24.12.21
Sentia-me zonzo com os cheiros
Que brotavam de suas mãos
No Natal.
Hoje, procuro esses cheiros, em vão,
E apenas as fotografias,
Transformam os cheiros em lágrimas.
Lágrimas recheadas pela saudade,
Como sonhos, rabanadas e bolo-rei,
Hoje, o silêncio poisa sobre a mesa,
A mesa é outra, mas faltam algumas fotografias,
Hoje, são poeira,
Canção caminhando no Universo,
Paralelo, cubo, triângulo,
Hoje, acorda a ira,
Como se fosse uma nuvem em papel,
Voando em direcção ao mar.
Nasci pertinho do mar,
Junto à solidão dos macacos,
Havia gladíolos envenenados,
Havia bananeiras em cio,
Como as gaivotas passeando-se sobre a baía.
Sentia-me zonzo com os cheiros
Que brotavam de suas mãos
No Natal,
Tínhamos dentro de nós
O pesadelo de um futuro amaldiçoado,
Não distante,
Mas sempre ausente.
Hoje, olho todas estas fotografias,
São apenas imagens, lugares, pó…
Apenas pó…
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 24/12/2021