Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


21.08.13



foto de: A&M ART and Photos


 


O meu cabelo absorve a cidade, vive debaixo dele a manhã dilacerante, há um perfume desconhecido que vai subindo até aos meus cabelos, encosto a cabeça ao espelho da manhã, trinco os lábios e sinto as madeixas das árvores engomadas por um velho ferro de engomar, não me sinto bem, estou estonteante, estou... em desequilíbrio, e oiço as finas gotas que o horário suspenso na parede da sala de jantar, essas... em pequenas lágrimas pergaminho, como húmus derretido sobre a terra árida das velhas mãos que serviram para alimentar o calendário nocturno


O meu cabelo morre,


E a tua boca silencia-se como se vivêssemos em permanente ditadura, como se vivêssemos... sem sairmos de casa, à varanda do silêncio, choras-me porque perdeste os cigarros, porque perdeste o emprego, porque perdeste... a vida


O meu cadáver de costas sobre a cidade, de um salto em falso... voo sobre a calçada camuflada com pequenas pedras de chocolate, alguém grita o meu nome,


O meu cabelo morre,


A minha pobre vida, aos poucos... também ela morre, como o meu loiro cabelo, como o sombreado vento, como a grade da varanda que me aprisiona e não me deixa ser livre, livre como as gaivotas de Belém, ir a bares, beber em esplanadas a vodka que sobeja dos veleiros acabados de regressar da Rússia, e


O meu cabelo morre, e a minha vida morre, e tu, e tu morres-me... porque a água salgada do mar começou a subir pelo ascensor, entrou no terceiro esquerdo, entro no terceiro direito,


Nós


E o teu cabelo quase em chamas,


E nós quase, porque habitamos o sexto frente, e daqui a pouco, a tua cabeça, encostas-a à grade enferrujada e lanças-te em


Queda livre,


O meu cabelo morrer,


Nós, nós quase engolidos pelas caravelas que a noite lança pelas ruas para nos aprisionarem, como acontece com o teu cabelo, como acontece com o teu corpo...


Ambos prisioneiros, vagabundos, quase em


Queda livre,


A cidade,


Morre,


O meu cabelo morre,


E o teu cabelo quase em chamas,


E nós quase, porque habitamos o sexto frente, e daqui a pouco, a tua cabeça, encostas-a à grade enferrujada e lanças-te em granito polido, cubos em gelo, pregos de madeira rompem os sargaços dos teus beijos, e nós, porque habitamos o sexto frente


Morre, morre o teu cabelo quando te lanças sobre os veleiros desgovernados das Clarissas abandonadas, ouvi-o, ouvi-lhe os cabelos agarrarem-se à velhíssima grade e voavas, e dançavas, e


E o teu cabelo quase em chamas,


E os meus braços enrolados no teu pescoço, a cidade, a cidade com o teu corpo como húmus, sobre a terra ressequida, feia, dilacerante...


E morre,


E desce... até encontrar a lápide cinzenta onde está escrito o seu nome,


A criança rodopia,


E a vida, a vida também morre, e a vida espera por um digno salto, e ela


Ela morre,


O meu cabelo morre, o meu cabelo... em flor, sobre as árvores dos teus seios, transparentes, como as velas do veleiro estacionado junto à Torre de Belém,


E ela?


Ela... ela morre, morre, até encontrar a lápide cinzenta onde está escrito o seu nome,


A criança rodopia.


 


(não revisto – Ficção)


@Francisco Luís Fontinha – Alijó


quarta-feira, 21 de Agosto de 2013



03.08.13



foto de: A&M ART and Photos


 


Tens de ti os sorrisos despedidos pela madrugada


dormes solenemente sobre a calçada


tens de ti os vidros das gaiolas onde brincam as gaivotas de aço


dormes e amas e desejas


 


tens de ti as algas clandestinas do silêncio mar...


dormes


vives


tens de ti o meu pobre corpo desleixado


sonolento


despenteado


e dormes


e amas como amam as árvores dos jardins imaginários


tens de ti em mim as mãos sem os dedos que poisavam nos teus cabelos cinzentos


amar os beijos quando voam sobre os angustiados braços desalentos...


cobrindo-te e escondendo as tuas lágrimas


que tens em ti de ti os meus pedaços lenços


 


(não revisto)


@Francisco Luís Fontinha – Alijó



11.06.11

Os pequeníssimos fios do teu cabelo


Aos poucos começam a despertar junto ao mar


O vento pacientemente começa a plantá-los


E as espigas de milho em sorrisos cansados,


 


Apetece-me passar-lhes a mão


Afagá-los como se fossem as águas límpidas do rio


Sentir os milímetros de crescimento


Por entre os meus dedos corroídos pelos cigarros…


 


 


Luís Fontinha


11 de Junho de 2011


Alijó


23.04.11

Perco-me nos teus cabelos imaginários


Que o vento transporta até à tempestade


Olho-te e olho os teus olhos de amêndoa…


Estás linda


 


Amorosa


Saltando de pedra em pedra


Correndo junto ao mar


Brincando nos meus dedos


 


Que se perdem nos teus cabelos imaginários.


Peço ao vento


Rezo à tempestade


E só quero que os teus cabelos imaginários


 


Voltem a alimentar os meus dedos


E que o sol sorria no teu olhar…


Perco-me nos teus cabelos imaginários


Que o vento transporta até à tempestade


 


Estás linda


Amorosa


E quando olho os teus cabelos imaginários


Imagino os meus dedos reais


 


A brincar nos teus cabelos


Que o vento levou


Que o vento vai trazer…


Quando terminar a tempestade.


 


 


Luís Fontinha


23 de Abril de 2011


Alijó


06.04.11

Amo-te com os teus cabelos soltos no vento


Amo-te quando o vento leva os teus cabelos


Amo-te com o teu corpo bordado de dor


Ou quando o mar ofusca do brilho dos teus olhos


E no teu rosto constrói lágrimas de sofrimento


Amo-te com seios


Amo-te sem seios


Amo-te sem os teus cabelos…


Soltos no vento


Quando o vento sair da tempestade


E novamente na tua cabecinha


Plantar os teus cabelos roubados…


 


Amo-te com os teus cabelos soltos no vento


Amo-te quando o vento leva os teus cabelos


Amo-te com o teu corpo bordado de dor


Ou quando o mar ofusca do brilho dos teus olhos


 


Amo-te quando te enfureces comigo


E atiras-me a tua dor;


E eu sem fé acredito e rezo…


E te peço


 


- não desistas de viver!


 


 


FLRF


6 de Abril de 2011


Alijó

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2012
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub