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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


19.04.15

A casa amarela


Dos segredos invisíveis


A impossibilidade de amar


Quando o vulcão da esperança


Em línguas de fogo


A aventura de cessar


Todos os prazeres da vida


Deixar de viver


Meu amor


Estando vivo


Deixarei de pertencer aos sábados melancólicos


Se me abraçares no espelho da paixão


 


Deixei de perceber o amor


E perdi-me no tempo


Não sei o que é amar


Quando amado fui


E amado não serei mais


As mãos


As tuas mãos pinceladas no meu corpo


A atmosfera embriagada das cancelas do amanhecer


O amor imperfeito


Ingénuo


Ambíguo…


Amanhã


 


Meu amor


Domingo


Sem sentido


Perdido


Eu


Nas tuas sombras de incenso


Pego nas tuas asas de papel


Escrevo uma mensagem


E voas


Como corpos em cinza


Levados pelo vento


Das tristes insígnias


 


Tenho medo


Meu amor


De amar-te


Quando percebi


Que não sei amar


Sou um imbecil


Um… um vulto de nada


À janela


Olhando a tua alegre beleza


Na escondida esplanada


Sentados


Brincamos às escondidas


 


Eu escondo-me


Tu escondes-te


… e ele


Eu


Escondido no teu peito


A masturbada cintilação


Das palavras em flor


Os livros comprados


Meu amor


As palavras penhoradas


Por ti


Quando a minha vida


 


Valia quase nada


Não tenho preço


Nem idade


Nem fotografia


Sou um triângulo apaixonado


Pelas janelas das equações diferenciais


O caderno


Em quadrados


O teu corpo


O meu corpo


Em pedaços de rectas


Sem destino


 


Tu


Ao acordar


A carta de despedida


Envidada


Do cansaço


Atravessava a eira


Sentava-me


Meu amor


Ouvia o sino de Carvalhais


Meu amor


Oito horas da noite


Vejo-a


 


Sinto-a


Quando a janela em liberdade


Me trazia o som das cigarras


Pensava em ti


Pensava na Teoria da Relatividade


Ai…


Meu amor


A saudade


Caminhava sobre o teu corpo de gesso


A iluminação da alegria


Hoje


Não


 


Meu amor


Hoje eu não te mereço…


Tenho em mim a tua morte


Sílaba apaixonada


Das pedreiras abandonadas


Vou


Não regresso


Meu amor


Aos teus braços


Sei que a noite me mantém vivo


Porque cerro os olhos


Pego numa tela vazia


 


E desenho o teu sorriso de granito…


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 19 de Abril de 2015


31.03.15

As línguas abraçadas no céu-da-boca


A chuva argamassada contra o silêncio nocturno


Em redor de dois corpos invisíveis


O prazer nas palavras


Saltitam enquanto folheamos um livro sofrido


Em lágrimas


Da morte inanimada


O Sol embrulhado dentro de quatro paredes


O tecto desce


Desce…


E tomba no pavimento lamacento de um dos corpos


O fim da tarde evapora-se


Nos lábios de um cigarro


Negro


Noite


Sombrio


Como os pássaros da minha aldeia


Subo aos teus cabelos


E sento-me nas avenidas envernizadas da madrugada


A cidade cresce


Os automóveis enfurecidos


Em raiva


Como os cães selvagens


Montanha abaixo


A ribeira espera-os


Como visitantes insignificantes


O sexo suspenso nos cortinados do desejo


Os gemidos


E as sílabas da saudade


Há no teu corpo


Vapor de água


E cristais de prata


A imagem das tuas coxas em finas lâminas de desassossego


O mar


O mar dentro de ti


Construindo marés de esferovite


E alguns sorrisos apaixonados pelo sono


Perdi-me neste tempo infinito


Quando ainda existiam equações de areia


No quadriculado olhar


Hoje


Sou uma caneta avariada


Que deixou de escrever palavras


Que…


Que tem uma lápide sobre a secretária


E uma fotografia


Húmidas vogais


Agarradas às escadas da paixão


Sem saberem que a morte


Não é a morte


Que o medo


Não é… o medo


Voar


Sofrer enquanto caminho sobre um arame


(sempre quis ser trapezista)


Artista de circo


Palhaço


Andante…


Sem nome


Quando acordo e sinto que estou vivo


A praia parece a eira de Carvalhais


Graníticas espigas de cio


Nas frestas do sonho


Oiço o sino da Igreja


Quase a desfalecer


Tensão alta


(dizem)


E nos teus cabelos


As luas de Saturno


Envergonhadas


E Titã…


Entre beijos e poeira…


  


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Terça-feira, 31 de Março de 2015


01.08.14

Tenho no meu peito um fóssil,


uma lâmina de aço laminado,


tenho no meu peito uma cidade, uma mulher que habita nessa cidade, uma lâmina...


que me estrangula, que me absorve,


e engole,


nas noites de Sexta-feira...


