13.01.22
Deixei de escrever
Nos lábios da floresta.
Dos pássaros,
Regressam a mim
Os uivos apitos da saudade,
Como se eu fosse uma rocha indomável,
Disperso na manhã deserta das gaivotas.
Sei que há nas palavras
Verdadeiras equações de sono,
Versos invisíveis
Que durante a noite se transformam em sílabas,
No poema envenenado.
Deixei de escrever
Nos lábios amargos da floresta,
Os beijos nocturnos da insónia;
- Adoráveis submundos nas engrenagens da vida,
Ama-se. Mata-se.
Como se a vaidade fosse um pressuposto
Infinito do homem.
Ama-se e inverte-se a claridade lunar,
(e caso seja possível)
Ergue-se na humidade do silêncio,
Entre beijos
E abraços aprisionados.
Almoça o sono
Uma sanduiche de medo,
Na companhia dos beijos alicerçados à montanha do Adeus…
Ergue-se de mim e, deita-se na sombra tristeza da cidade,
Todos os automóveis e todas as rodas dentadas do passado,
Morrem de tédio; quantos aos pássaros,
Construídos em papel,
Dançam as cantigas desta triste caligrafia,
Que sublime e infinita,
Foge em direcção ao rio.
Deixei de escrever
Nos lábios da floresta,
E começo a guardar retractos de sombras,
Que a memória vai apagando,
Dia após dia,
Noite após noite;
E assim, vivo neste habitáculo de espuma,
Esperando que dos pássaros regressem a mim os uivos apitos da saudade.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 13/01/2022