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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


24.02.18

O corte das palavras,
A garganta dilacerada pela imensidão do poema,
Quando os olhos da lua se cerram e dormem,
As cidades invadem os livros,
O projecto nasce na tela branca da solidão,
A água que se mistura no cotovelo das esplanadas de Verão,
E os incêndios nas mãos do poeta,
Uma caneta foge,
Abandona a casa dos espíritos,
Junto ao rio…

Amar-te paras quê? Se as minhas palavras são de aço,
Enferrujam os frágeis dedos de porcelana,
Quando da noite regressa,
E abraças a minha cama,

Lisboa em chamas,

As ruas desertas, os peixes cansados das paredes infestadas de ratos de papel,
A minhoca perfurando a terra, seca, cálida…

O corte das palavras,
A música perplexa nos confins da montanha,
Escrever-te? Amar-te?

Se o cupido morreu no meu olhar,
Numa noite de saudade,

Junto ao rio…

Abraças a minha cama!



Francisco Luís Fontinha
Alijó, 24 de Fevereiro de 2018


11.02.18

Que seja hoje o teu último dia na minha mão.


Este meu corpo cansado das Avenidas embarcadas,


Quando junto ao rio uma nuvem de noite me absorve, alimenta e mata.


 


O regresso.


 


Que seja hoje o teu último momento,                                        


Nas palavras assassinadas da madrugada,


O cão,


O cão que vive nesta casa e se alicerça aos corredores a preto-e-branco,


Sem nada,


Sema nada.


 


O regresso.


 


Que seja hoje o teu último suspiro,


Nos meus lábios embainhados de serpentes…


 


Não mentes,


 


Do regresso,


 


Onde tudo sentes.


 


 


 


Francisco Luís Fontinha


Alijó, 11 de Fevereiro de 2018


10.02.18

As palavras sofridas da paixão,


As estrela perdidas,


No céu da solidão,


 


Cansadas minhas mãos de sangue,


Caminhando no teu corpo de pele poema…


 


A cama,


Dispersa na montanha,


Os dias não passados,


Quando no teu olhar acorda a noite dos sentidos,


Perdidos,


Todos os meus livros,


 


 


Francisco Luís Fontinha


Alijó, 10 de Fevereiro de 2018


04.02.18

Semeei o teu corpo numa jangada de vidro,


Vi partir o teu corpo em direcção ao mar,


Levavas os livros, levavas as memórias das noites perdidas,


E os sonhos vividos,


Semeei o teu corpo pensando que um dia adormecerias em mim…


E da tua partida,


Pela madrugada,


Algumas nuvens brincando na alvorada,


Palavras imensas, palavras dispersas em ti como um grito de alegria,


Hoje pertences às sombras do infinito,


Argamassadas no sombreado jardim de pedra,


E, no entanto, meia-hora depois, sentia o teu rosto na minha mão.


Ninguém apareceu à minha partida, fui só, apenas eu…


Como nas noites junto ao rio,


Perdidamente angustiado na solidão dos dias,


Escrevia no chão a revolta da doença,


Lançava lágrimas na escuridão,


Pobre, sem-abrigo, neste corredor de lume,


A lareira também ela, doente, infeliz e triste,


A cinza, o silêncio das fotografias, que poisavam no teu olhar.


As mãos trémulas, as mãos cansadas como pedras…


Fundeadas nos teus cabelos.


A noite, meu amor, a noite mergulhada na madrugada,


O metro entre curvas e pingos de luz, deixando a terra, caminhando para o horário nocturno das sanzalas de ninguém,


Em foco, as luzes que te incendeiam os lábios, em cada beijo,


Uma cansada palavra.


 


 


Francisco Luís Fontinha


Alijó, 4 de Fevereiro de 2018

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