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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


29.09.22

Converso com estes cadáveres em fotografia

Que durante a noite poisam sobre o meu peito,

Olho-os e percebo que são poeira

E que voam sobre o mar,

 

E que nos seus lábios

Transportam o Outono,

Converso e escondo as minhas palavras

Nas ardósias negras da manhã,

 

É tão triste,

Que os pássaros que deixaram de voar,

Hoje,

Sejam apenas sombras suspensas nas árvores da saudade,

 

Converso e sinto a luz que ilumina o sonho,

E estes cadáveres são pequenos nada…

Olha…

Nem flores conseguem ser,

 

Que depois de cadáveres…

Habitam nelas o lindo perfume da madrugada,

Nem pedras sabem ser,

Porque são apenas cadáveres em fotografia.

 

 

Alijó, 29/09/2022

Francisco Luís Fontinha


02.03.14



foto de: A&M ART and Photos


 


Perdi o teu olhar na penumbra seara de trigo,


tínhamos descoberto o silêncios dos rios que dormiam nas nossas veias,


perdi o teu olhar das palavras por escrever,


e sentia em ti o desejo de partires,


à janela apareciam as imagens que tínhamos deixado do outro lado do muro,


havia um fino sorriso de melancolia e as tuas mãos tremiam como tremia a tua voz de centeio,


perdi o teu olhar,


e da penumbra seara de trigo apenas sobejaram as flores envenenadas dos beijos adormecidos,


Descemos a montanha,


dormíamos nas almofadas clarabóias das rochas graníticas,


líamos as estrelas junto ao cais das laranjeiras, e... e sentíamos o florescer da manhã com rosas,


sobre nós um papagaio de papel lançava pequenos grãos de areia e alguns favos de mel...


as abelhas descoloridas morriam,


como nós, hoje,


cadáveres de gesso suspensos nas amoreiras,


e havia sempre uma criança em ti que me fazia sonhar...


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 2 de Março de 2014



16.11.13



foto de: A&M ART and Photos


 


porque me procuram nas incendiadas sanzalas do prazer


não sendo eu um homem como os homens das bandeiras embriagadas


porque me procuram nas entranhas manhãs de cacimbo


eu escondido no zinco telhado do musseque alvorado


porque sou assim


um casebre sem esqueleto e ignorado


um imbecil que em tudo acredita


e que procuram como se fosse um objecto para reciclagem


usa-se


deita-se fora


e nasce em ti o dia ensanguentado das tristezas noites junto ao Mussulo


porque sou um um monstro vestido de negro


 


(como o dizem quando me chamam


e acordam


em todos os silêncios do medo...)


 


porque finjo que sou amado


porque acredito eu no amor


quando o amor é uma caravela à deriva no triste Oceano


porque me procuram nas incendiadas sanzalas do prazer


porque sou um canino disfarçado de desenho animado


porque me dizem que sou um poema odiado


palavras da merda escritas por um gajo de merda


porque acredito


se nunca deveria acreditar nas manhãs sem nuvens


porque são falsas


e logo em seguida


ejaculam as gotinhas amargas da chuvinha colorida...


 


(como o dizem quando me chamam


e acordam


em todos os silêncios do medo...)


 


sou um gajo porreiro como o são todos os cadáveres da morgue do púbis amanhecer


porque sou um imbecil sentado num banco de jardim


espero as ripas madres em madeira apodrecida


finjo que sou amado


e todos o sabemos que não o sou


porque apenas pertenço aos corpos dilacerados


dos musseques adormecidos


doridos


mórbidos entre as espadas dos livros em poesia


e as palavras semeadas nas tuas coxas de terra fértil...


esperam as sementes da alegria


como se fossemos apenas vozes entrelaçadas como dedos em vaginas acorrentadas às sílabas inanimadas...


 


 


(não revisto)


@Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sábado, 16 de Novembro de 2013



16.11.13



foto de: A&M ART and Photos


 


me irritam as palavras vagabundas dos teus lábios marginais


me irritam as tuas mãos em profunda pedra adormecida


como vaginais noites de geada


no centro da cidade


procuro o barco da saudade


procuro o livro do esquecimento


sou a Rainha das montanhas em sofrimento


sou... a tua gaivota moribunda das tempestades em teias silêncio


me irritam as lâmpadas dos teus cabelos


quando poisam no meu difícil peito de porcelana


como amarras de madeira


no cais das tormentas...


 


(me irritam as tuas bocas loucas das tardes em mergulhos flácidos


dos músculos embebidos em papeis de parede)


 


me irritam as palavras tuas minhas inconstantes migalhas de sémen


quando descem sobre nós os cortinados do tédio


me irritam as sílabas embriagadas


escorrendo nádegas adversas nos cobertores da inocência


me irritam as imagens sem imagens


as sombras


as viagens


me irritam... me irritam as cadeiras onde se sentas


e me observas


e te alimentas...


do meu corpo


um corpo mórbido com sabor a cadáver anónimo


 


 


(não revisto)


@Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sábado, 16 de Novembro de 2013


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