09.12.21
Quando acorda a madrugada
E poisa docemente no chão
A triste geada;
Levanta a mão
Sobre o amanhecer,
Como se fossem silêncios de escrever,
Como se fossem palavras a arder,
No corpo algemado
Ao sombreado
Erguer.
Quando acorda a madrugada,
Acreditando,
Tal como eu, na noite encantada,
Da noite amedrontada,
Levantando
A mão sobre o amanhecer.
E que me sento sem o saber,
Puxo uma cadeira invisível, depois de puxar um leviano
Cigarro sem asas; oiço a voz rouca do piano
Saltitando na sala procurando o prazer.
Talvez o prazer
De ler.
Talvez o medo de viver,
Esta vida das palavras amarguradas,
Esta vida dos livros poeirentos,
Talvez das tristes madrugadas,
Acordem todos os sentimentos,
Talvez o prazer
De ler,
Talvez o prazer de nada fazer.
Quando acorda a madrugada
E poisa docemente no chão
A triste geada;
E este alegre coração,
Voa sobre o mar agachado na areia…
Talvez o prazer
De ler.
Talvez o prazer
De escrever.
Talvez seja tudo isto que me chateia.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 09/12/2021