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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


27.11.22

Este meu pobre mar abandonado,

Este lindo mar envenenado,

O mar triste e salgado,

Este mar amargurado,

Quando em minha mão,

Este mar desassossegado…

 

Morre no meu coração.

 

Este mar que não se cansa de comer,

Este mar das palavras e nas palavras de escrever,

Este mar que foge de mim a correr,

Deste mar quase a morrer.

 

Este triste mar da inocência prometida,

Este velho mar em despedida,

Este grande mar quando brinca na avenida…

 

Morre no meu coração.

 

Este mar das tardes em poesia,

Quando beijo os teus olhos perdidos no dia,

Este mar que sentia,

As palavras que eu não sabia.

 

Morrer no meu coração.

 

E eu desconhecia.

 

 

 

 

 

Alijó, 27/11/2022

Francisco Luís Fontinha


26.11.22

Este relógio

Que morre no meu pulso

Este relógio

Que não escreve na minha mão

As horas em que vivo

 

Este relógio

De números invisíveis

Deste relógio

Que transporta a dor

Que sentem as flores do sono

 

Este relógio

Que habita no meu pulso

O meu pulso sem coração

Completamente só

 

Este só

Que é este pulso só

Deste relógio

O relógio dos quatro ventos

Junto ao mar

 

Este relógio

Com veneno em apêndice

Com poemas e sem poemas

Porque este relógio

É o relógio deste poeta só

 

 

 

 

 

Alijó, 26/11/2022

Francisco Luís Fontinha


10.11.22

Já se vê um pequeno sorriso

No teu olhar marítimo das tristes noites de Outono,

Puxo de um cigarro

E olho-te no espelho que esconde as estrelas

Que saem do teu olhar,

 

E sobre a mesa onde poiso o meu corpo,

Uma lâmina de luz, em pequenos círculos,

Desenha a morte do poema envenenado pelos teus lábios,

E se não fossem estas palavras que todas os dias lanço ao mar,

O meu coração era um barco fundeado no teu peito…

 

Uma âncora de ferro, uma pequena sílaba que deixou de respirar,

Um abraço em despedida,

E todas as noites oiço-te mergulhar

Nas sombras quadriculas da insónia,

Porque desta noite,

 

Apenas sobrevivem as canções junto à lareira,

E junto à tua pele, as minhas mãos descem ao luar

Do desejado milagre,

Ajoelho-me e percebo

Que a noite é a tua casa, onde te escondes das luzes da paixão,

 

E nas luzes da paixão permaneces só, impávida

Como uma lágrima de sono

Que quando acorda puxa o mar

Para os teus beijos…

E que os teus beijos sejam migalhas de pão.

 

 

 

 

Alijó, 10/11/2022

Francisco Luís Fontinha


29.10.22

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Deita-te no meu peito lápide de sono

Onde habitam as canções da madrugada,

Dome sobre mim,

Deita-te nos meus braços

Caravela envenenada,

 

Flor do meu jardim.

Deita-te sílaba pequenina

Das tardes rochosas,

Das noites sem fim…

Quando as estrelas iluminam os teus olhos,

 

Quando as estrelas são o jasmim.

Deita-te manhã em delírio,

Triste livro em construção,

Deita-te menina insónia,

Insónia deste silenciado coração.

 

 

 

Alijó, 29/10/2022

Francisco Luís Fontinha

(quadro de Fontinha)


08.05.22

Descia a calçada descalça

Dentro da sombra imanada da solidão,

Descia a calçada envenenada

Pelas rosas do meu jardim,

Descia a calçada descalça

Acompanhada pelo perfume do Verão,

Descia a calçada cansada,

Cansada de tanta paixão,

 

Descia a calçada das estrelas

Como se o sopro da manhã

Se levantasse do chão;

Descia a calçada madrugada

Enquanto o enforcado poeta

Escrevia na mão…

Enquanto a desgraçada calçada

Morria de paixão.

 

Descia a calçada descalça

A menina das planícies além-mar,

Trazia um barco suspenso na saia

E um marinheiro acorrentado aos lábios…

Descia a calçada descalça

A menina luar,

Sem perceber que esta calçada

É apenas um pássaro de voar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 08/05/2022

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