30.08.22
Quando se enforca
No silêncio das palavras,
O poeta enforcado,
Voa como voam as serpentes sobre o mar,
Pinta na proa de um velho barco,
Em pequenos pedacinhos de nada,
As laranjas amargas
Que escutam na madrugada
A invisível insónia.
O poeta chora.
Quando se enforca
No silêncio das palavras,
O poeta enforcado,
Olha a mulher que transporta no ventre
A eterna vida; e uma flor
Poisa como uma abelha
Na Primavera.
Quando se enforca
No silêncio das palavras,
O poeta enforcado…
Finge ter na sua lápide,
O sono e a solidão.
E a serpente que voa sobre o mar…
Transforma-se em sombra que encobre as cidades de lata.
Alijó, 30/08/2022
Francisco Luís Fontinha