Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


15.08.13



foto de: A&M ART and Photos


 


Sentíamos o peso invisível da morte sobre o esqueleto verde das amoreiras em flor, tínhamos acabado de conhecer o Artur, num daqueles bares onde bebíamos..., e ao outro dia, já o bar tinha desaparecido de nós, vivíamos desesperados como duas raízes escondidas nas profundezas, enganas-te a ti mesma, inventas personagens, algumas, sem o sabres, vestes-las de perfume mentira, outras, enterras-las nas cavernas doirados das coxas rosa púrpura,


Sabíamos-lo,


E não fizemos nada para terminar o sofrimento dele,


Havia uma lanterna que basicamente nos servia para...


Afugentar as mentiras, minhas?


Sim, embriago o Artur encostado ao balcão de mármores com um livro em granito onde algumas palavras brincavam às escondidas,


“Aqui Jaz Artur Prior”, e nada mais do que isso,


Mentiras que eu entendo, que eu descubro e fico calado, cabisbaixo, envenenado pelas árvores com as pequenas folhas comestíveis, e bebíamos, e fazíamos como se de dois corpos suspensos na madrugada se tratasse, e não o éramos, porque há muito que deixamos de ser corpos, hoje somos caules brincalhões, balões de naftalina,


Porquê, Artur?


Não sei, sei... meu querido...


Porquê, quê?


Sabíamos-lo,


E não fizemos nada para terminar o sofrimento dele,


Havia uma lanterna que basicamente nos servia para...


Afugentar as mentiras, minhas? E devíamos estar loucos, tu, e eu, porque de nada havia para ancorar ao porto de embarque, perdi a âncora, abandonei as cordas de nylon, e travesti-me de petroleiro desgovernado, só, felizmente...


Só?


Porquê, Porquê... Artur Prior?


Porque tínhamos descoberto a verdade, porque tínhamos encontrado o carrossel do Amor, todo ele em oiro maciço e comestíveis os cavalos, estes em algodão doce, porque, meu amor, tínhamos descoberto o bar onde éramos verdadeiramente... felizes,


Só?


Só... e nada mais do que isso,


Tínhamos acabado de conhecer a manhã, e havia uma estranha lanterna, uma lanterna que detectava as tuas, as minhas mentiras, que tu me inventavas, e quando me dizias que eu era


Sabíamos-lo,


E não fizemos nada para terminar o sofrimento dele,


Havia uma lanterna que basicamente nos servia para...


E era, e sempre fui, um fútil e medíocre livro de granito onde alguém escreveu


“Aqui Jaz... Artur Prior”


E


Nada


Só?


Não, nada e nada mais do que isso, meu querido, e apenas, só, tínhamos acabado de conhecer a manhã, e havia uma estranha lanterna, uma lanterna que detectava as tuas, as minhas mentiras, que tu me inventavas, e quando me dizias que eu era feliz, eu acreditava que


Eu era feliz,


E quando me dizias que eu era um livro em granito, eu acreditava que


Eu sou um livro em granito, meu querido, granito com bolinhas encarnadas,


E acreditava,


E deixamos de acreditar porque sentíamos o peso invisível da morte sobre o esqueleto verde das amoreiras em flor, tínhamos acabado de conhecer o Artur, num daqueles bares onde bebíamos...


 


(não revisto)


@Francisco Luís Fontinha – Alijó


quinta-feira, 15 de Agosto de 2013


Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em destaque no SAPO Blogs
pub