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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


07.07.14

O teu beijo amorfo,


clandestino do enclave da insónia,


cai a noite sem perceberes que a noite é uma mulher invisível,


uma amante cobiçada por todos,


suspensa nos tentáculos das estrelas sem nome,


o teu beijo silencia-se e morre...


o teu beijo deixa de ser beijo,


e transforma-se em desejo,


inverso, transverso esforço que alicerça o teu corpo à ponte metálica...


balança e não cai,


e levita depois de acordar a madrugada,


como se de um pôr-do-sol em decomposição se tratasse...


 


O teu beijo amorfo... evapora-se,


morde os lábios de cetim, e... e vai à janela da solidão procurar pedacinhos de papel colorido,


imagina-me uma sombra com pequenos ramos que partem na ferocidade do vento,


vergo-me, troço-me até palmilhar a terra húmida depois da chuva do fim de tarde,


e fico estendido como uma pedra entre o sacrifício e a vontade de correr...


beija-me, penso-o enquanto aos poucos esforço-me para me levantar,


 


Agarro o teu beijo amorfo,


acaricio-o na palma da minha mão de caduca folha,


sinto-me desgovernado quando imagino o mar a entrar no meu corpo,


penso que vou morrer,


penso que serei o primeiro a partir... por motivos de um beijo amorfo...


sei que a morte é natural... normal,


mas... tudo por um beijo?


o cansaço invade-me,


a força motriz que alimenta os eléctrodos do meu coração... começa a esvaziar-se,


os eléctrodos apaixonam-se por mim,


e fico sem jeito,


fico... impávido enquanto o teu beijo amorfo desce a Calçada da Ajuda...


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Segunda-feira, 7 de Julho de 2014

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