrem os veleiros quando cessa o vento,


 


A noite entranha-se em mim, oleia-me os tentáculos sonoros do meu peito,


finjo viver quando lá fora, quando do outro lado da rua... não vivem, não existem...


nem noite, nem estrelas... e apenas uma corda de nylon me aprisiona a este cais poético derramando palavras nas searas de Carvalhais,


e escondia-me dentro do canastro... e sonhava que um dia, eu, eu pertenceria à noite.


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 23 de Março de 2014



01.03.14



foto de: A&M ART and Photos


 


Da noite percebia-se o olhar felino de Madame Silêncio, havia um cortinado de fumo que nos separava, ela, ela escondia-se sob o perfume camuflado das areias em flor, havia em nós pergaminhos por descrever, palavras inaudíveis que preferíamos não pronunciar, medos, desejos prometidos e não realizados, sonhos desfeitos, como as folhas que o Outono assassina, da noite a noite, só, sem mais nada, do rádio sentia-se a voz trémula de um poema por escrever, alimentado por desenhos insignificantes, tristes talvez, e sabíamos que tudo não passava de uma noite inventada pelos olhos de uma abelha,


Não entendo o sisudo espelho do nosso quarto, dizia-me quando nos preparávamos para dormir, o corpo dela deixou de fazer sentido, inexistente, apenas uma imagem esquecida num edifício caduco, e quase que do outro lado da rua conseguíamos as âncoras do destino, via-se nos seus seios o peso desmesurado da solidão, e às vezes, eu, fingia dormir, e não dormia, e não sabia o significado de dormir, de sonhar, e eu, eu não sabia porque choram os pássaros em Carvalhais, porque me sentava nas margens do Tejo a imaginar palavras no sombreado da preia-mar,


Da noite em ti,


Eu só, ao teu lado, eu só, sem ti, porque o teu corpo era uma réstia de luz que quando abria a janela..., ele desaparecia, o fumo separava-nos, e éramos todas as noites invadidos por sussurros gritos da vizinha do segundo esquerdo,


Os nossos vizinhos constantemente a fazer amor, dizia-me, eu calado, eu


Silêncio,


E sabíamos que tudo não passava de uma noite inventada pelos olhos de uma abelha, e que essa abelha nunca, nunca nos pertenceu, algures tínhamos deixado as mãos no rosto de um gladíolo, havia cheiros, barcos em movimento, corpos transversos, e que nunca percebemos a razão de existirem,


Silêncio,


Eu calado, eu uma rocha ancorada ao púbis dos inanimados marinheiros quando saíam dos bares de Alcântara, os pedacinhos de sono estampados no paralelo agoniado, a cerveja e a vodka davam para alimentar meia dúzia de veleiros, sofríamos a angustia das varandas como fotografias a preto-e-branco, e em nós o sexo penetrava-nos como se fossemos mercadores ambulantes, beijava-se, e amavam-se, e


Madame Silêncio, ela embrulhada num esqueleto esquizofrénico, e havia um cortinado de fumo que nos separava, ela, ela escondia-se sob o perfume camuflado das areias em flor, havia em nós pergaminhos por descrever, palavras inaudíveis que preferíamos não pronunciar, medos, desejos prometidos e não realizados, sonhos desfeitos, como as folhas que o Outono assassina,


Desejosa de


Partir?


E partiu sem deixar um sorriso,


E desejosa, ela, que todas as folhas que o Outono assassina deixassem de ser folhas assassinadas, livres, como dever ser o mar e a paixão.


 


 


(não revisto – ficção)


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sábado, 1 de Março de 2014



29.11.13



foto de: A&M ART and Photos


 


deixarei de pertencer aos teus olhos


e vagamente... deixarei nas tuas nuvens de algodão o cigarro fantasma


deixarei de adormecer nos teus cabelos como o fazia antes das madrugadas serpenteadas


nas oito esquinas do medo


ouvirei perfeitamente as tuas mágoas...


terei o leve cuidado de acariciar os teus lábios


e


deixarei de voar nas tuas lágrimas de maré embriagada


e vagamente transformar-me-ei na cinza do teu imaginário cinzeiro


haverá uma janela engomada


com cortinados de fumo


e haverá... uma língua endiabrada pernoitando no meu angustiado peito


 


servirei de teu mordomo devidamente fardado


andarei pelos corredores da tua imaginação levitando sem tocar nos objectos de adorno


sentirás dentro de ti o meu vagabundo corpo


e nada conseguirás fazer para cessarem os teus sinceros gemidos


baterá o vento levemente nas ardósias dos tentáculos pinheiros de Carvalhais


ouviremos o sino engasgado nas sílabas das searas de milho


deitar-te-ás dentro do espigueiro...


e o teu ventre correrá em círculos na eira granítica do desassossego


amar-te-ei?


mesmo sabendo tu que sou um espantalho de aldeia


onde poisam os pássaros


e cagam os pássaros... sobre mim


 


sobre nós


deixarei os livros cansados das minhas mãos


dos meus olhos


às palavras... às palavras vou derramar-lhes o fogo do silêncio


embrulhado em pergaminhos sonos


e verei transversalmente o meu esqueleto no patamar da morte


ouvirei os teus casmurros beijos


como sentirei em mim os teus deleitados dedos


sujos


imundos...


transbordando sémen como caravelas esquecidas no Oceano dos vidros solitários...


e acabarei por pertencer aos ramos caducos do Outono


 


 


(não revisto)


@Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sexta-feira, 29 de Novembro de 2013


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