Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


08.05.22

Descia a calçada descalça

Dentro da sombra imanada da solidão,

Descia a calçada envenenada

Pelas rosas do meu jardim,

Descia a calçada descalça

Acompanhada pelo perfume do Verão,

Descia a calçada cansada,

Cansada de tanta paixão,

 

Descia a calçada das estrelas

Como se o sopro da manhã

Se levantasse do chão;

Descia a calçada madrugada

Enquanto o enforcado poeta

Escrevia na mão…

Enquanto a desgraçada calçada

Morria de paixão.

 

Descia a calçada descalça

A menina das planícies além-mar,

Trazia um barco suspenso na saia

E um marinheiro acorrentado aos lábios…

Descia a calçada descalça

A menina luar,

Sem perceber que esta calçada

É apenas um pássaro de voar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 08/05/2022


19.03.22

As palavras cansadas

Que dormem nos teus lábios,

São poemas, são canções,

São flores

Neste jardim sem nome.

As palavras cansadas

Que habitam nas tuas mãos,

São saudade,

São enxada…

São diamantes das manhãs em fome.

As palavras…

Balas que disparo contra o teu peito.

 

 

Alijó, 19/03/2022

Francisco Luís Fontinha


15.01.22

Esse corpo embalsamado

Que deslisa na minha mão

É verso cantado

É verso canção.

 

Esse corpo em mim deitado

Flor do campo em construção

É o verso cansado

Cansado de minha mão.

 

Cansado do meu verso cantado

Que sobe a montanha da poesia

Cansado na cama deitado,

 

Deitado e em revolução.

É esse corpo embalsamado que eu sentia

Quando resolvo esta equação.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 15/01/2022


04.01.22

Trazias no corpo

Os parêntesis rectos da insónia;

Das palavras às equações do sono,

Triste esta argamassa de cansaço,

Quando o espaço é uma sombra de nada,

Quando o nada…

É cansaço.

Canso-me porquê?

 

Tenho amor,

Tenho comida,

Tenho um tecto onde me esconder;

 

Pior do que eu

Vive a formiga,

Trabalha, não tem palavras para escrever,

Não tem flores para amar.

 

Pior do que eu,

Habitam os pássaros dentro mim,

Não se cansam de cantar,

Não têm medo de escrever,

 

Trazia no corpo

O silêncio de uma noite mal dormida,

O poema em devastação,

Oiço nas tuas palavras,

O mar em suicídio,

Como qualquer homem de coragem;

Porque, acredita, para te matares tens de ter muita coragem…

E felizmente, eu sou um covarde.

 

Um covarde que acredita na vida,

Um covarde com palavras para escrever,

Um covarde quase licenciado na arte de amar…

Na arte de adormecer.

 

E da arte crescem palavras,

Números e equações de sono,

Rolamentos,

Chumaceiras,

Correias e volantes,

E tantas outras doideiras.

 

(Pior do que eu

Vive a formiga,

Trabalha, não tem palavras para escrever,

Não tem flores para amar).

 

 

 

Alijó, 04/01/2022

Francisco Luís Fontinha


26.12.21

Deste nocturno apaixonado

Que embebeda a paixão,

Habita um corpo camuflado,

Dormindo no chão.

 

Escreve debaixo das amendoeiras,

Enquanto os pássaros brincam no mar,

Pensa que a vida são brincadeiras,

E beijos de beijar.

 

Deste nocturno apaixonado,

Nasce o poema dançar;

E morre o corpo crucificado.

 

Depois, ergue-se a paixão,

Com palavras de brincar,

Com palavras do coração.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 26/12/2021

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2012
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub