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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


23.04.23

Deitas a cabeça no meu peito,

E sonhas,

Sonhas que os meus sonhos se tornem realidade,

Sonhas que eu nunca deixe de sonhar,

Que nunca deixe de amar,

 

Deitas a cabeça no meu peito,

E sonhas,

Que o mar da minha infância,

Um dia,

Um dia nos entre pela janela,

 

Que um dia,

Os sonhos de sonhar…

Sejam os sonhos de sonhar,

Deitas a cabeça no meu peito,

E sonhas,

 

Sonhas que a madrugada acorde nos nossos corpos em paixão,

E sonhas,

Sonhas…

Deitas a cabeça no meu peito,

E rezas,

 

Deitas a cabeça no meu peito,

E pedes protecção Divina,

Que o teu Deus nos proteja,

Que o teu Deus nunca se esqueça de nós…

Deitas a cabeça no meu peito… e sonhas.

 

 

 

Alijó, 23/04/2023

Francisco Luís Fontinha


16.04.23

A espada de luz

Que aos poucos se alicerça no meu peito

É a chave que a noite me dá

É a chave que a noite me tira

A espada de luz

Que invento nos meus olhos

Será o veneno dos meus sonhos

Enquanto eu tiver sonhos

Enquanto eu tiver vida,

 

Enquanto eu tiver noite

Enquanto eu tiver olhos

Enquanto esta espada de luz tiver vida

Vida própria

Emoções

Cansaços

E desilusões,

 

Esta pequena espada de luz

Levar-me-á ao silêncio dos teus olhos

Enquanto os teus olhos

Enquanto esta espada de luz

Tiverem vida

Enquanto o meu peito

For um pedaço de mármore abandonado

Um pedaço de mármore sem memória.

 

 

 

16/04/2023

Francisco Luís Fontinha


03.03.23

Os sonhos são uma (merda) segredava ele aos pincelados pingos de chuva da manhã,

Depois, sentava-se na primeira sombra que encontrava e…

Esperava que o tempo se escoasse sobre os ombros.

Do outro lado da rua, junto à montra onde se passeavam espantalhos e pequenos monstros, um silêncio de sono veio até ele, olho-o e

Tombou no seu peito.

Das sílabas da carne ao desejo de fugir foi apenas um espasmo, ergueu-se da pedra onde tinha ficado esquecido vários dias, porque ao que parece ninguém reclamou a sua falta, e começou a correr em direcção aos rochedos de onde se podiam ver as primeiras lágrimas da manhã.

Um sorriso iluminou-o,

Era o sorriso de sua mãe,

Que voava por aquelas bandas, sem perceber porque razão o filho corria, corria apressadamente para tais rochedos.

Chegado aos rochedos, recordou a infância difícil, recordou todas as fotografias que já tinha rasgado e posteriormente lançado à lareira os pedacinhos que se amontoavam sobre a secretária, escreveu uma carta sem remetente, que tempos depois, alguém descobriu no bolso de um velho casaco que tinha ficado esquecido num barco aportado junto ao cais e em adiantado estado de decomposição,

O corpo morre, apodrece…

Pó, meu querido filho.

Brevemente serás pó.

E como tudo na vida, apenas pó,

Os sonhos sonhados e os sonhos não sonhados; poeira sobre um manto de lágrimas à espera do vento,

E quando acorda o vento,

O Santo Sepulcro da infâmia acorda, senta-se junto à lareira e…

E dizem que ele estava feliz.

Tão feliz, tão feliz…

Que lançou-se dos rochedos e há quem acredite que ainda hoje voa sobre os plátanos e as acácias,

 

 

Lâminas do cansaço

 

 

Procuras-me dentro deste pequeno cubo em vidro

Onde semeei as primeiras letras do alfabeto,

Procuras-me junto aos bares de uma Lisboa desencaixotada,

Triste memória,

Triste e ancorada,

 

Procuras-me enquanto o sono

Desce do primeiro silêncio em luar,

Olhas-me,

Olhas-me e acreditas que estou vivo,

Mas olha que não,

Que não,

 

Que não tenho sonhos,

Barcos para brincar,

 

Procuras-me nas estantes…

Talvez penses que me escondo dentro de um pequeno grande livro,

De poesia seria o desejado,

Mas começo a odiar a poesia,

As palavras,

E o dia…

 

Os sonhos são uma (merda) segredava ele aos pincelados pingos de chuva da manhã,

Depois, sentava-se na primeira sombra que encontrava e…

E o sono eterno apoderava-se dele,

Como a miséria,

Como a reencarnação do Diabo travestido de flor;

A mais bela flor do Universo.

