Senta-te aqui.
Escreve em mim
As palavras que não ousas escrever,
Silencia-me os números
Que jazem nas minhas mãos,
E
Apenas servem para comer,
Descendo a montanha,
Dormirem junto a ti,
Dentro do mar.
Senta-te e olha-me.
Desenha em mim
A fotografia prateada da saudade,
De cabelos soltos ao vento,
Desenha em mim a triste madrugada…
Deixa estar; fica, fica aqui sentada,
E,
Desenha em mim,
(com o lápis da verdade)
O doce alegre alento.
Senta-te aqui!
Declama as minhas palavras amargas e distantes,
Quando o meu corpo falecer,
Quando o meu corpo deixar de escrever,
Escrever cartas para amantes.
Senta-te e não me odeies pelas canções envenenadas,
Pelas palavras ensanguentadas,
Que deste livro emergem e acordam,
Acordam sem acordar, sentando-se nos olhos que não choram.
São as lágrimas do senhor,
São as rosas do teu olhar,
São saudade, são flor,
Flor silêncio de mar.
Senta-te aqui e divide este triângulo louco,
Divide-o em pedacinhos amanhecer,
E,
E de tudo um pouco,
Não te esqueças de me escrever.
Levanta-te corpo abandonado,
Palavra em delírio na madrugada,
Levanta-te, levanta-te poeta enforcado,
Enforcado na calçada.
Senta-te.
Escreve em mim
As palavras que não ousas escrever,
Desenha em mim as circunferências da dor,
Palavras, beijos de amor,
Que não sabem viver,
Que detestam brincar,
Traz-me as rosas, meu amor,
Traz-me as rosas de amar,
Aquelas que habitam o teu sorrir,
Traz-me as rosas, traz-me as rosas sem as partir,
Partir,
Partir junto ao mar.
Senta-te aqui,
Pequenina luz de saudade,
Cabelo branco, voz rouca e pálida, cabelo pouco,
Pouco como estas palavras de dizer,
Senta-te aqui, pequenina saudade,
Sem medo de viver,
Viver sentada,
Aqui sem dizer,
Dizer e querer,
Querer regressar,
Sem o saber,
Saber amar.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 05/12/2021