Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


13.06.14

Toco-te,


estilhaças-te como o espelho da velha cristaleira,


depois, depois entra o mar nas tuas veis de nylon,


toco-te, e finjo ser um barco esquecido nas tuas mãos,


em silêncio, em silêncio para que ninguém perceba que no meu corpo habitam porcelanas em cacos,


alguns sons metálicos, melódicos, alguns... alguns ciclónicos ventos,


perguntas-me como é o amanhecer quando lá longe a Lua se esconde na montanha do desejo,


e eu, eu sem jeito, não sei responder,


entretenho-me a construir beijos num velho muro em xisto,


preguiçosos,


doentes,


toco-te e sinto, a claridade do teu olhar a entrar na caverna do Adeus,


 


(Ai como eu sofro...! Oiço-o enquanto alicerço as minhas pernas ao cansaço)


 


Querias o amor, e eu, eu dei-te o amor...


daí sobejaram os segmentos de recta da tua boca,


e deixaste alguns círculos de chapa nos cortinados da madrugada,


 


(Ai...! Oiço-o...)


 


E deixei de o ouvir,


afogou-se num poço de luz,


e...


e reapareceu quando um menino de bibe descobriu que existia noite depois do dia,


toco-te, e estilhaças-te nas escadas sem rumo,


desgovernadas,


loucas, loucas e apaixonadas...


Consegues imaginar a paixão de uma escada?


Claro que não, claro que não...


dizes-me,


que... que as escadas não se apaixonam,


que as pedras, os cacos de porcelana... nunca existiram,


 


(Ai como eu sofro! Oiço-o... na sua voz roufenha... São pássaros, menino, são pássaros... pássaros de cristal)


 


O caraças


 


Toco-te e finges orgasmos de coloridas flores,


toco-te, toco-te e... estilhaças-te como o espelho da velha cristaleira,


morres,


desapareces no interior da alvenaria ensonada,


lá fora, nada, nem uma locomotiva para te recordar,


um rio, um Cacilheiro embriagado, nada...


lá fora, toco-te,


toco-te e acordo...


 


Ai... ai como eu sofro, menino! Não..., não tenho sorte nenhuma.


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sexta-feira, 13 de Junho de 2014

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em destaque no SAPO Blogs
pub