 

 

 

 

Alijó, 03/03/2023

Francisco Luís Fontinha

(ficção)


19.01.23

Dos braços desta ribeira

Recebo a voz do silêncio,

Nos braços desta ribeira

Vêm a mim as semeadas palavras

Que na voz do silêncio

Acordam as madrugadas,

 

Dos braços desta ribeira,

Ribeira que corre nas minhas veias,

 

Dos braços desta ribeira

Que em círculos brinca na minha mão,

Vou procurar a manhã que acorda,

Na manhã que mergulha na montanha…

Nos braços desta ribeira,

Ribeira das noites em luar,

Regressam a mim os sonhos,

Os sonhos de sonhar.

 

 

 

 

Alijó, 19/01/2023

Francisco Luís Fontinha


16.01.23

Uma criança pode ser tudo o que quiser; basta sonhar.

Eu menino

Eu criança

Eu sonhava

Sonhava com coisas

Coisas esquisitas

Coisas sem nexo

Sonhos invisíveis

Sonhos sonhados

Sonhos,

 

Coisas sonhadas

Coisas

Sons que me entravam pelas frestas da manhã

E cheiros que eu coleccionava nas mãos,

 

Sonhos

Malditos sonhos de sonhar

Que eu

Eu criança

Eu menino

Eu sonhava

Sonhava com sonhos que sendo sonhos não eram sonhos,

 

Sonhava com merdas

Merdas que hoje são os meus sonhos

Sonhos de merda

Coisas esquisitas,

 

Coisas de merda

Os sonhos

A vida de um sonhador

Sonhar que vive

Dentro da morte de um sonho,

 

O frio

A chuva dentro do frio

Em cio

As tardes junto à Torre,

 

O rio

Naquele maldito rio

Onde habitam esqueletos

Onde brincavam as crianças

As crianças que sonhavam,

 

Por isso

Eu menino

Eu criança

Eu sem sonhos,

 

Sonhava

Gritava

Sonhava com barcos em papel

Sonhava ser pedra

Alicate

Martelo

(para foder a cabeça a alguns)

Sonhos

Que sonhava

E morreram

Nos sonhos

De uma madrugada,

 

Os apitos

O clitóris disfarçado de sombra

Entre um sonho

O outro sonho

E a vindima,

 

Mais um dia

Mais um ano

Com sonhos

Sem sonhos

Destes tristes sonhos de menino,

 

(Uma criança pode ser tudo o que quiser; basta sonhar.)

 

Sonhar o quê?

 

Sonhos

Sem sonhos neste taxímetro a que apelidam de vida

Vida de sonho

Ou o sonho da vida,

 

Feliz aquele que não sonha

Feliz o menino que nunca sonhou

Sonhou feliz no sonho

Quando do sonho

Uma árvore se levantou

E gritou;

Que se fodam os sonhos

E que se fodam os sonhos de sonhar,

 

Há quem sonhe em morrer

E não consegue matar-se,

Mata-se uma

Duas

Mata-se três…

Três horas da madrugada,

E no final

Está vivo,

Está a sonhar

Que morto

Sonhou

De morto se levantou,

 

E ajoelha-se no altar

Não sonha

Mas reza

Ergue as mãos a Deus

Pelo sonho sonhado

Estar morto

Assassinado

Estar vivo

Escrevendo poemas…

 

Escrevendo poemas enquanto a vida me deixar

Por aqui

Por ali

Por aí,

 

Sonhar.

 

 

 

 

Alijó, 16/01/2023

Francisco Luís Fontinha


23.09.22

Os sonhos são pedacinhos de rocha

Suspensos num rio sem nome,

São pequenas janelas gradeadas

Com fotografia para o inferno,

Os sonhos são papel

 

Amarrotado,

Os sonhos são silêncios,

São… rios sem nome,

Os sonhos são enxadas em revolta,

São um calendário de equações diferencias,

 

Os sonhos são papel-higiénico,

São a flor parvalhona que um parvalhão aprisiona na lapela,

São cordas de nylon,

São corpos mutilados pela guerra,

Os sonhos são janelas gradeadas,

 

São sótãos,

Filhos, filhas, mar, ar, nada…

Os sonhos são solidão,

São madrugadas,

São noites sem destino,

 

Os sonhos são as crianças,

Uns tem-nas, outros…

Inventam o sono na alvorada,

Os sonhos são as abelhas,

Porque os sonhos são pedacinhos de rocha…

 

 

 

Alijó, 23/09/2022

Francisco Luís Fontinha


06.04.22

Não desistas,

Enquanto o vento te leva para o mar,

Não desistas e,

Não te deixes ofuscar pelo luar,

Não desistas de voar,

Amar,

Brincar,

Beijar…

 

Não desistas das palavras

Que escreves no céu nocturno do sonho,

Não desistas das canções de embalar e,

Que os teus pais te ensinaram…

Não desistas das tardes límpidas junto ao rio,

Não desistas de observar as montanhas e,

Todas as pedras.

Não desistas, não desistas de sonhar.

 

 

Alijó, 06/04/2022

Francisco Luís Fontinha

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