03.12.21
Olha para mim
Enquanto o sol brilha na tua mão.
Escreve em mim
As palavras estonteantes
Do desejo.
Olha para mim
Enquanto o meu pobre coração,
Em pedaços de beijo,
Voa em direcção às estrelas cadentes.
Suplico ao silêncio
Que se despeça do meu corpo,
Sabendo que lá fora,
Entre sombras e murmúrios,
As palavras estonteantes
Comem-me os duzentos e seis pobres ossos.
Duzentos e seis pedaços
De nada.
Olha para mim
Depois de acordares e abrires a janela,
Olha para mim
Enquanto o luar se deita na tua cama,
Olha, olha para mim
Sabendo que da tua voz tão bela,
Há um poema em chama,
Há um poema em trapos,
Com as palavras da alvorada.
Olha-me.
Olha para mim
Montanha esbelta da minha terra adormecida,
Com as árvores em papel colorido,
Olha para mim
Montanha minha amada querida,
Olha!
Olha para mim,
Corpo sofrido.
Olha para mim
Enquanto o sol brilha na tua mão.
Escreve em mim
As palavras estonteantes
Do desejo.
Olha para mim
E ouve esta pobre canção;
São palavras que não vejo,
São palavras que vão…
São as palavras dos amantes,
Dos amantes em construção.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 03/12/2021