Não sei, meu amor,
Hoje, nada tenho a escrever-te de belo
A não ser que brevemente levantaremos voo rumo à Rua das flores,
Que neste momento já nem sei se o calor que entra mais
O calor gerado,
É igual ao calor que sai
Mais o calor acumulado,
Digamos…
Espera aí…
E se for o calor de uma abelha
Poisada nos teus lábios
Ser igual ao calor dos meus lábios
Mais o calor dos lábios da abelha,
Não, não soa bem...
Continuamos,
Mas o que eu queria era escrever-te algo de belo
Como um permutador de calor,
Só…
Numa sala escura
E sem janela para o mar,
Mas hoje,
Não, não consigo escrever-te nada de belo…
A não ser que…
Os teus olhos são a raiz quadrada de cento e vinte cinco,
Ou que o teu lindo sorriso é igual à massa vezes a velocidade da luz,
Ao quadrado…
Ao quadrado,
Então o teu lindo sorriso é tão infinito,
Tão infinito…
Como o Universo infinito que é,
De energia…
Mesmo assim, ainda não tenho palavras para escrever-te de tão belo…
Diria que,
Deus ao cubo,
Abraçado ao sonho…
É igual ao silêncio…
No silêncio a que me proponho…
Não,
Não é nada belo…
Como o é um reactor nuclear,
Uma chumaceira qualquer…
Ou simplesmente um parafuso em paixão,
Os segundos e os minutos correm…
Apressadamente para apanharem o cacilheiro até ao Vilarelho
Palavras para ti, meu amor, ainda não telho,
Preciso de palavras distintas,
Palavras belas,
Entre belas palavras,
Tais como…
Que no silêncio do teu olhar,
Destro silêncio em perfeita madrugada,
Sinto-me tão pequenino…
Tão misero como a constante de difusão,
Como as coisas da vida…
Quando da tua mão…
Acorda um beijo em papel,
Pincelado de encarnado,
Antes que desça sobre nós…
O Oceano que nos vai engolir no calor da noite,
E que sim,
(toda a plateia em pé,
Ele é louco
Ele é louco
Ele é louco
Ele é louco
Ele é louco…)
Mesmo assim, ainda não tenho para ti, meu amor, palavras belas…
Ou belas palavras
Ou cinzeiros de prata,
Ou tudo…
Ou nada,
E diria que…
Escrevia no teu corpo o mais belo e lindo poema de amor…
Mas que posso eu escrever…
Se neste momento não tenho palavras belas
Das belas palavras,
Para ti,
Escrevia no teu corpo…
Desejo, enquanto a lua pertencer ao silêncio dos Deuses,
Desenhava no teu corpo a paixão desconhecida…
De uma equação qualquer,
Assim…
Simples,
Simples como a vida,
Mas gosto mais de escrever,
Então eu escrevia no teu corpo,
Que o quero não como posse…
Mas apenas para o contemplar com as minhas mãos…
Quando o Sol se esquecer de acordar…
Mas preciso de palavras belas,
Para ti,
Mas hoje, meu amor,
Hoje não é dia de palavras belas,
Que o cacilheiro com destino ao Vilarelho está quase a chegar,
Fez uma curta paragem na rua da Costinha,
E eu, aqui sentado…
Acreditando…
Que quando terminar a noite…
Tenho as tuas belas palavras,
(que sou louco, pois, pois…)
O paquete que transportava os cereais…
Teve um pequeno percalço…
E poisou no aeródromo da Chã…
Em contrapartida,
O avião que transportava os permutadores de calor…
Atracou no cais do Pinhão,
Como vês, meu amor,
Não vês nada,
Como eu,
Mas o que eu quero,
São palavras,
Belas palavras,
Das palavras tão belas,
E continuando a escrever no teu corpo,
Admitindo que estou com uma pequena dúvida,
Pois não sei se tenho na cabeça mais poemas de amor para semear no teu corpo
Ou de que equações…
Sento-me…
E penso,
Deus vem ter comigo,
Troca comigo um abraço,
Peço-lhe um cigarro…
Que sim
Muito simpático… ele,
E talvez ele me ajude,
Pois ele é Deus,
E segreda-me ao ouvido…
Que as mulheres preferem palavras belas,
Belas palavras,
De que miseras equações de sono…
Deu é muito fixe…
Só que ele,
Que tudo sabe,
Nada sabe,
Pois estou aqui num profundo dilema…
Não tenho palavras belas…
Tão pouco belas palavras…
Para oferecer a uma Donzela,
E Deus…
Manda-me escrever no corpo dela…
Palavras,
Mas acredito,
Tenho fé em Deus…
Que até terminar a noite…
Terei as tuas belas palavras,
As tuas mãos são uma pequena jangada
Nas minhas mãos de nada,
(não, não…, isto ainda não é belo)
Que no teu cabelo,
Que no teu cabelo habita uma lágrima de luz…
À velocidade de trinta metros por segundo,
Diria então,
Que do teu cabelo…
Nascem pigmentos de silêncio-paixão…
Ou então…
Que na tua boca,
Existe um pequeno electrão,
E uma pequena nuvem de insónia,
(bravo, bravo…, pois claro…)
Mas acredito,
Tenho fé em Deus…
Que até terminar a noite…
Terei as tuas belas palavras,
Depois,
Alguém disse que a distância daqui até à lua
É igual à distância da lua até aqui,
E que sim, e que sim…
Mas quanto a Deus…
Fiquei-me apenas pelo cigarro emprestado,
Sim, emprestado…
Porque Deus não dá nada a ninguém,
Nem as tuas palavras,
Mas eu,
Eu precisava de palavras,
De belas palavras,
Das mais belas palavras do infinito Universo…
E de verso em verso,
Não, hoje não consigo escrever-te um lindo poema antes que termine a noite…
E me apeteça lançar da Torre Eiffel e voar sobre a tua sombra…
Ausento-me do teu doce olhar
Sabendo que sobre esta folha em papel
Há uma única palavra
Uma só palavra;
Amo-te.
Ainda não gosto,
Não, não são as tuas palavras,
Que dentro de um cubo,
Existe uma lâmina de desejo…
Pronta a dilacerar o perfume da tua pele…
(o tipo está doido…)
(bravo, bravo…)
(oiço toda a plateia em uníssono…
Um abraço,
Parabéns…
Nem anos faço, hoje…
Palermas)
Ausento-me do teu doce olhar
Na ânsia claridade da noite
Depois de descerem da montanha
Os pássaros das três grandes ribeiras…
E abraço-te com um beijo
Enquanto lá fora…
Lá fora…
Esperam-me…
Para me apedrejarem…
Ou levarem-me para o manicómio…
Prefiro ser cremado,
Numa linda manhã de nevoeiro,
Não sei, meu amor,
Hoje, nada tenho a escrever-te de belo
A não ser que brevemente…
Terei a solução da equação de Deus.
29/06/2023
Francisco