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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


08.12.14

Sou um ignóbil cemitério de cinzas


recheado de falsos amanheceres


e de tristes madrugadas,


sou um pirata


que tem medo da noite,


sou... um pirata


de lata,


que chora e branca


nas sanzalas da infância,


sou uma sombra com odor a insónia


que não se cansa de lutar,


sou um ignóbil cemitério de cinzas,


 


prateadas


amadas


e cansadas...


 


arde a cidade do meu corpo


como plumas de sílabas enraivecidas,


tenho um livro na algibeira


sem palavras...


sem... sem brigas, sem... sem vírgulas,


sou um covarde vestido de luar


sou um desalmado com medo...


com medo de amar,


 


sou um ignóbil cemitério de cinzas


recheado de falsos amanheceres


e de tristes madrugadas,


 


sou a bailarina do desejo


em busca do sexo barato,


sou rua,


sou... sou lagarto,


sou... sou prostituta,


sou a âncora dos teus abraços


quando emerge em ti a sinfonia da paixão,


e todo o amor morre em tesão...


 


simplificado


os meus lábios inseminados pelos teus seios,


esta cidade que saltita no meu amor...


e me acolhe nos seus rochedos.


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2014


02.12.14

Não saboreies as minhas tristes palavras de zarcão


que a manhã come enquanto dormes e finges sonhar


não permitas que entre o mar dentro de ti


e se alicerce aos teus desejos


não tenhas medo dos cortinados cinzentos


que a madrugada esconde nas pálpebras do vento


como quem morre


em sofrimento...


 


Não saboreies os meus lábios encaixotados


como pedaços de cacos e miudezas...


que galgaram o Oceano em direcção ao teu coração


não digas que a noite é uma mistura gasosa de iões e positrões...


 


Não


não saboreies os meus tentáculos de espuma


como se eu fosse uma cidade voando na preia-mar


não confundas o amor com a amizade


não


não confundas as palavras tontas com as palavras embriagadas


pelo cansaço


ou... ou pelo Inverno em desassossego,


 


Não saboreies as minhas tristes palavras de zarcão,


 


Inventa amanheceres de cartão


gaivotas de porcelana...


mas... não


não saboreies as milhas tristes palavras de zarcão.


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Terça-feira, 2 de Dezembro de 2014


20.07.14

Aos dias ímpares, as horas que me são roubadas por uma mão sem nome,


as sílabas disparadas pela espingarda das sanzalas embalsamadas,


o meu corpo não cessa no púlpito do cansaço, ele evapora-se, ele... ele transforma-se em zinco lamaçal,


há uma criança inventada, uma criança perdida na saudade...


aos dias ímpares, as horas malvadas,


que alimentam a dor,


que... que engolem todos os amanheceres,


e do meu corpo, apenas o coração de pedra ficou adormecido na eira da poesia,


 


Aos dias ímpares, o triste calendário envergonhado,


a desassossegada fantasia de um texto alienado, quando arde na fogueira da tua pele,


uma cidade nos espera, uma cidade em papel...


 


Aos dias ímpares, as horas, os minutos, e os... e os milésimos de segundo,


alguns em liberdade, e outros... e outros acorrentados a um envelhecido veleiro,


hoje não há vento,


hoje... hoje apenas a límpida tarde de pano a soluçar sobre as árvores do triângulo equilátero,


é este o meu Mundo?


ter uma cidade sem candeeiros em desejo,


ser filho de um desenho que o tempo apagou numa longínqua parede,


e contento-me com todos os dias ímpares, as horas que me são roubadas...


 


E a tua mão... e a tua mão, um dia, terá um nome, idade, raça, sexo... religião,


 


Aos dias ímpares, a geometria na doçura da caligrafia,


um poema morto, um poema descendo a calçada em direcção ao infinito...


e o meu corpo não cessa no púlpito do cansaço...


 


E o poeta permanecerá eternamente nas sanzalas embalsamadas!


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 19 de Julho de 2014


16.05.14

dizem-me os teus olhos


pequeníssimos lençóis de solidão


fios de seda em desejo coração


manhãs adormecidas e sem poiso


dizem-me os teus olhos


que há madrugadas quadriculadas


e amanheceres triangulares


dizem-me...


quando oiço o teu enfeitado sorriso brincando na calçada


e uma criança abandonada


aprisiona o teu olhar e me diz...


o que dizem os teus olhos.


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sexta-feira, 16 de Maio de 2014

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