 


Há um triste olhar que me acompanha desde as ruas de Luanda,


olhava as sanzalas, inventava grãos de areia no Mussulo,


desenhava peixes nos machimbombos com coração de granito,


ouvia, às vezes, um grito...


e engole,


nas noites de Sexta-feira,


 


Há um apito quando oiço a voz do silêncio,


uma criança com mãos de sisal,


deitada na eira de Carvalhais,


tenho no meu peito um fóssil,


um lâmina de aço laminado,


uma luz esculpida na calçada do abismo...


havia entre nós um muro amarelo,


havia ao longe um rio embriagado,


eu, eu sorria,


eu, eu descia... até que os tentáculos do desejo me levavam,


e quando regressava,


o apito... apitava...


 


O vício vomitava sílabas com sabor a alumínio,


e eu, eu dançava sobre uma nuvem de nada,


que me estrangulava, que me absorvia,


e engolia,


nas noites de Sexta-feira...


… e percebia o significado de liberdade.


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sexta-feira, 1 de Agosto de 2014


07.06.14

Hoje, quero fugir,


esconder-me na sanzala da minha infância,


com os meus frágeis bracinhos, chapinhar nos charcos de areia,


hoje, hoje a noite parece um cortinado de incenso, ténue silêncio nos teus dedos,


faltam-me as palavras, faltam-me corpos para escrever as palavras,


de neblina, de pólen... corpos, de cera, de nada, apenas corpos sem significado,


hoje, quero fugir,


hoje, hoje pareço uma locomotiva galgando os campos de milho de Carvalhais,


apitos,


e gritos,


hoje,


hoje, os teus olhos incendiaram os meus lábios,


 


(palpita-me que hoje vais descobrir o texto invisível que esconde o meu peito)


 


Hoje, quero-te,


fugir,


alegrar-me com o teu sorriso de bambu,


afagar o mabeco desgostoso, cansado da vida, cansado... cansado destas palavras...


 


(Cansado da tua ausência, e não estás ausente, e não... e não hoje, por favor, hoje não, hoje não sonhos nos teus cabelos)


 


Hoje, quero fugir,


desenhar-te na minha boca,


hoje, esconder-me em ti,


como uma criança amedrontada,


triste,


com medo,


medo que do mar venha a sanzala da minha infância,


e me traga,


paciência...


porque hoje, hoje quero fugir,


e hoje quero-te em mim,


construindo círculos de preia-mar,


 


Hoje, quero-te,


fugir,


alegrar-me com o teu sorriso de bambu,


afagar o mabeco desgostoso, cansado da vida, cansado... cansado destas palavras...


 


(searas, margaridas, hoje todos me pedem as palavras que nunca escrevi)


 


E hoje, e hoje escrevo porque te vi,


e sem ti,


senti o luar poisar nos meus ombros,


senti o xisto dos muros caindo dos socalcos imaginários,


como os barcos de papel,


como os marinheiros de sisal,


enfeitados com plumas encarnadas e sorrisos de vodka,


e hoje, e hoje quero fugir,


aterrar num bar sem conhecer ninguém,


sem palavras,


sem... sem ti,


sentir o machimbombo da paixão em pequenos soluços,


 


(e nada como uma bebida com sabor a amar)


 


Um shot de AMOR!


Porque hoje quero fugir,


um shot de saudade,


porque hoje sem ti,


senti a tua fotografia na montra de uma livraria,


raios...


outra vez a poesia,


um shot, por favor,


um shot de alegria,


um shot para me recordar,


como eram lindos os teus seios de madrugada,


e hoje, hoje quero fugir,


 


(sem me preocupar com o amanhecer, sem me preocupar com nada).


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sábado, 7 de Junho de 2014


03.05.14



foto de: A&M ART and Photos


 


embainhas-te no meu corpo como uma bala perdida


há na tua mão a espingarda do desejo


oiço entre as sombras e os sons metálicos


pigmentos do teu olhar envidraçado na cidade do feitiço


às tuas pálpebras de pergaminho


vêm a mim as insignificantes flores da paixão


das tuas palavras


as lágrimas da solidão


sem medo


rompem a montanha das árvores de papel


há luz na cabana


e uma cama que nos espera...


 


(estarás vivo, meu poema de ninguém!)


 


há dentro de ti uma janela


um telheiro com odores de Carvalhais


um velho espigueiro aproxima-se do teu coração


e entre as frestas das ripas em madeira cansada...


os teus beijos


como nuvens de espuma


saltando


e brincando na eira


cruzo os braços


e espero o regresso do paquete teu corpo


há âncoras de sémen nas palavras da madrugada


e uma flor deita-se nos teus seios de silêncio.


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sábado, 3 de Maio de 2014


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