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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


19.02.23

Falhei,

Falhei quando mandei cortar as oliveiras do canteiro,

E em seu lugar,

Plantarem amendoeiras; são tão lindas na Primavera…

Depois,

Ficam tristes,

Magras, muito magras,

Esqueléticas no esquecimento do orvalho.

 

Falhei,

Falhei quando mandei pincelar o céu de azul,

Azul-mar em paixão,

Quando deveriam ter pintado o céu de negro,

Nero escuro como a noite.

 

Falhei,

Falhei quando trouxe durante a noite todas as estrelas do céu,

Hoje, hoje tenho-as dentro de uma pequena caixa em cartão…

Tenho-as aprisionadas,

Como se todo o mal que me acontece,

A culpa,

Fosse das pobres estrelas.

 

Falhei,

Falhei quando mandei cortar as oliveiras do canteiro,

E em seu lugar,

Plantarem amendoeiras; são tão lindas na Primavera…

São tão lindas, na Primavera.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 19/02/2023


26.11.22

Este inferno

Do frio silêncio

Do louco menino

O Inverno

Do inferno

A noite é a morte

Na morte da noite

Quando as palavras

Morrem

E as estrelas

Levam-me para os teus braços

E adormeço

 

Este inferno

De caminhar nesta estrada

Neste túnel

Sem saída

 

E o pão

Traz a mim a fome

Quando este inferno

Do Inverno

Rouba-me o coração

E rouba-me a morte

 

Não valho nada

 

E este inferno

Do frio silêncio

Do louco menino

Corre-me nas veias

Quando procuro nos teus olhos

Envelhecer

Sem morrer

Enquanto dorme a Primavera.

 

 

 

 

Alijó, 26/11/2022

Francisco Luís Fontinha


18.10.22

Procuro nos teus lábios

As cerejas da Primavera,

Procuro no teu olhar

As palavras da Primavera,

E o que seria de mim…

Sem as cerejas,

Sem as palavras,

Da Primavera.

Procuro em ti

Todos os silêncios da Primavera,

Das andorinhas da Primavera

Roubo os teus lábios,

Roubo os teus olhos

Que apenas a Primavera…

Sabe escrever sobre o mar.

Tenho em ti,

Todos os pincelados desejos da Primavera…

E percebo que este mar que só habita na Primavera,

Procura incessantemente as tuas mãos,

Também elas, filhas da Primavera;

E enquanto procuro nos teus lábios

As cerejas da Primavera…

Vem a mim a alegria da Primavera,

E traz-me todas as palavras da Primavera.

 

 

Alijó, 18/10/2022

Francisco Luís Fontinha


11.10.22

Acordas na tela das noites sem estrelas, percebo que é noite quando o meu cigarro se extingue no negro sonho e o meu rosto é afagado pela fotografia do mar que habita sobre a secretária, ela, só e vazia, e percebo que é o mar pelo cheiro e barulho dos peixes de brincar enquanto dançam junto aos barcos em cartolina cansada, sem cores, sem olhinhos.

Do branco algodão, emergem da clarabóia suspensa no tecto, as estrelas que fugiram da noite e teimam infernizar-me com os conselhos parvos de sempre, e sou forçado a disparar a espingarda da solidão para as afugentar; como eu te compreendo, meu querido, como eu te compreendo…

E antes de acordar, esta triste manhã que todos os dias, a todas as horas, semana após semana, mês após mês, abraça-me como se eu fosse um pedacinho de geada em hipotermia, depois de descer do telhado da insónia e em pequenos gritos, e em pequenos uivos, vai esconder-se junto à fotografia do mar. É certo que um dia, este mar vai partir, como partiram todas as minhas fotografias.

Como partiram todos os meus mares.

Acordas na tela, indiferente aos meus desejos, porque nas minhas palavras inventadas, quando as invento, desenho desejos, e tu, abraças-me com um olhar silenciado que vindo de uma manhã, quando acorda, parece a tempestade em pequenos voos sobre os plátanos da saudade. E a tela, continuará branca. E de branca,

Deitas-te em mim,

Milagre das noites ensonadas, princesa da saudade.

Depois, ergues-te da tela branca e desapareces como desapareceram as estrelas da noite, como desapareceram todas as palavras que guardava naquela caixa em cartão, e hoje, são apenas palavras. E hoje são apenas lixo.

E de olhinhos tristes, esta manhã que todos os dias acorda na minha branca tela, foge, e transforma-se em mulher; a menina dos olhinhos tristes.

Invento então, nas pequenas ardósias da saudade, os traços que lanço contra as paredes de vidro onde habitam pequenas figuras de rosto fingido, que depois do sono, são apenas figuras; algumas, pertencem aos rios que deixaram de correr para o mar, e nos olhos, levam as lágrimas dos tristes socalcos, onde uma enxada, às vezes em revolta, escreve no difícil xisto o mais lindo poema de amor.

Ergue-se, sem perceber que a minha branca tela, é apenas uma simples branca tela, sem perceber que depois de misturar todas as cores possíveis e imaginárias, uma cabeça negra, como são todas as noites, como são todas as cabeças, deita-se na minha mão.

E um dia, a manhã de olhinhos tristes, será a mais bela branca tela que a Primavera deu à luz. Como todas as mais belas andorinhas que a Primavera lança contra as manhãs de olhinhos tristes.

 

 

Alijó, 11/10/2022

Francisco Luís Fontinha


27.04.19

Um fio de luz,


Desce o teu corpo,


Tens na algibeira o livro da nova poesia,


Que um dia, vai aportar na tua mão.


Trazes nos lábios o sabor da cereja bravia,


Cansada de correr,


E um dia,


Junto ao mar,


Vai morrer.


Trazes nos cabelos a luz da madrugada,


Negra,


Sem perceber,


Que a paixão,


Um dia, que a paixão um dia vai adormecer.


Trazes na boca a loucura,


As tâmaras apaixonadas da Primavera,


Toco-te, e acaricio-te…


E da minha mão,


Brotam toneladas de palavras.


São rosas,


São gladíolos…


São jardins em construção…


Como vampiros.


 


Um fio de luz, no teu olhar.


 


Serve-me.


 


Inspira-me.


 


Enquanto desce a noite nos teus seios…


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


27-04-2019

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