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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


31.01.20

O suspiro da noite, enquanto a morte vagueia nas sílabas loucas da paixão.


O silêncio das palavras, perdidas nos livros invisíveis da solidão,


Um poema chora,


Alicerça-se na confusão da cidade,


Soltam-se todos os caninos vadios,


Correm em direcção ao petroleiro estacionado junto ao Tejo,


E, um soldado, procurando alimento, senta-se na sombra da neblina.


Todos os pássaros são felizes, ainda que sejam transparentes,


Nas paredes de xisto,


Olhando o Douro,


Desenhando socalcos no bico;


A jangada, afunda-se, como a mão do mendigo,


Quando fundeada na sopa trazida pela tempestade.


Chove, ouvem-se os ruídos da manhã,


Automóveis esfomeados levitam sobre as palmeiras,


Os transeuntes sofrem de pasmo,


Riem, como loucos,


Dentro de quatro paredes de vidro.


O suspiro da noite, sempre em alerta máximo,


Esconde as palavras na algibeira,


E bebe pequenos tragos de nada.


Hoje é sexta, noite como tantas outras,


Não interessa,


É noite, é triste a noite, quando se despede da tarde.


Os amantes fogem como fogem os mortos da sombra,


De roupa engomada, os tristes mortos, riem-se do silêncio amargurado que transporta o desassossego,


Tenho medo, dizia-me ele, quando acordava olhando quatro janelas de cartão,


Perdia-se na imensidão do espaço,


Cansado da vida,


Cansado da noite;


O suspiro. O suspiro da noite.


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


31/01/2020


29.01.20

Todas as coisas, possíveis, impossíveis,


Acontecem quando nasce em mim a noite.


O corpo range de sono, perco-me nas palavras da saudade,


Quando regressa a madrugada,


E, todos os pássaros voam em direcção ao mar.


Um barco chilreia, voa sobre o jardim das cantarias,


Flores dispersas, como mendigos apressados,


Brincando na eira,


Olham o cereal,


Deitam-se no chão,


E, sonham com o luar.


Todas as coisas,


Infinitas, finitas, nas mãos de Deus.


Um esqueleto de silêncio vagueia nas pálpebras da insónia,


Morrem as pedras do meu pobre jardim,


Levantam-se as migalhas da fome,


Quando um carnívoro de sombra, às vezes cansado, levita na escuridão da solidão.


Tenho fome;


Tive pai, mãe, e, nada mais…


Agora, tenho a floresta,


Os papagaios em papel, de três cores,


E, num pequeno caderno quadriculado, invento o sonho,


Imaculado, distante, ausente,


Como todas as coisas,


Possíveis, impossíveis.


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


29/01/2020


26.01.20

As árvores deste jardim cansado,


Onde adormece o silêncio das palavras assassinadas por mim,


Há um luar desiludido,


Que grita às planícies do alecrim,


O poema desejado,


Entre versos e ossos embalsamados,


Vem a esta casa, o miúdo perdido,


Das montanhas húmidas,


A voz que alicerça a fome,


A rua que limita o olhar,


Sem nome,


Sem mar,


As árvores distintas dos pássaros, o medo de dormir,


Numa cama de pétalas encarnadas,


Nas veias, o orgasmo do cobalto,


A madeira envernizada,


Porque as lágrimas,


No rosto se perdem,


E fogem para o triste adormecer,


O vulcão quase a vomitar palavras de nada,


Sempre em alerta, sempre abandonada,


A casa,


O ódio madrugada da vida,


Entre correr,


Entre morrer,


Simples, assim,


Simples, simples, nada esquecer.


O mendigo que corre na calçada,


Desejado por uns, amaldiçoado pela namorada,


Escreve-me,


Oiço-o,


Na alvorada.


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


26/01/2020

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