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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


24.04.16

Sou um miserável.


Não tenho mulher com quem conversar,


Filhos para brincar…


Apenas livros, muitos, hoje recordei pela última vez o teu rosto,


Estas linda, como sempre,


Felicitavas-te com o miserável que sou eu,


Acredita, meu amor,


Queria ser uma abelha,


Livre,


Voar sobre os canaviais do desejo,


Como um miserável magoado pelo tempo,


Estou velho, só, apenas com alguns muitos livros…


Onde está a saudade?


O limiar da ausência,


As finas cortinas do amanhecer voando nos teus lábios.


Sou um miserável,


Não tenho mulher com quem conversar,


Apenas livros, mortos, esqueletos de sangue…


Eu morreria,


Na tua mão.


 


Francisco Luís Fontinha


domingo, 24 de Abril de 2016


23.04.16

Os poemas perdidos, a noite incendeia a solidão do corpo enquanto lá fora o silêncio da morte acorda os pedestres rochedos da insónia.


Desço às profundezas do rio, toco na sua boca como se alguém me empurrasse para a escuridão, feliz aquele que vive só, sem ninguém,


Os poemas perdidos que invadem a tarde junto ao mar, lá longe, os sifilíticos segredos da esperança, perdidos, as palavras, os sons e a melódica tempestade dos guizos,


Perdidos.


Os poemas na minha mão caminhando sobre as areias finas do desejo,


Invento crianças que brincam nos quintais de espuma,


Marés de incenso sobre a secretária desarrumada,


Milímetros quadrados de nada, de ninguém, que só os muros da geada conseguem atravessar, tenho pena do coração da Primavera; triste.


Como eu,


Triste


Nos poemas perdidos,


Amanhã renascerá uma estrela no meu peito e o meu corpo transformar-se-á em lâminas de prazer, amanhã terei os poemas perdidos fora do livro, esqueléticos casebres das montanhas de neblina, rios que invadem a cidade e trazem a morte, dos poemas, e dos livros com poemas,


Triste,


Os poemas perdidos quando incendeiam os dedos amachucados pelos cigarros em despedida,


As fotografias dentro de uma caixa de cartão à espera de serem resgatadas pelas palavras dos poemas perdidos, sem ninguém, procuro nela o meu rosto de infância, imagino-me a olhar os barcos entre apitos e partidas, e o medo absorve-me…


Deixo de ver a cidade, dou-me conta em pleno Oceano, sinto o cheiro das gaivotas percorrendo os trilhos do sono, e dos poemas perdidos…


O sangue que corre nas minhas veias, os dias iguais às noites, as noites iguais às sílabas de luar quando olho pelo camarote um finíssimo fio de nylon que me acompanha até ao meu regresso,


Despeço-me dos poemas perdidos,


Despeço-me da aldeia onde nasci e abraço uma Lisboa camuflada pelas âncoras do Tejo, os caixotes em madeira presos aos meus pés, sem nada, apenas tarecos, apenas pequeníssimas coisas sem nexo,


Os poemas perdidos,


Despeço-me,


Deles, delas…


 


Sem perceber que os poemas perdidos nunca existiram em mim.


 


 


Francisco Luís Fontinha


sábado, 23 de Abril de 2016


21.04.16

A voz silenciosa da montanha


Montanha envergonhada


No luar.


A voz alicerçada dos mártires que o vento leva


Leva o assobio melódico da Primavera apaixonada


Nos rochedos de chorar.


Cansada.


A voz esconde-se na planície do amanhecer


Amanhecer largando a esperança


Na cidade embriagada.


A voz do meu corpo camuflado pelas roseiras


Roseiras de rosas amarelas à nascença


A voz… a voz triste da alvorada.


Cansada.


A voz silenciosa da montanha


Montanha meu leito


Que regressa à noite a chorar.


A voz maltratada pela floração do meu jardim


Jardim onde habito sem jeito


E espero pelo mar.


Cansada.


 


Francisco Luís Fontinha


quinta-feira, 21 de Abril de 2016


20.04.16

Sou a árvore sem medo de acordar


Sou o fruto proibido em cada amanhecer


Sou o silêncio do teu olhar


Nos dias de envelhecer


Sou a árvore da alegria


E a sombra da melodia


Sou a árvore “saudade”


Para recordar este dia


E nunca esquecer


A mulher da minha vida…


 


Francisco Luís Fontinha


quarta-feira, 20 de Abril de 2016


19.04.16

A ponte desesperada.


O silêncio amargurado das velhas esplanadas


Caindo do Céu como serpentes de aço


Voando sobre o cansaço


Das velhas madrugadas,


Morro de medo que apareça a tua mão no meu peito,


Fico sem jeito


E deixo de sentir a alvorada,


A ponte desesperada,


A ponte enigmática sobre o rio da solidão,


O peito na mão


Sem mão,


Esperada vaidade dos alicerces da cidade,


A ponte, desesperada; a infinita sombra do sufoco,


A chuva dos dias envergonhada pelas cintilações do medo,


E eu, e eu vou partir.


Vou deixar este caderno e esta esferográfica de carvão…


O meu testamento,


A minha vontade,


A garganta desafinada


Quando desce sobre mim a brisa do amanhecer,


Sinto o frio da saudade,


Sinto o calor do desejo


Na espuma dos dias ambíguos,


Ausentes de mim.


Atravesso o desassossego.


Morro enquanto lêem o poema da tristeza


Que atravessa a ponte


Dos transeuntes embriagados,


Sinto o fumo do teu corpo


Neste velho sótão sem nome,


Ao longe vejo a ponte desesperada,


E tal como eu, em frente ao espelho, também um desesperado apaixonado,


Um velho caixão de sombra


Descendo a calçada da morte,


Então a ponte está desesperada?


Ponte. O desespero da carnificina dos cadáveres cerâmicos,


Cacos, pedacinhos de algodão


Rompendo pelo sótão adentro.


A ponte desesperada,


O silêncio na ponte


Enquanto o meu corpo sente…


O desespero da ponte.


 


Francisco Luís Fontinha


terça-feira, 19 de Abril de 2016

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