21.11.21
Era um sábado triste; ela tinha morrido.
Quando me perguntaram o que era a ausência e a saudade, respondi que ambas são uma equação matemática sem resolução.
Não gosto de conversar com psicólogos, respondi-lhe.
Aos poucos, a manhã levanta-se de um sono hibrido, parecendo um buraco nego esquecido no Universo. Entrei, sentei-me e, pedi um café. Enquanto saboreava o primeiro café de muitos, percebi que na TV falavam de uma imbecil qualquer, que eu desconhecia, por ignorância e, que tinha arrasado com um determinado vestido, numa determinada gala. Confesso; nada percebo de vestidos. Na percebo de galas.
Cansei-me da TV e apenas oiço rádio e tenho como companhia a TSF.
Era um sábado triste. Aos pouco percebi que todas as flores do meu jardim se preparavam para o passeio matinal de um sábado triste. Indiferente, puxei de um cigarro e sentei-me junto a elas. Comecei a desenhar no chão uns riscos estranhos, que só me lembro de os ter feito quando do falecimento do meu pai.
Esses riscos, esses desenhos, acompanham-me diariamente e, quando me perguntam o que é a ausência e a saudade, respondo que são uma equação matemática sem resolução; e claro, não gosto de conversar com psicólogos.
Despedia-se de mim o sono e todos os sonhos da minha infância. Estar vivo, era sem dúvida um presente de Deus; dizia-o a minha mãe, vezes sem conta e, acredito que ela tinha razão.
Imaginem, por hipótese, que Deus não é nada mais do que uma complexa equação matemática que vive, brinca e, dorme nas nossas mãos.
Imaginem, que essa mesma equação, um dia, vai ser descoberta e resolvida.
Parece que estou a ver essa equação, dormindo na minha secretária.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 21/11/2021