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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


30.09.22

Somos árvores que tombam no chão,

Somos o silêncio que rompe a madrugada,

Somos letra de canção,

E não somos nada…

 

Somos a guerra em poema,

Espelho no quarto abandonado,

Somos a voz em chama

Num corpo ancorado,

 

Somos árvores, somos a saudade…

Somos as lágrimas do mar,

Somos as ruas da cidade

 

Que a manhã alimenta,

Somos raiva, somos luar,

Somos esta triste pedra cinzenta.

 

 

Alijó, 30/09/2022

Francisco Luís Fontinha


29.09.22

Somos pequenos farrapos junto á lareira,

Inúmeras folhas amarrotadas,

Somos palavras,

Somos corpos em poeira,

Somos fotografias poisadas no nada,

Somos espelhos que habitam a noite cansada,

 

Abraça o teu filho

Enquanto o tempo te pertence,

 

Somos um rio sempre a correr,

Somos músicas das paisagens lunares,

Somos a maré e todos os mares…

Somos corpos a envelhecer,

Somos árvores que tombam no chão,

Somos guerra, somos canção,

 

Somos pedacinhos de mar,

Barcos aprisionados,

Somos esqueletos, uns amados, outros… desamados,

Somos livro, somos o silêncio de amar,

Somos nuvem, somos foguetão…

Somos pequenos farrapos na palma da mão,

 

E se não abraçares hoje o teu filho…

Amanhã, ele, pode ser apenas um pedacinho de saudade.

 

 

 

Alijó, 29/09/2022

Francisco Luís Fontinha


29.09.22

Converso com estes cadáveres em fotografia

Que durante a noite poisam sobre o meu peito,

Olho-os e percebo que são poeira

E que voam sobre o mar,

 

E que nos seus lábios

Transportam o Outono,

Converso e escondo as minhas palavras

Nas ardósias negras da manhã,

 

É tão triste,

Que os pássaros que deixaram de voar,

Hoje,

Sejam apenas sombras suspensas nas árvores da saudade,

 

Converso e sinto a luz que ilumina o sonho,

E estes cadáveres são pequenos nada…

Olha…

Nem flores conseguem ser,

 

Que depois de cadáveres…

Habitam nelas o lindo perfume da madrugada,

Nem pedras sabem ser,

Porque são apenas cadáveres em fotografia.

 

 

Alijó, 29/09/2022

Francisco Luís Fontinha


28.09.22

Deixo uma pequena lágrima

Em cada livro que leio,

Pinto uma pequena lágrima

Em cada sorriso que se alicerça ao meu olhar…

Deixo uma pequena lágrima

Em cada pedacinho de mar,

 

Deixo um pequeno olhar

Em cada manhã, em cada tarde, em cada noite de mim…

Deixo uma pequena lágrima nas palavras que escrevo,

Nas paredes invisíveis que desenho,

Deixo um pequeno olhar

Na sombra diáfana do luar,

 

E de lágrima em lágrima,

De olhar em olhar…

Há uma pequena lágrima em saudade,

Que grita e se revolta,

Há um pequeno olhar em liberdade,

Que habita e se abraça aos pássaros nocturnos da insónia.

 

 

 

Alijó, 28/09/2022

Francisco Luís Fontinha


27.09.22

O frio gélido do Inverno entranhava-se nos ossos famintos que tínhamos transportado de além-mar, as escadas, graníticas e autênticas, durante a noite, vestiam-se de uma fina película de gelo e pela manhã, quando queríamos sair do cubículo, dançávamos como se fossemos bailarinos duma qualquer companhia de bailado em digressão pela província.

Ele, chorava.

As janelas, com vista directa para o chafariz, embrulhavam-se no vento, os farrapos a que a minha mãe apelidava de cortinados, voavam e, em pequenos círculos, como se as tempestades percebessem de geometria, quase que desciam ao rés-do-chão e acabavam por se deitar no pavimento constipado em frente à farmácia; nunca entendi o que pensavam os cortinados, nunca entendi porque estavam tristes os cortinados do nosso cubículo, apenas sabia que as janelas tinham mais aberturas do que vidros.

Ela, chorava.

No final da tarde, sentado na velha varanda que ainda hoje existe e de boa saúde, contentava-me em contar o número de carros que rua acima, rua abaixo, passeavam em pequenas sombras e tirando a rouquidão de um ou de outro, o silêncio era absoluto.

Comecei a inventar sonhos.

Comecei a inventar sonhos e pequenas marés de mar.

Nós, chorávamos.

Mas eramos muito felizes… e foi nessa altura que comi o melhor peixe do rio assado no forno até hoje, na tasca junto á fonte da Gricha.

E se eu pudesse, voava…

Voava como voam os pássaros dos sonhos.

 

 

 

 

Alijó, 27/09/2022

Francisco Luís Fontinha

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