05.09.20
O fugitivo de Deus.
Quando o corpo se esconde na esplanada da saudade,
Ele, só, acredita que todos os pássaros são em papel colorido,
Imagens prateadas nas mãos de Deus; sobe a montanha, meu querido filho.
O mar.
Todas as rochas estão suspensas no poema,
A mão de Deus, moribunda, confunde-se com a alegria de viver,
Quando se ama, a paixão, filha de Deus, absorve todas as palavras do poema.
Ontem.
Uma fina lâmina de luz, a boca de Deus entre gritos e abraços,
O silêncio da espuma dos dias,
Entre corpos cansados,
E, o fugitivo de Deus.
A montanha.
Argamassa da planície, floresta inversa à paixão,
O sítio escondido, onde habita Deus, amanhã, hoje,
Sinto-me como uma pedra que voa, tem asas, tem alegria,
Vida, palavra, livros e nada.
A montanha de Deus.
Onde hoje me sento,
Agradeço a sombra, oiço ao longe a fúria do mar,
Desgravada maré dos tristes silêncios,
Junto a Belém, um louco rio, embriagado pelos barcos,
Cacilheiros à desgarrada, canções velozes, vento,
Sílabas da madrugada,
O ácido da noite,
Cansado,
Suicidado pelo poema.
A aldeia de Deus.
A aventura de estar vivo,
O amor quando se abraça a mulher desejada,
Olhando ao longe os socalcos da vida,
Esperando o voo até ao Céu: STOP.
O vinho.
Porque Deus também bebe,
Tem vida,
Agrade-me a escrita, retribuo e, aos poucos, a morte.
Falo-te, hoje.
Conheço-te.
Francisco Luís Fontinha, 05-09-2020