08.09.20
Sento-me.
Nesta pedra cansada, o tempo voa,
Bate, hoje, a saudade.
Sento-me. Sei que o fumo do meu cigarro
Vai em direcção ao mar, onde brincas,
Nas cinzas da saudade.
O regresso.
A viagem sem destino, partida-chegada,
Embarque de transeuntes envenenados pela saudade,
Como tu,
Como eu; ausentes.
O teu nome escrito na pedra,
Onde me sento,
Me deito,
Nas pálpebras da janela do quarto.
Horário morto,
Cadáver saqueado pelo tempo,
Cintilações de prata,
Na algibeira,
O sem-abrigo,
Na madrugada,
Suspenso pelo pescoço,
E, sem cabeça.
Deus. Vem em tua ausência,
Da boca a flor madrugada,
Sem palavra,
Sem nada.
A grava. Torta.
O casaco roto, magoado pelo silêncio adormecer,
Quando as nuvens se recolhem na tua mão,
Quando todos os alicerces da cidade,
Ardem; e o tempo nunca esquece a saudade.
A vaidade. Palavras escritas sobre a lápide de mármore,
Dizeres que só eu percebo,
Os escrevi, desenhei no teu peito
O cabelo desorganizado, triste, cansado.
No amor, a saudade.
Vive-se assim, aqui…
No ontem,
Hoje.
Amanhã. Dia triste para recordar mortos,
Cabeças,
Trapos.
Vive-se, assim, aos poucos, nesta velha cidade.
Francisco Luís Fontinha, 08-09-2020